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Combustíveis e alimentos devem manter pressão inflacionária em 2022, dizem analistas

A inflação oficial fechou o ano de 2021 em 10,06%, o maior patamar desde 2015 (10,67%). O IPCA apurado pelo IBGE em 2021 ficou o equivalente a quase o dobro do teto da meta fixada para 2021: 5,25%.

Analistas avaliam que a inflação deverá desacelerar ao longo de 2022, mas permanecerá alta, fechando acima do teto da meta, que será de 5% este ano.

Mesmo com juros altos (de 9,25%), que esfriam a economia e limitam o repasse da alta de custos para os preços, e a gradual normalização das cadeias globais de produção, a inflação de 2021 carrega um impacto significativo para a deste ano.

Há contratos de serviços atrelados aos índices de preços. Além dos riscos fiscais que mantêm o dólar pressionado, elevando preços internamente.

A avaliação de economistas é que parte da inflação de 2021 seja carregada para 2022 por meio do que eles chamam de inércia inflacionária.

Pressões serão ainda sentidas nos preços dos combustíveis e dos alimentos, que afetam os custos de outros setores econômicos, apesar de um esperado alívio no preço da energia elétrica com as chuvas mais intensas elevando o nível dos reservatórios de hidrelétricas.

O resultado dessa combinação tende a ser uma inflação superior a 5%, o teto da meta em 2022. Se as previsões se confirmarem, será o segundo ano consecutivo em que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, terá de explicar por que o índice oficial de inflação, o IPCA, ficou fora do estabelecido como meta.

Analistas do Credit Suisse prevê que o IPCA atinja 6% este ano. Com isso, o banco vê espaço para a taxa básica de juros (Selic), que é a principal arma do BC contra a inflação, chegar a 12,25%.

Dezembro confirma cenário desafiador em 2022, diz banco
Segundo relatório dos economistas do banco, o resultado divulgado pelo IBGE confirma o cenário desafiador para a inflação, dado que a alta de preços é generalizada entre os itens industriais e de serviços, e indica que o impacto de inércia em 2022 será alto.

Para Tatiana Nogueira, economista da XP, a inflação perde força em 2022 por conta do efeito da política monetária e da atividade econômica enfraquecida, ficando em 5,2%. Ainda assim, os preços de serviços e bens administrados devem vir fortes em razão da inércia inflacionária.

Tatiana ainda vê riscos altistas para o IPCA, com a reestimativa de safra no mercado internacional impactando os preços, além de estiagem na região Sul e altas fortes de preços de defensivos agrícolas e fertilizantes no país.

— Quando falamos de preço, a sensação é de que o patamar ainda é bastante alto. O preço não vai cair, ele só vai subir menos.

BC demorou a agir, avalia economista
Na avaliação de Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, o IPCA de dezembro confirma o cenário de alta inflação no qual o Brasil é visto, o que se configura como uma das maiores taxas entre países emergentes, à exceção de Turquia e Argentina.

Ela avalia, porém, que o Banco Central demorou para identificar os efeitos secundários produzidos pelos choques primários de oferta ao longo de 2021.

— Estamos discutindo núcleos (de inflação) em torno de 10%. Se fossem somente os choques primários que explicassem a inflação, os núcleos teriam que estar na meta. O BC demorou para perceber que a inflação estava mais disseminada e de certa forma permitiu que esses efeitos secundários se espalhassem na economia.

Além do fator inércia inflacionária, Andrea Damico prevê que o câmbio fique no patamar de R$ 5,75 em 2022 dado o cenário eleitoral, o que também pressiona a inflação. Produtos importados e commodities ficam mais caros. Ela também vê riscos do fenômeno climático La Niña continuar afetando preços de alimentos com problemas de safra:

— Vai ser uma situação desconfortável de dois anos de estouro do teto da meta. Isso deve impedir que o BC já comece a reduzir no segundo semestre. Acho que ele só terá essa capacidade em 2023.

João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos, ainda vê o IPCA fechando o ano de 2022 em 5%, teto da meta de inflação, mas não descarta riscos de alta maior:

— Mantivemos um viés para cima (na projeção de inflação).

Segundo ele, no cenário externo, a retirada de estímulos monetários nos EUA pode depreciar o câmbio (alta do dólar frente ao real) no primeiro semestre deste ano, juntamente com a variante Ômicron, o que pode piorar os gargalos nas cadeias de suprimentos.

No cenário doméstico, a discussão eleitoral e as dúvidas sobre a condução da política econômica a partir de 2023 num eventual novo governo também podem pressionar o indicador, observa o economista.


Autor/Veículo: O Globo
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