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'A saída da Petrobras destrava o valor da BR', diz Ronaldo Cezar Coelho

- Na sexta-feira, a Petrobras deu início ao processo de venda de todas as suas ações na BR Distribuidora, marcando a primeira privatização de uma estatal via Bolsa de Valores. Com a operação, que vai movimentar mais de R$ 11,4 bilhões até segunda-feira, a maior rede de postos de combustíveis do país vai somar mais de dois mil investidores institucionais e mais de 60 mil pessoas físicas. Destaca-se nessa lista o ex-banqueiro e ex-deputado federal Ronaldo Cezar Coelho.

Por meio do Fundo Samambaia, que controla, ele pretende chegar a 10% do capital da BR e investir ao todo R$ 2,5 bilhões até dezembro. Com isso, será o maior investidor da BR, como já é na Light, da qual detém 20% do capital.

Uma cerimônia com toque de campainha marcou o início da venda das ações da distribuidora de combustíveis na B3. Esta contou com a presença do presidente da BR, Wilson Ferreira. Os papéis fecharam com alta de 2,76%, a R$ 29,39.

Como surgiu a ideia de investir na BR?
Comecei a analisar em janeiro. Durante as conversas sobre a Light, um fundo indicou e achei a BR uma ótima opção de investimento. Minha ideia inicial era ter 5% das ações, e quando estava em 4% ocorreu o follow on. O papel estava muito subavaliado pelo mercado. A saída da Petrobras abre movimentos estratégicos e destrava o valor da BR. Pedimos 50 milhões de ações e recebemos 46 milhões, que é quase 4% (R$ 1,2 bilhão). Agora, o fundo tem 7,95%. A ideia é ir a 10% na BR e investir ao todo R$ 2,5 bilhões. Acho que com 10% serei o maior acionista, mas isso não é importante. A ideia é comprar essas ações restantes na BR no mercado este ano.

Qual é a estratégia na BR?
Meu interesse é ver a BR investindo em projetos de responsabilidade ambiental. Na contramão do seu modelo de negócios, que é a distribuição de combustíveis, tem que ter um grande projeto de sequestro de carbono. Tem que ser a BR Florestas. Temos que fazer um projeto de 20 anos de plantar florestas e produzir água, com recuperação, por exemplo, da Mata Atlântica. A empresa tem quase oito mil postos, e esses espaços têm que ser vistos como postos de serviços ambientais. Isso vai trazer valor para a empresa.

O que a saída da Petrobras vai representar para a BR?
A BR tem seu plano de diversificação, de fusões e aquisições. Isso tudo está destravado a partir da plena privatização, que só foi completada agora. E todos os acionistas são iguais e buscam exercer influência. O mercado reagiu (com alta nas ações), mas a BR ainda está muito desvalorizada. A empresa tem muito potencial.

Pretende entrar no Conselho de Administração?
Não, mas quero estar próximo do Conselho e defender essa agenda ambiental.

Por que investir em energia em meio à crise hídrica?
No fundo somos culpados, pois isso é uma crise de clima. A sociedade é culpada. Hoje, o país está mais bem preparado. Mas vamos sofrer muito com essa crise. Vai haver uma consciência de redução de consumo, nem que seja via preço. A saída é usar menos ar-condicionado. Mesmo sendo sócio da Light, temos que economizar energia.

Como assim?
Não existe sentido falar do “gato” como sendo do pobre, preto e favelado. Isso está errado. Temos um problema de renda. E as autoridades estão sensibilizadas, como o governo do Estado do Rio e a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), de que temos que criar uma tarifa popular. A tarifa básica hoje tem dentro dela 31% de ICMS. Temos um consumidor atacado pelo desemprego e pela redução da renda familiar. Tem que ter algo criativo, que é ter uma tarifa popular de energia na qual o ICMS seja o mínimo possível. E o Rio pode reduzir o ICMS para 12%. Abaixo disso, só com autorização do Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária). É melhor receber o custo que você paga pela energia de Itaipu do que ter 100% de perda. Esse é um caminho. É a minha visão. São 600 mil consumidores que desertaram do sistema.

Com a BR, qual é a estratégia para o Fundo Samambaia?
Começamos uma nova fase. Antes tínhamos uma posição defensiva. Éramos um fundo de fundos. Chegamos a ter 17 gestores e nos beneficiamos dessa universidade aberta que é o Leblon. Há dois meses saímos de diversos fundos. Agora, passamos a ter uma atividade mais concentrada: Light, BR e Energisa.

Autor/Veículo: O Globo
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