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Adesão à greve de caminhoneiros é incerta


O movimento dos caminhoneiros, que prometem nova greve para esta segunda-feira, está sendo ampliado com o apoio de grandes centrais sindicais. Organizadores atribuem o aumento da pressão à falta de avanço da agenda estabelecida desde a paralisação de 2018 e à frustração com o governo do presidente Jair Bolsonaro. Ainda assim, o tamanho da adesão à paralisação é incerto. Nem os líderes do movimento fazem estimativas.

A nova paralisação prevista para hoje foi convocada oficialmente por três entidades do setor de transporte - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) - com respaldo de grandes centrais sindicais como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) e Força Sindical.

Ao Valor, organizadores afirmam que a greve começa hoje e tem duração indeterminada, podendo se arrastar até que o governo aceite negociar temas como a política de preços de combustíveis da Petrobras e um piso mínimo para o frete rodoviário. Contudo, não há consenso entre os vários representantes do setor sobre se este é o momento adequado para esse tipo de estratégia.

“A greve geral vai começar e não tem hora para terminar”, diz Carlos Alberto Litti Dahmer, diretor da CNTTL. “Mas é muito difícil expressar um volume por conta da natureza do negócio de cada um. O caminhoneiro, pela sua condição de autônomo, determina o seu rumo. É a definição de um a um.”

Segundo Litti, em meio às sucessivas altas nos preços dos combustíveis nos últimos meses, o objetivo principal da paralisação é expor ao governo o descontentamento da categoria com a política de preços da Petrobras e com a gestão da estatal.
Porém, outras pautas impulsionam a manifestação, como uma aposentadoria especial para a classe a partir de 25 anos de contribuição.

“Quando sobe [o preço do] combustível, sobem todos os insumos do caminhão e também os preços para a nação brasileira. Aumentam os remédios, gás de cozinha, gasolina. É tudo uma conjuntura”, afirma Plínio Dias, presidente do CNTRC.

A ampliação do movimento ocorre porque a agenda estabelecida em 2018 para negociação entre governo e a categoria não avançou, afirma o presidente da Abrava, Wallace Landin, conhecido como Chorão.

“O movimento cresceu, pois [o presidente Jair] Bolsonaro, em quem votei, não cumpriu promessas de campanha e se voltou mais para o empresariado e porque a agenda de 2018 não avançou”, afirma. “É nesse contexto que estamos tentando unir associações, cooperativas, sindicatos.”

Das três associações que lideram a convocação da greve, a mais tradicional é a CNTTL, fundada em 1989 e mais ligada à CUT. Já a Abrava, comandada por Chorão, que ascendeu como liderança na paralisação de 2018, surgiu em 2013. O CNTRC foi criado em 2020.

Algumas das que se sentaram à mesa com o governo Temer, como a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), a Confederação Nacional do Transporte (CNT) e a Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Cargas em Geral do Estado de São Paulo (Fetrabens), não apoiam a paralisação convocada para segunda-feira.

Em nota, a CNT disse que o seu presidente, Vander Costa, reuniu-se com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, para debater a segurança do transporte de cargas no Brasil em uma eventual paralisação dos caminhoneiros autônomos. Até esta sexta-feira, o posicionamento da entidade era de que “as transportadoras não irão parar e não haverá desabastecimento”.

A CNTA esclareceu que não participou de nenhuma assembleia referente à paralisação de segunda-feira e não apoia o movimento.

A Fetrabens critica a greve convocada para segunda-feira. “É furada. O nome ‘caminhoneiro’ está sendo usado para muita coisa. É uma categoria com muito cacique e pouco índio”, disse Norival de Almeida Silva, presidente da Fetrabens e presidente do Sindicato dos Caminhoneiros de São Paulo (Sindicam-SP). “Muita gente que ganhou notoriedade no WhatsApp quer aparecer, fazer política. Mas este não é o momento.”

Para Silva, as chances de a paralisação se estender por vários dias como aconteceu em 2018 são pequenas. “Na época, todo mundo estava aprovando a iniciativa. Agora, a população não está abraçando”, diz. Ele acrescenta que a paralisação pode causar novo desabastecimento e acabar piorando a situação da população, que ficará sujeita à escalada de preços.

Já o deputado Nereu Crispim (PSL-RS), presidente da Frente Parlamentar Pró-Caminhoneiros, acredita que o movimento convocado para segunda está mais forte do que em 2018.
“Antes o movimento era um projeto de direita [de apoio ao então candidato Jair Bolsonaro]. Hoje não tem nenhum tipo de tendência política”, argumenta o deputado Nereu Crispim (PSL-RS), presidente da Frente Parlamentar Pró-Caminhoneiros. “Apoiar a reeleição de Bolsonaro está fora de questão. Não vamos ser bucha de canhão para atentar contra as instituições e o sistema democrático brasileiro.”

Autor/Veículo: Valor Econômico
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