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Em sete de cada dez golpes financeiros digitais, o alvo é você, não o banco

O sistema financeiro é o setor que mais lida com tentativas de fraudes cibernéticas no Brasil, país que fica em primeiro lugar em todos os rankings globais sobre o tema. Os gastos bancários em segurança para evitar golpes chegam a R$ 2,2 bilhões ao ano, de acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Segundo a entidade, sete em cada dez casos hoje no país não miram a segurança dos sistemas em si, mas sim o cliente final, que muitas vezes é vítima da chamada engenharia social, nome dado a um conjunto de golpes por meio dos quais os fraudadores iludem o consumidor a transmitir, de maneira ativa ou involuntária, seus dados para a realização de uma transação fraudulenta.

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Segundo Adriano Volpini, diretor da Comissão de Prevenção de Fraudes da Febraban, esse tipo de golpe tem crescido desde o início da pandemia, que acelerou a digitalização de transações em meio às restrições de mobilidade.

— Houve um aumento na bancarização no país e muita gente passou a usar canais digitais. Cada banco tem sua política de ressarcimento, mas, quando o cliente transfere o dinheiro ao fraudador por erro, não é responsabilidade do banco. A arma que usamos para prevenir essas fraudes é o esclarecimento do usuário para que entenda os riscos — diz.

Desde o início de março de 2020 até o mês passado, 14,6 milhões de pessoas passaram a ter algum relacionamento ativo com instituições financeiras no país, de acordo com o Banco Central. O número saltou, em 13 meses, de 165,61 milhões para 180,23 milhões.

O pagamento do auxílio emergencial, que se deu por meio de contas digitais criadas pela Caixa Econômica Federal, é um dos principais fatores que contribuíram para esse avanço. Em sua primeira edição, o benefício pagou, ao todo, R$ 293,1 bilhões a 67,9 milhões de pessoas.

A Caixa criou 105 milhões de contas digitais via Caixa Tem, destinadas a receber depósitos. Para evitar fraudes, segundo informou o presidente da instituição, Pedro Guimarães, em live na última sexta-feira, o banco vinculou cada conta a um celular do titular. Qualquer mudança bloqueia a conta automaticamente.

Das pessoas que já tinham conta em banco, a maioria dos que costumavam fazer suas transações nas agências físicas migrou, ao menos parcialmente, para o ambiente digital, o que favoreceu um boom de transações pela internet.

No Itaú, a quantidade de clientes com mais de 50 anos de idade que passaram a usar canais digitais aumentou 40% desde o início da pandemia, segundo Renato Mansur, diretor do banco.

Nesse cenário em que muitos têm seus primeiros contatos com transações digitais, a dica dos bancos é redobrar a atenção e ter cuidado na hora de clicar em links, além de evitar fornecer quaisquer dados pessoais ou bancários.

— É preciso ter cuidado com o fornecimento e a segurança de seus dados. O CPF, por exemplo, é muito pedido no Brasil, e não deveria ser assim — diz Thiago Bordini, diretor de Inteligência Cibernética da consultoria Axur.

Paralelamente à adoção mais acelerada de canais digitais por parte dos clientes, o mercado financeiro tem passado por inovações nos tipos de transações pela web, cada vez mais instantâneas.

São os casos, por exemplo, do Pix, e do recém-autorizado serviço de transferências via Whatsapp, cuja permissão inicial foi dada pelo Banco Central para Visa e Mastercard.

Esses modelos são considerados seguros e tendem a ser simples de se usar, mas o fato de as transferências serem imediatas fazem com que sejam modalidades visadas nos golpes.

No caso do Pix, a adoção tem sido rápida: já são mais de 181 milhões de chaves de pessoas físicas cadastradas no país. A modalidade permite transferências gratuitas, e tende a substituir as tradicionais, como DOC e TED, que são cobradas e não são imediatas.

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Para os bancos, o Pix é interessante mesmo reduzindo sua receita com tarifas porque maximiza o número de operações, segundo Marco Cavagnoli, do Itaú.

— O Pix tem uma curva de adoção muito rápida, já representa mais de 50% das nossas transferências e o espaço para crescimento é alto. Ele tem valor de negócio para o banco porque o cliente entende que o Pix traz benefício real. Se o cliente usa para pagar uma conta e gosta, tende a usar para mais coisas e fazer mais transações— explica o executivo.

Volpini ressalta que as instituições financeiras têm discutido com o Banco Central a possibilidade de adicionar uma funcionalidade que permita ao usuário reverter uma transação feita via Pix, o que poderia ser útil em casos em que o cliente detectou ter sido vítima de um golpe logo após fazer a transferência.

Hoje, nesses casos, o prejuízo das transações costuma ficar com a vítima que caiu no golpe, diferentemente, por exemplo, do caso em que o fraudador consegue dados do cartão de crédito do consumidor e faz compras em nome do cliente.

Autor/Veículo: O Globo
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