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Ford: Governo sonda montadoras para assumir fábricas da empresa

O Ministério da Economia procurou executivos de três fabricantes mundiais de automóveis para buscar compradores para as fábricas da Ford em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e da Troller em Horizonte (CE), após a multinacional anunciar que está deixando o país.

Em outra frente, fontes ouvidas pelo GLOBO afirmam que a saída da companhia reforça a avaliação de que o modelo baseado em incentivos tributários tem problemas. Auxiliares do ministro da Economia, Paulo Guedes, defendem uma reforma tributária para que os benefícios não sejam necessários.

Embora os nomes para empresas que assumirão as unidades da Ford ainda sejam mantidos em sigilo para não atrapalhar as negociações, técnicos do governo afirmam que haveria interesse de uma fabricante chinesa assumir ao menos uma das unidades.

O ministério montou um grupo de trabalho para avaliar o fechamento das fábricas da Ford e para buscar saídas para as unidades da marca.

Em conversas reservadas, integrantes da equipe econômica citam a Chery como uma das candidatas. A marca tem uma operação no Brasil em parceria com a Caoa. Mas técnicos do governo avaliam que a marca chinesa tem potencial de crescimento no Brasil.

Nos próximos dias, o ministério deve continuar em busca de empresas interessadas nas plantas, medida que também foi disparada pelos governos de São Paulo e Bahia. Além da Chery, integrantes da equipe econômica mencionam a GM e Fiat como empresas que têm investido no Brasil.

Procurada, a GM disse que "isso não faz parte do plano" da empresa para o Brasil. Chery e Fiat ainda não responderam a pedidos de comentário.

Subsídios tributários
Apesar de reconhecerem que a saída da Ford do país — que ocorre depois do fechamento da fábrica da Mercedes-Benz em São Paulo — é uma notícia ruim, integrantes da equipe econômica avaliam nos bastidores que o movimento é um reposicionamento global da marca e não necessariamente um problema sobre o Brasil.

Nos dois casos, há uma avaliação que as marcas foram impactadas pelo avanço dos carros elétricos e pela competição de fabricantes asiáticos, especialmente da China.

O episódio também acendeu um alerta sobre um modelo fortemente baseado em subsídios tributários. Só entre 2003 e 2021, os benefícios ao setor automotivo somaram R$ 50 bilhões, de acordo com dados da Receita Federal. O valor não considera a inflação acumulada no período.

A avaliação interna é que nem esses programas foram suficientes para manter o negócio da Ford funcionando no país. Essa leitura reforça, na visão de um integrante do governo, a necessidade de reformas.

De acordo com fontes, a Ford chegou a tentar negociar a concessão de alívios tributários, mas as conversas não avançaram. Nesta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro disse que a empresa não havia dito a verdade sobre a decisão de sair do país e que a montadora queria mais subsídios. Procurada, a Ford informou que não vai comentar a declaração de Bolsonaro.

Técnicos da equipe econômica ainda avaliam a possibilidade de pedir ressarcimento por incentivos concedidos anteriormente. Essa análise, no entanto, ainda não foi concluída. A tendência é que, caso a legislação permita, o governo deva buscar eventuais compensações.

Em nota divulgada na segunda-feira, o Ministério da Economia lamentou a decisão da Ford de encerrar a produção no Brasil e disse que o movimento destoa da “forte recuperação observada na maioria dos setores da indústria no país, muitos já registrando resultados superiores ao período pré-crise”.

“O ministério trabalha intensamente na redução do custo Brasil com iniciativas que já promoveram avanços importantes. Isto reforça a necessidade de rápida implementação das medidas de melhoria do ambiente de negócios e de avançar nas reformas estruturais”, afirma o comunicado.

Autor/Veículo: O Globo
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