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Incertezas sobre próximos passos da Petrobras minam recepção a balanço e dividendos expressivos

As ações da Petrobras mostravam fraqueza nesta quinta-feira (2), apesar de resultado recorde em 2022 e anúncio de dividendos robustos, uma vez que persistem incertezas relacionadas aos próximos passos da petrolífera estatal, após a troca de governo no Brasil.

Às 15h10, as preferenciais recuavam 0,91%, a R$ 25,07, tendo oscilado já entra a mínima de R$ 24,37 e a máxima de R$ 25,67. Os papéis ordinários cediam 0,87%, a R$ 28,5. No mesmo horário, o Ibovespa tinham variação negativa de 0,09%.

A companhia registrou lucro líquido de R$ 43,34 bilhões no quarto trimestre, alta de 37,6% ante o mesmo período do ano anterior e acima do esperado por analistas, acumulando em 2022 lucro líquido recorde de R$ 188,3 bilhões em 2022, alta de 77% ante o ano anterior, segundo dados na véspera.

O conselho de administração também aprovou encaminhamento à Assembleia Geral de Acionistas, prevista para 27 de abril, da proposta de distribuição de dividendos equivalentes a R$ 2,745 brutos por ação preferencial e ordinária em circulação, em um total de R$ 35,8 bilhões.

Mas, citando que o montante proposto ultrapassa a aplicação da fórmula prevista na Política de Remuneração em R$ 6,5 bilhões no trimestre, o conselho sugeriu que os acionistas avaliem a criação de uma Reserva Estatutária para reter até R$ 6,5 bilhões do resultado do exercício social de 2022.

"O foco deste trimestre ficou sobre os dividendos... E embora um pouco ruidoso, acreditamos que o desfecho envolvendo os dividendos foi benigno", afirmaram analistas do JPMorgan. Eles ponderaram, contudo, que a discussão sobre o tema não está encerrada ainda e viram a sugestão da reserva como um ruído.

Ainda assim, Rodolfo Angele e equipe avaliaram que parece haver uma disposição de pagar pelo menos o dividendo mínimo, "o que significa que tudo está acontecendo dentro das regras, o que obviamente é positivo", conforme relatório a clientes.

Analistas do Bradesco BBI, por sua vez, afirmaram que a questão-chave é se essa proposta de dividendo será efetivamente paga, uma vez que o governo tem o poder de vetar qualquer pagamento na assembleia a ser realizada no final de abril. Eles veem as ações caindo fortemente com um movimento nessa direção.

"As repercussões desse dividendo proposto dentro do governo, do Partido dos Trabalhadores e da mídia serão a primeira série importante de eventos a ser monitorada", afirmaram.

"Depois disso, os próximos passos importantes a serem monitorados serão as mudanças propostas à política de dividendos pela nova administração, a serem apreciadas pelo novo conselho provavelmente em maio", acrescentaram, citando ainda como temas cruciais possíveis mudanças na política de preços nos estatutos.

Após a divulgação do balanço e do anúncio dos dividendos, os analistas do GoldmanSachs reafirmaram a recomendação "neutra" para os papéis (mesma classificação adotada pelos analistas do JPMorgan e do Bradesco BBI).

"Apesar do 'valuation' relativamente barato... reconhecemos o aumento da incerteza sobre as políticas a serem adotadas nos próximos anos", afirmaram Bruno Amorim e equipe em relatório a clientes no final da quarta-feira.

O presidente da estatal, Jean Paul Prates, afirmou nesta quinta-feira em videoconferência com analistas que a Petrobras terá ainda robustez no pagamento de dividendos aos seus acionistas em 2023, mas que os desafios a serem enfrentados serão ainda maiores.

"São circunstancias diferentes, é um desafio maior, até porque não vamos necessariamente sair vendendo ativos por decisões governamentais como foi feito antes, não vamos nos desfazer de refinarias ou de regiões inteiras simplesmente porque o governo quer", disse o executivo.

Um pouco depois da fala de Prates, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disparou contra a distribuição de dividendos anunciada na véspera pela Petrobras.

Lula disse, em cerimônia de lançamento do novo programa Bolsa Família, no Palácio do Planalto, que não se pode "aceitar a ideia da notícia de hoje" de que a Petrobras entregou dividendos mais de R$ 215 bilhões, montantes referentes ao exercício de 2022.

O montante anunciado pela Petrobras como dividendos referentes ao quarto trimestre supera o valor de mercado de uma série de empresas listadas na B3, entre elas CPFL Energia (R$ 34,7 bilhões), Klabin (R$ 22,1 bilhões), Magazine Luiza (R$ 21,8 bilhões) e Embraer (R$ 12,5 bilhões).

Autor/Veículo: Folha de S.Paulo
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