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Cenário volátil tem derrubado promessas feitas pelo Banco Central para a política monetária

Ao fim da reunião do Copom de hoje, o Banco Central terá a chance de mostrar que aprendeu com um erro que vem se repetindo com frequência na atual gestão: fazer declarações peremptórias sobre os passos seguintes da política monetária para, num curto espaço de tempo, ter de voltar atrás na sua palavra.

A mais recente promessa, de que o ciclo atual de aperto monetário iria acabar nesta reunião do Copom com uma alta dos juros em 1 ponto porcentual, para uma taxa Selic de 12,75%, não deve – ou, mesmo, não pode – ser cumprida sob o risco de o BC perder o controle das expectativas inflacionárias, as quais se afastam cada vez mais das metas deste ano e de 2023.

Copom
Reunião do Copom termina hoje; desde a última reunião em março, o cenário mudou desfavoravelmente. Foto: Beto Nociti/Banco Central
Desde a última reunião do Copom, em março, quando sinalizou que neste mês aconteceria a derradeira elevação da Selic, o cenário mudou desfavoravelmente: a inflação corrente surpreendeu bastante para cima, o dólar voltou para o patamar de R$ 5,00 e o petróleo engatou nova subida.

Na ocasião, o Copom lançou mão de um “cenário alternativo”, no qual a sua projeção de inflação para 2023, hoje o horizonte relevante para a política monetária, ficaria em 3,1% (abaixo da meta de 3,25%). Esse cenário leva em conta a curva futura de mercado para o preço do petróleo até o fim de 2022, terminando o ano em US$ 100 o barril.

No dia da decisão da última reunião do Copom, o petróleo Brent havia fechado em US$ 98,02 o barril. Nesta segunda-feira, encerrou a US$ 107,58. Já o dólar, que em 16 de março havia fechado a R$ 5,09, chegou a cair até R$ 4,62, o que alimentou a esperança de um alívio importante na inflação. Mas, nesta semana, já estava sendo negociado próximo de R$ 5,00.

Em relação à inflação, o IPCA de março subiu 1,62%, maior taxa para o mês desde 1994, ficando muito acima da estimativa mais pessimista do mercado. Em abril, o IPCA-15 até subiu menos do que o mercado previa, mas mesmo assim foi salgado: 1,73%. O “cenário alternativo” mostrou-se frágil desde o início, bem como a promessa de encerrar o ciclo agora com uma última alta de 1 ponto.

Assim, o Copom deveria sinalizar que precisa subir os juros, no mínimo, mais uma vez, mesmo que num ritmo menor, de 0,50 ponto, para uma taxa de 13,25% na reunião seguinte, a de junho, quando até poderá, então, interromper o aperto para observar o efeito sobre a inflação da alta acumulada dos juros no atual ciclo, que começou com a Selic em 2%.

Mas sem fechar as portas para nada, uma vez que, com uma economia mundial tão complexa e volátil, fazer promessas peremptórias é correr o risco de queimar a língua.

Autor/Veículo: O Estado de S.Paulo
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