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Bolsonaro diz que vai tentar aumentar isenção do IR para R$ 3 mil até 2022

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que vai tentar aumentar a faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para R$ 3 mil até 2022. Ele fez a promessa durante transmissão ao vivo em suas redes sociais.

Atualmente, o limite de isenção é de R$ 1.903,98. Ao argumentar que tentaria aumentar a faixa de isenção, Bolsonaro lembrou a declaração que dera na semana passada, dizendo que "o Brasil está quebrado" e que ele não consegue "fazer nada".

Na ocasião, diante de apoiadores, deu como exemplo sua dificuldade de cumprir a promessa de aumentar faixa de isenção para R$ 5 mil. Nesta quinta-feira, o presidente culpou a pandemia pelo compromisso não cumprido:

— Gostaríamos de passar pra R$ 5 mil. Não seria de uma vez, mas daria para até o final do mandato fazer isso. Não conseguimos por causa da pandemia. Nós nos endividamos em mais R$ 700 bi, não deu pra atender. Vamos ver se para o ano que vem pelo menos passe de R$ 2 mil para R$ 3 mil.

Durante a campanha eleitoral de 2018, o presidente prometeu isentar o IR de quem ganha até R$ 5 mil. Hoje, o limite de isenção é de R$ 1.903,98. No fim de 2019, propôs uma elevação para R$ 3 mil, mas o plano não foi adiante.'Receita tira com uma mão e dá com a outra'

Para Bolsonaro, o aumento da faixa de isenção até ajudaria a Receita Federal a gerenciar a arrecadação.

— Até ajuda, no meu entender, a Receita a ter menos “clientes”, porque recebe com uma mão e, em alguns meses, entrega com a outra.
Bolsonaro aproveitou a live para rebater algumas críticas de que não estaria cumprindo as promessas de campanha. Ele repetiu que a promessa de correção da tabela do IR seria cumprida se não fosse a chegada da pandemia do coronavírus.

— Não é não estar cumprindo compromisso de campanha. Era compromisso, ia ser cumprido e aconteceu algo anormal. É você querer comprar um carro, mas alguém da família fica doente. Você não compra mais o carro, ou vai deixar o parente morrer por causa disso aí?

Guedes continua o 'Posto Ipiranga', diz
Bolsonaro relatou que tem conversado com a equipe econômica sobre o tema e ressaltou que o “Posto Ipiranga” é o ministro da Economia, Paulo Guedes:

— Tenho falado que não sou economista, todo mundo sabe disso, o Posto Ipiranga é o Paulo Guedes, mas tem um detalhe: todo mundo que ganha R$ 3 mil por mês que desconta um pouco do Imposto de Renda dá em torno de R$ 28 bilhões por ano, mas no ano seguinte quase tudo é ressarcido. Então jogo contábil de um ano pro outro.

Redução de tarifas
Na mesma transmissão, o presidente anunciou que vai zerar as tarifas de importação de pneus. Bolsonaro afirmou que decidiu tomar a medida para auxiliar a situação dos caminhoneiros.

— A tarifa de importação de pneus tá em torno de 16%, conversei com Paulo Guedes, vamos zerar, a semana que vem deve estar zerado a tarifa de importação de pneus para nossos caminhoneiros, que passam dificuldade, que tem problemas com frete.

Além dessa redução de tarifas, o presidente disse que os pedágios da Rodovia Presidente Dutra, principal via que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, devem diminuir os preços em 30% com a mudança de concessão.

— Vai ser mantido as quatro praças de pedágio e vai diminuir em 30% o valor do pedágio. Isso é pensado no caminhoneiro. Porque o caminhoneiro não é um caminhoneiro. O que ele transporta, se ele paga um pedágio mais caro, o que ele transporta fica mais caro na ponta da linha.

Agenda liberal frustrada
Eleito com um programa econômico liberal e reformista, Bolsonaro não conseguiu aprovar reformas estruturais para além das mudanças nas regras de aposentadoria, em 2019.

Rusgas entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) não contribuíram.

O presidente também tem tido dificuldades para fazer privatizações e controlar as contas públicas, cujo déficit foi agravado pelos gastos para o combate à pandemia, que já matou mais de 196 mil pessoas no Brasil.

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Faltam recursos para investir em obras públicas, outro plano que enfrenta limitações para sair do papel. Empresários e investidores cobram uma agenda clara do governo sobre sua estratégia para recuperar a economia em 2021.

O GLOBO ouviu economistas sobre a declaração de Bolsonaro sobre o Brasil estar quebrado.

- Não dá para dizer que o Brasil está quebrado. O país vive uma situação de crise fiscal grave, que pode levar à insustentabilidade da dívida pública. Mas está longe de estar quebrado - afirmou o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega.

Para Armando Castelar, pesquisador do Ibre/FGV, o próprio Bolsonaro dificulta a criação das condições para cumprir suas promessas ao criar despesas distantes das prioridades de seu discurso eleitoral e não empreender um programa de corte de despesas:

- Felizmente, não, o Brasil não está quebrado. O presidente disse que está sem recursos para aumentar a isenção do Imposto de Renda, mas vimos o dinheiro indo a para estatal da Marinha e para outras coisas. O dinheiro não dá para chegar no lugar da fila de prioridades na qual o presidente colocou a isenção do IR. Outras prioridades foram escolhidas pelo presidente.

Autor/Veículo: O Globo
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