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Empresas usam apps e assistentes virtuais para monitorar humor e saúde dos funcionários na pandemia

Em tempos de pandemia, monitorar a saúde e o bem-estar dos funcionários passou a fazer parte da estratégia central de recursos humanos das empresas. Diretorias e setores específicos foram criados nas companhias, que usam a tecnologia como principal aliada.

Aplicativo com assistente virtual para avaliar humor e condições físicas de empregados e serviço de atendimento psicológico 24 horas por dia são alguns exemplos do que foi incluído na lista de benefícios oferecidos aos empregados, principalmente executivos e funcionários de áreas administrativas que passaram a trabalhar em casa.

Nas áreas operacionais, cresce o investimento na certificação sanitária de ambientes para e reduzir perdas de produtividade com casos de Covid-19.

Dados da MedRio Check-Up, que presta serviços de medicina preventiva a 400 companhias, mostram aumento na incidência de doenças crônicas entre executivos entre 2019 e 2020.

O diagnóstico de burnout, como é chamada a síndrome de esgotamento psíquico ligada ao estresse no trabalho, subiu de 5% para 12% nas revisões médicas periódicas.

Também houve aumento nos relatos de insônia (de 18% para 27%), sobrepeso (de 65% para 75%), diabetes (de 7% para 10%) e hipertensão (de 18% para 31%).

Segundo Gilberto Ururahy, diretor-médico da MedRio, as empresas estão preocupadas com o impacto do isolamento social e o home office na saúde dos funcionários. Por isso, têm investido em iniciativas e tecnologias para ajudar na prevenção de males físicos e mentais.

— As empresas estão em busca de novas soluções de bem-estar e saúde, mas é preciso que tudo esteja focado no indivíduo. Não adianta falar para o funcionário fazer exercício se ele não gosta — disse Ururahy, que investiu mais de R$ 1 milhão em processos internos para digitalizar toda os exames.

Pesquisa feita com 540 empresas pela seguradora Aon mostra como a pandemia reforçou a relação entre saúde e trabalho.

A telemedicina passou a ser adotada por 26,7% das pesquisadas, assim como aplicativos digitais de bem-estar (17,8%) ou portais digitais de saúde (34,8%).

Programas de saúde mental foram criados em 32% das empresas. Em 31%, foram iniciadas ações para o lado físico.

Para incentivar mais investimentos na prevenção, a Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) pretende criar, em parceria com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), um selo para classificar as empresas que promovem saúde. A chancela deve começar em três meses.

— Primeiro, houve uma preocupação com os protocolos de segurança. Agora, o foco é na saúde dos funcionários e iniciativas de prevenção. As empresas precisam dos funcionários com a saúde em dia para manter os negócios — diz Paulo Sardinha, presidente da ABRH.

A cervejaria Ambev decidiu criar uma nova diretoria para cuidar da saúde dos 30 mil colaboradores. Mariana Holanda, diretora de Diversidade, Inclusão e Saúde Mental, conta que a nova área administrativa ganhou força com os desafios trazidos pela pandemia, principalmente no campo da saúde mental.

Para ela, o tema está deixando de ser um estigma nas empresas. Em março, a empresa começa a usar um aplicativo que vai gerar dados em tempo real sobre o bem-estar de empregados.

— Queremos sair do subjetivo e chegar no objetivo. A ideia é dar suporte aos funcionários para gerar uma jornada de autoconhecimento e conectar isso à performance, mostrando a importância do trabalho em equipe — diz Mariana.

Na Siemens, a área de saúde é a que mais vai receber investimentos em 2021, diz Caroline Zilinski, diretora de RH da multinacional alemã no Brasil.

A empresa lançou mão da telemedicina para criar um atendimento médico 24 horas para funcionários por meio do aplicativo Einstein Conecta, gerido pelo Hospital Israelita Albert Einsten, de São Paulo. Os serviços ganharam nomes como “Oriente-me” e “Sem surto”. E a empresa já planeja o pós-pandemia.

— São iniciativas com o objetivo de aliviar parte do estresse gerado pela pandemia. Para o futuro, temos um comitê chamado “New Normal” (“Novo Normal”), onde são discutidas e planejadas ações de retorno aos escritórios, a nova forma de trabalhar e gerir pessoas — conta Caroline.

Comitês executivos e serviços do Einstein
A Pepsico também contratou serviços do Einstein e criou comitês executivos para cuidar da saúde física e mental dos mais de 12 mil funcionários.

A LafargeHolcim, multinacional suíça de materiais de construção, investiu em uma assistente virtual, chamada Pilar, que monitora o estado de saúde e o humor dos funcionários em home office. Dos 1.400 funcionários, 600 já interagiram com ela.

— Inicialmente a ideia era que essa assistente virtual servisse como uma ajuda ao empregado para questões mais simples relacionadas aos serviços de RH. Com a pandemia, vimos a necessidade de criar mais funções relacionada a saúde. O colaborador não responde simplesmente uma pesquisa fria, ele conversa com a Pilar, que responde. Caso ele reporte que está se sentindo triste, oferecemos um apoio psicológico — explica Juliana Andrigueto, diretora de RH e Comunicação da empresa.

A Carelink, que oferece serviços de saúde para empresas, criou, além do teleatendimento, novas plataformas e uma assistente virtual chamada Sofia.

Dotada de inteligência artificial, ela conversa com o usuário para traçar um mapa da saúde dele e apontar eventuais tratamentos necessários. A empresa, agora, se prepara para prestar suporte clínico e emocional às empresas no monitoramento do retorno dos empregados aos escritórios com o avanço da vacinação.

— Em 2020, houve aumento de 50% da demanda pelo atendimento emocional de colaboradores. Esperamos alta de 40% em 2021. Nossa população está ansiosa com a pandemia e as incertezas em relação ao futuro — diz Tiago Pavarini, responsável pelo Marketing da Carelink.

Plataforma digital
A Novelis, líder mundial em laminados e reciclagem de alumínio, também acaba de criar um programa para dar suporte psicológico e social aos empregados 24 horas por dia.

A iniciativa nasceu de um sugestivo “Comitê do Otimismo”, criado na empresa para ajudar os funcionários em temas como ansiedade, conflitos interpessoais dentro e fora do trabalho, perda ou luto.

O avanço da tecnologia no RH tende a ganhar força ao longo deste ano, avalia Maicon Rocha, diretor de vendas de HCM, que reúne tecnologias para gestão de capital humano.

Em 2020, as vendas da empresa saltaram 359% em relação ao ano anterior. Neste ano, um das soluções mais procuradas é uma plataforma digital capaz de mapear os funcionários testados e já vacinados contra a Covid-19.

— A pandemia reforçou o conceito do ‘trabalho vai até a pessoa’. Por isso, há incentivo a novas soluções mais seguras — afirma Rocha.

Autor/Veículo: O Globo
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