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?Fazer o ambientalmente certo não custa mais caro?, diz Cosan

O presidente da Cosan, Luis Henrique Guimarães, afirmou nesta semana, durante a série de entrevistas ao vivo Retomada Verde, do Estadão, que produzir de forma ambientalmente correta não custa mais caro. Pelo contrário: na verdade, ele argumenta que o planejamento correto da forma de produção pode trazer ganhos de eficiência e qualidade.

Na visão do executivo que comanda o grupo que é proprietário de negócios como a Raízen (companhia de combustíveis que administra a marca Shell no Brasil) e a empresa de logística Rumo, entre outras, os empresários brasileiros precisam conhecer bem sua pegada de carbono para planejar investimentos em fontes renováveis e compensações ambientais pela emissão de gás carbônico. “A gente precisa precificar como cada empresa está contribuindo (para o meio ambiente), seja do lado positivo ou do negativo.”

Guimarães, no entanto, ressalvou que as severas críticas que o Brasil vem sofrendo nos últimos meses por seu mau desempenho no combate à destruição da Amazônia têm também um lado comercial. “Temos regras, leis e regulações que devem ser cumpridas. O desmatamento prejudica a imagem do País”, disse. “Mas também temos de tomar cuidado porque, por trás de vários desses comentários, há algum interesse comercial. O mercado agrícola mundial é muito protecionista.”

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

• O agronegócio é hoje visto internacionalmente como um vilão do desmatamento no Brasil. Como mudar essa imagem?

Temos todos os atributos para nos tornarmos uma potência verde, dada a qualidade da nossa matriz energética e de transporte: 45% da matriz é renovável, enquanto a média mundial é de 3%. Agora, como em todos os países, você tem uma pequena minoria que faz a coisa errada. No fundo estamos pagando a conta da pequena minoria que desmata ilegalmente. Temos hoje uma agricultura muito responsável. Nosso código florestal e nossas leis ambientais são das mais desenvolvidas do mundo. É preciso tomar cuidado para não sermos vilanizados por coisas feitas por um pedaço (das empresas). É preciso combater a ilegalidade de uma maneira muito dura.

• Há a visão de que o governo brasileiro é leniente com o desmatamento. O sr. acha que o governo quer mesmo impedir o desmatamento?

Se a sociedade quiser, de uma maneira ou de outra, a coisa vai acontecer. O Estado brasileiro pode ser mais rápido ou mais lento, mas acho que o Estado quer (combater o desmatamento). Estou falando de uma questão de País, que deve perdurar, independentemente de quem estiver no poder. É uma decisão da nossa sociedade de querer fazer isso.

• Como a Cosan tem discutido essas questões de sustentabilidade dentro de seu setor?

O principal valor do biocombustível é a sua capacidade de tornar a economia circular. A Raízen vem fazendo um projeto amplo de desenvolvimento de biogás. Para cada litro de etanol, são produzidos 12 litros de vinhaça – água que está na planta como matéria orgânica incorporada. O Brasil produz mais de 30 bilhões de litros de etanol e 360 bilhões de litros de vinhaça. Estamos aproveitando esse subproduto para produzir biogás a ser utilizado em equipamentos ou para gerar energia elétrica. Tem também toda a questão do etanol de segunda geração, com pegada de carbono ainda menor do que o etanol de primeira geração. E trabalhamos muito na eficiência (da produção), porque fazer a mesma coisa com menos consumo de combustível e mais eficiência logística é também preservar o ambiente e gerar uma pegada de carbono menor.

• O Brasil tem hoje a segunda matriz energética mais limpa do mundo, atrás somente da Noruega. Mas o País perde na questão do desmatamento. O setor privado pode ajudar nesse processo?

Tudo o que é ilegal tem de ser combatido. Temos regras, leis e regulações que devem ser cumpridas. O desmatamento prejudica a imagem do País, mas também temos de tomar cuidado porque, por trás de vários desses comentários, há algum interesse comercial. O mercado agrícola mundial é muito protecionista. O Brasil tem vantagem competitiva no açúcar, claramente é o produtor de menor custo. Há barreiras enormes em vários países do mundo. Não podemos ser inocentes. Temos dois programas. Fomos a primeira empresa no Brasil a adotar um processo de certificação global em relação a práticas de manejo da lavoura. Fizemos uma certificação da nossa cana própria – 50% da cana da Raízen é nossa. Fizemos o trabalho inicial de criação da Raízen com certificação progressiva. Hoje falta um pedaço muito pequeno, só uma usina para ser certificada. Em paralelo, há cinco anos, iniciamos o programa Elo. Fazemos o mesmo processo com o nosso fornecedor: a gente certifica, orienta, treina e auxilia. E eles vão subindo do nível 1, para 2, 3 e 4. Fazer o (ambientalmente) certo não custa mais caro. Você ganha em eficiência, em qualidade.

• Além da questão ambiental, como vocês trabalham os pilares sociais e de governança, que compõem o moderno conceito de sustentabilidade, na Cosan?

Na questão da governança, temos as práticas de uma empresa listada (na Bolsa de Valores) do Brasil e do exterior. E agora estamos evoluindo na simplificação da nossa estrutura organizacional. Um trabalho grande (atual) é melhorar a diversidade em seus vários aspectos: orientação sexual, raça, gênero etc. Temos um déficit grande e a gente vem trabalhando (para corrigi-lo). Não trabalhamos com sistema de cota porque não achamos que é a melhor orientação. A grande questão é de representatividade nas posições de liderança, que é o mais difícil.

• O mercado sucroalcooleiro foi pioneiro na discussão de créditos de carbono. Como estão as discussões hoje?

O Renovabio traduziu o mecanismo de mercado altamente eficiente que vai premiar os players que investirem mais. Nem todo etanol produzido vai gerar o mesmo produto, vai depender do seu processo. Uma usina eficiente vai ter mais créditos do que outra (menos eficiente). Os mecanismos de transação estão prontos. Precisa começar a rodar. Infelizmente a pandemia nos pegou no meio do caminho. Estamos confiantes que no último trimestre a gente veja esse mercado pegando tração. A gente precisa precificar como cada empresa está contribuindo (para o meio ambiente), seja do lado positivo ou do negativo.

• Tivemos a divulgação do PIB na terça-feira, dia 1º de setembro, com queda de 9,7% da economia no segundo trimestre. O que, em sua opinião, o Brasil deve fazer para voltar a crescer?

O mais importante é todo mundo entender que vamos conviver com esse assunto (pandemia de covid-19) por um período de tempo até que a vacina seja estabelecida. É viável, com os protocolos adequados, manter as operações voltando ao normal. Do ponto de vista das pessoas e dos negócios, garantir que a volta seja feita com qualidade é muito importante. Saúde e economia precisam agir juntas. O segundo semestre vai se provar melhor que o fosso (econômico), que foi em abril.

Autor/Veículo: O Estado de S.Paulo
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