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Desemprego é recorde e pode piorar

Apesar de 249 mil vagas formais abertas em agosto, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), especialistas estimam que desocupação seguirá piorando até 2021. Desemprego em julho foi recorde, diz o IBGE.

Com um recorde de 13,8%, no trimestre até julho, o desemprego deve demorar ao menos até 2022 para voltar ao patamar de antes da pandemia da covid-19, pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. Apesar de o País ter aberto 249 mil vagas formais em agosto, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), especialistas estimam que, entre formais e informais, a desocupação seguirá piorando até 2021.

A Pnad Contínua de julho, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra o tamanho da deterioração: em apenas um trimestre, 7,214 milhões de brasileiros perderam o emprego. Em um ano, o total de postos extintos supera os 11,5 milhões. A taxa de desemprego, de 13,8% no trimestre encerrado em julho, ou 13,1 milhões de pessoas, foi a pior desde que a pesquisa foi iniciada, em 2012. No trimestre até julho do ano passado, a taxa era de 11,8%.

Os números sugerem que o País chegou no terceiro trimestre a um cenário que já preocupava os economistas: com o afrouxamento das medidas de isolamento, o brasileiro vai, aos poucos, voltando às ruas para buscar emprego – mas as vagas de trabalho não estão mais lá.

Faltou trabalho para 32,892 milhões, somados todos os subutilizados. A pesquisa, que segue recomendações internacionais, considera desempregado quem buscou uma vaga. Embora a demissão tenha sido massiva, a maioria que perdeu seu emprego caiu na inatividade.

“O desemprego só não foi maior, porque a força de trabalho continuou caindo em julho. Agora, conforme as suspensões de contratos de trabalho feitas pelas empresas para evitar cortes forem se esgotando, aumenta o risco para esses empregados”, avalia Cosmo Donato, da

LCA Consultores.

A expectativa da consultoria é de que a desocupação encerre este ano em 15% e continue subindo, até chegar a um pico de 18,5% no primeiro trimestre do ano que vem, atingindo 15,5 milhões de pessoas. A estimativa é que o desemprego só volte ao nível dos 11% – em que estava antes da pandemia – em 2022.

“Isso, num cenário em que o Produto Interno Bruto (PIB) do País cresça em um ritmo de 3,5% em 2021 e 2022”, ressalta Bruno Ottoni, da Idados. “A desocupação ocorria em rimo lento, mas os dados de julho assustam. Uma recuperação antes de 2022 é pouco provável.”

Apesar do recorde negativo

da Pnad, o Caged, também divulgado ontem, pelo Ministério da Economia, trouxe um alento: 249.388 vagas com carteira assinada foram abertas em agosto. Foram contratados 1,239 milhão de formais e demitidos 990 mil o melhor resultado para agosto desde 2010. Nos oito primeiros meses do ano, porém, as demissões superaram as contratações

em 849.387.

As pesquisas têm metodologias diferentes: enquanto o Caged considera só os com carteira, por meio dos dados que as empresas enviam ao governo, a Pnad Contínua faz amostra de domicílios com dados de vagas formais e informais, domésticos, empregadores etc.

Os economistas também ponderam que os programas de manutenção

dos empregos, como a suspensão de contratos e a redução de jornada e salário, ajudaram a evitar mais fechamentos de postos formais, o que se reflete nos dados do Caged.

Saídas. Na avaliação dos economistas, mesmo que o cenário para o mercado de trabalho em 2021 ainda seja desafiador, algumas medidas podem ser tomadas

para minorar esse baque.

“A proposta de renda mínima após o fim do auxílio emergencial pode ajudar a reduzir a queda menor do consumo das famílias mais pobres. A grande questão é como financiar isso, sem o País arruinar ainda mais as suas contas”, avalia Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV).

‘Recuperação rápida do emprego é uma ilusão’
Para o professor da Universidade de São Paulo e presidente do Conselho de Emprego da Fecomércio-sp, José Pastore, a retomada do mercado de trabalho após a pandemia não será em “V” – de forte queda e rápida recuperação. Ele espera a volta lenta do emprego e desigual nos diferentes setores. A seguir, trechos da entrevista.

• Como avaliar os dados de desemprego de julho?

Os números são desastrosos, mostram que praticamente tudo piorou. A população ocupada caiu 12,3% em relação ao ano passado. O nível de ocupação, encolheu quase pela metade. Não é surpresa, já que a pandemia foi muito severa, mas não deixa de assustar.

• Fica clara a necessidade de o governo agir para que a recuperação seja mais forte?

Sim. O trabalho informal, por exemplo sumiu. É uma coisa dramática, que nos leva à necessidade de alguma política para o começo do ano. O ministro Paulo Guedes (da Economia) fala em recuperação em ‘V’, mas o mercado de trabalho não vai reagir tão depressa. Talvez tenha idas e vindas, e esse ‘V’ acabe virando um ‘W’.

• Os setores devem se recuperar em ritmos diferentes?

Já estão assim. O agronegócio continua bem e, ainda que não gere tantos empregos, ele cria postos indiretos nas comunidades em que está inserido. É um fator positivo para o ano que vem. O governo chegou a falar em reativar a reconstrução de casas populares e as obras pa- radas, o que seria positivo. O transporte de cargas também já parou de demitir. Os super- mercados e farmácias estão mantendo os empregos.

• E quais setores ainda vão mal e preocupam?

Escolas particulares, por exemplo, perderam muitos alunos e se espera uma demissão em massa no começo do ano. O mesmo com a saúde privada, com a redução no número de usuários dos planos médicos. E, é claro, o setor de turismo e hotelaria, que falam em recupe- ração só em 2024.

Autor/Veículo: O Estado de S.Paulo
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