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'Caminhões no Brasil são velhos e ineficientes'

Os olhos de Gustavo Couto brilham quando ele fala dos números do Grupo Vamos, do qual é CEO. A empresa, criada em 2015 para centralizar as operações de locação da JSL, faz parte da Simpar e abriu o capital na Bolsa de Valores no dia 3 de janeiro de 2021. Nove meses depois, a receita havia crescido 85% e o lucro líquido, quase 130%. Com isso, foi possível antecipar a oferta de mais ações ao mercado. Segundo Couto, isso é resultado de apostas feitas ao longo de 2020 e 2021, que incluíram a compra de concessionárias de máquinas agrícolas, grandes lotes de caminhões novos e da empresa de empilhadeiras HM. Ele recebeu o Estadão no escritório da companhia, na zona sul da capital paulista, horas antes de pegar um voo para uma breve viagem de férias com a família.

Como foi o ano de 2021 para o Grupo Vamos?

Foi muito importante na história da Vamos. No dia 2 de janeiro, estreamos na Bolsa. Com isso, passamos a operar em outro patamar e pudemos acelerar nossos planos. Alguns setores, como o e-commerce e o agronegócio, cresceram muito e demandaram mudanças no tipo de produto que a gente oferece. Houve avanços não apenas no modelo de locação, mas também no movimento nas nossas concessionárias. Adquirimos as da (marca alemã de máquinas agrícolas) Fendt. Na construção civil, houve forte aceleração dos investimentos em infraestrutura, que é algo muito importante para o País. Assim, crescemos também na locação de máquinas da linha amarela. Nos primeiros nove meses, a receita cresceu 85% e o lucro líquido, quase 130%. Com isso, antecipamos o plano de follow on. Ou seja, no mesmo ano fizemos o IPO da companhia e uma oferta de novas ações. Estamos olhando para 2022, porque a gente sabe que é importante iniciar o ano novo com um balanço robusto. Temos um caixa bastante sólido, que vai permitir honrar nossos compromissos de curto e médio prazos, além de manter, e até mesmo acelerar, nosso ritmo de crescimento.

Qual é a sua expectativa em relação a 2022?

A Vamos tem um posicionamento único no mercado, porque reúne três grandes unidades de negócio. A de locação tem 25 mil equipamentos alugados após a aquisição da HM. A segunda, de concessionárias, tem 50 lojas de veículos, incluindo as que atendem o agronegócio, como as das marcas (de tratores) Valtra e Fendt, além da linha amarela, sobretudo no Centro-oeste. A terceira, do setor de seminovos, é a maior do Brasil. Esse canal permite escoar os equipamentos que estavam locados e foram desmobilizados. E também trabalha com a compra e venda de ativos. Os contratos de locação têm duração de cinco anos ou mais. Isso garante bom nível de previsibilidade. Em 2020, compramos os equipamentos, caminhões e máquinas que iríamos alugar em 2021. Focamos o Centro-oeste, que cresce bastante e vem investindo na ampliação da área de cultivo e plantio, graças ao bom preço da soja, milho e algodão. Na construção civil, as máquinas compradas em 2021 vão atender as demandas previstas para 2022. Uma das áreas em que o Brasil mais avançou nos últimos anos é a de infraestrutura. Estamos muito satisfeitos e felizes com isso. São investimentos de longo prazo. Portanto, vão estimular o crescimento da economia e serão importantes para garantir o desenvolvimento do País nos próximos anos.

A procura por locação de caminhões e máquinas continuará crescendo?

Costumo dizer que quem faz conta não compra, aluga. No Brasil, há uma frota de 3,2 milhões de caminhões com idade média de 21 anos. É uma das mais antigas e ineficientes do mundo. Caminhão velho gasta mais combustível, gera mais poluição e maior risco para os motoristas e a sociedade como um todo. Isso sem falar da baixa produtividade. A locação permite renovar a frota alocando menos capital, deixa o balanço da empresa mais leve e permite que o empresário foque o negócio dele. Dependendo da operação, a redução de custos chega a 30%. Apenas 1% da frota brasileira de caminhões é alugada. Nos Estados Unidos, são 25% e na Europa varia de 20% a 25%. Há muito espaço para crescer no País.

Os empresários entendem a importância de renovar a frota e buscar alternativas aos motores a diesel?

Se desse para trocar toda a frota antiga de caminhões do Brasil pela da Vamos, que tem menos de dois anos de uso, a redução do volume de poluentes lançado na atmosfera seria de mais de 90%. Então a gente trabalha para viabilizar a modernização da frota também com esse olhar. Estamos na vanguarda ao oferecer veículos movidos a biogás, gás natural e eletricidade. Por ser mais barata, a locação pode contribuir para isso. Já há clientes alugando tanto veículos elétricos quanto a gás. Porém, esses caminhões ainda são muito caros, sobretudo os elétricos. Estamos acompanhando o desenvolvimento da tecnologia e da infraestrutura para adotar e viabilizar esse tipo de solução.

O que o governo deveria fazer para fomentar o setor e a economia como um todo?

Prefiro não falar de política ou de aspectos que estão fora do nosso controle. Seja como for, desejamos que haja mais diálogo e estímulo à economia para que a gente possa continuar investindo e ajudando empresas e clientes sobretudo na recuperação de empregos. É preciso que haja diálogo e harmonia entre os poderes. Assim, a iniciativa privada continuará a acreditar e a apostar no País. O que temos de fazer é arregaçar as mangas e trabalhar.

Se pudesse mandar um recado ao Gustavo que se formou em 1998, qual seria?

Tenho muito orgulho e muita alegria da minha trajetória, da família que eu formei e de onde vim. Meus pais têm origem humilde, trabalharam muito e me deram uma criação muito boa. Tive sorte de encontrar pessoas boas, que compartilhavam dos mesmos valores que aprendi com meu pai e minha mãe. Então eu diria: “Continue se cercando de pessoas que tenham os mesmos valores que você e te complementam, porque é isso que faz a gente se desenvolver como pessoa e como profissional. •

“Nos primeiros nove meses de 2021, a receita cresceu 85% e o lucro líquido, quase 130%. Com isso, antecipamos o plano de follow on.”

“A locação permite renovar a frota alocando menos capital. Dependendo da operação, redução de custo chega a 30%.”

Autor/Veículo: O Estado de S.Paulo
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