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FMI: Economia do Brasil vai despencar 9,1% este ano com pandemia

A economia do Brasil vai encolher 9,1% este ano por causa da pandemia do coronavírus, de acordo com estimativas feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Se confirmado, seria o pior resultado da série histórica que começou em 1900.
No seu mais recente relatório World Economic Outlook (Panorama Econômico Mundial), divulgado nesta quarta-feira, a instituição multilateral prevê que a recessão global será ainda mais profunda este ano que o previsto anteriormente. Tudo isso por causa da paralisação de atividades que o FMI definiu como “O Grande Lockdown”.
“O crescimento global terá um declínio de 4,9% em 2020 — 1,9 ponto percentual abaixo do relatório anterior, divulgado no início de abril —, seguido por uma recuperação de 5,4% em 2021”, diz o documento assinado por Gita Gopinath, economista-chefe do Fundo.
A previsão anterior para 2021 era de alta de 5,8%. Este cenário representa uma perda cumulativa de US$ 12 trilhões para a economia do mundo ao longo de dois anos, diz o documento.
O relatório reforça o diagnóstico de que o mundo está de fato na pior recessão desde a Grande Depressão dos anos 1930, muito distante da expectativa otimista da instituição no início do ano. Em janeiro, o FMI preconizava um crescimento de 3,3% da economia global em 2020.
Melhora para o Brasil em 2021
Com altos índices de Covid-19, Brasil é um dos sete países avaliados pela instituição com previsão de perda de mais de 9% do PIB este ano.
Os países com piores previsões são os mais afetados pela pandemia, como Espanha e Itália, cujas economidas devem retrair 12,8%. O FMI diz que o impacto econômico entre os países é desigual e ligado à gravidade da pandemia em seu território.
No relatório de abril, a previsão era de queda de 5,3% no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil este ano, bem menor que a nova projeção. Um cenário bem diferente do traçado pela instituição em janeiro, sem pandemia no horizonte: alta de 2,2%.
Por outro lado, a projeção de crescimento do FMI para o Brasil em 2021 aumentou. Era de 2,9% em abril e agora é de 3,6%.

Quarentena prolongada
Para André Perfeito, economista-chefe da Necton Corretora de Valores, a previsão do FMI para o Brasil este ano está em linha com as de analistas no país, na casa de -7,5%. Segundo ele a piora das previsões se deve mais ao desempenho da economia global e de economias centrais, como a dos Estados Unidos.
— Muito provavelmente teremos (no mundo) uma quarentena mais prolongada. Em alguns casos será preciso reverter parte das aberturas dos negócios — avalia o eonomista.

Perfeito continua:
— No Brasil, isso será mais dramático, porque estamos flexibilizando o isolamento antes do que seria adequado, o que vai levar a medidas de recuo. Nosso processo de retomada vai ser muito mais arrastado, mais lento.
Aumento das aglomerações no metrô após a flexibilização da quarentena no Rio. Foto: FABIANO ROCHA / Agência O Globo
Para ele, as medidas econômicas tomadas pelo governo até agora foram bem na parte financeira, com o Banco Central conseguindo estancar problemas de liquidez, mas o dinheiro não está conseguindo chegar na ponta final em vários setores.
— Tivemos uma quarentena meia-boca, muito frágil, por divergências, desde o início, entre o governo federal e estados e municípios, e a população logo se cansou. Há um esgarçamento de pessoas e empresas que querem voltar logo ao trabalho — critica Sérgio Valle, economista da MB Associados.
Para Valle, o segundo trimestre vai ser muito ruim no mundo ocidental como um todo, mas o terceiro pode ser um pouco melhor nos países que fizeram o dever e casa:
— Mas, no Brasil, o terceiro trimestre corre risco de ser ruim, porque já estamos chegando em julho com a Covid-19 à toda velocidade —, diz o economistas, citando a crise política como agravante. — Quando você junta esse cenário todo, é muito razoável essa projeção de queda do PIB do FMI.
Para o especialista, é ilusório acreditar que o Congresso vai conseguir avançar nas reformas no segundo semestre com tudo o que está acontecendo. Ele aponta o agronegócio como o setor com mais chances de puxar alguma recuperação.

Endividamento acima de 100% do PIB

Nas contas públicas, o FMI prevê um déficit fiscal no Brasil de 16% do PIB em 2020 e de 5,9% em 2021, com a dívida bruta alcançando 102,3% do PIB neste ano e 100,6% no próximo.
O governo brasileiro estima que a dívida bruta encerrará o ano em volume equivalente a 93,5% do PIB. A dívida líquida ficará em 67,6%.
No panorama traçado pelo FMI, o México é outro país da América Latina com previsão de retratação significativa de sua economia: -10,5%, resultado pior que o previsto para o Brasil.

Autor/Veículo: O Globo
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