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Inflação acelera e supera previsões e vai a 1,25% em outubro

A inflação medida pelo IPCA acelerou e subiu 1,25% em outubro, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira, a maior alta para o mês desde 2002. O resultado, puxado pela alta de combustíveis, veio bem acima das expectativas de analistas, que esperavam 1,06%.

Com isso, o índice acumula alta de 8,24% no ano e de 10,67% nos últimos 12 meses, superando muito a meta do Banco Central para 2021, o que pressiona a instituição para aprofundar o ritmo de aperto da elevação da taxa básica de juros, a Selic.

O BC trabalha com meta de inflação de 3,75% em 2021, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual (p.p) para cima ou para baixo, ou seja de 2,25% a 5,25%.

Inflação espalhada

Todos os nove grupos pesquisados pelo IBGE registraram aumento, evidenciando como a inflação está espalhada na economia. Mas é do grupo Transportes — no qual estão os combustíveis — que vem a maior pressão. A gasolina subiu 3,1% em outubro e já acumula alta de 42,72% nos últimos 12 meses. Foi o maior impacto individual no índice.

— A alta da gasolina está relacionada aos reajustes sucessivos que têm sido aplicados no preço do combustível, nas refinarias, pela Petrobras — afirma o gerente do IPCA, Pedro Kislanov.

Os reajustes se devem ao preço do petróleo no mercado internacional, que não para de subir, e à desvalorização do real. Como os preços da commodity são internacionais, a cotação do dólar tem impacto direto nos valores. O litro da gasolina já é vendido por até R$ 7,99 no país.

Houve aumento também nos preços do óleo diesel (5,77%), do etanol (3,54%) e do gás veicular (0,84%). Em 12 meses, o diesel sobe 41,34%.

Ainda nos Transportes, os preços das passagens aéreas subiram 33,86% em outubro, frente a setembro.

— É comum ter um movimento de alta de preços das passagens aéreas em outubro, mas eles têm sido pressionados pela depreciação cambial e pela alta dos combustíveis, no caso, da querosene de aviação. Houve também um aumento da demanda, com uma a oferta de voos que ainda não se ajustou — explica Kislanov.

Conta de luz sobe 30,27% em 12 meses

Botijão de gás e conta de luz também tiveram fortes aumentos, do triplo da inflação, em 12 meses. O botijão subiu 37,86% e a energia elétrica residencial, 30,27%no período. A conta de luz tem ficado cada vez mais cara devido à crise hídrica, que leva o governo a acionar termétricas, uma energia mais cara e poluente.

Além disso, desde setembro, está em vigor a bandeira tarifária Escassez Hídrica, que impõe uma taxa extra de R$ 14,20 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. A medida vai vigorar até 30 de abril de 2022.

Também pesou no bolso das famílias uma forte alta nos alimentos. As carnes subiram 19,71% em 12 meses, apesar de um leve recuo em outubro, quando os preços ficaram 0,04% menores.

Outros alimentos com forte peso na cesta de compras acumulam altas expressivas nos últimos 12 meses. Frango inteiro ficou 29,26% mais caro e o frango em pedaços, 33,28%. Açúcar refinado subiu 47,82%, café moído aumentou 34,53%.Pedro Kislanov, gerente do IPCA, explica que a alta dos preços de alguns alimentos ocorreu principalmente em função de quedas na oferta, causada pelas questões climáticas. Isso afetou o tomate, a batata e o café.

— No caso do café, a safra foi prejudicada pelas geadas, mas as exportações também têm aumentado, o que reduz a oferta para o mercado doméstico. Já o açúcar tem uma competição pela matéria-prima para produção do etanol. Como o combustível está em alta, alguns produtores acabam preferindo utilizar a cana para fazer etanol.

Com relação ao preço do frango, Kislanov explica que a alta é explicada em parte por um efeito de substituição, com os consumidores deixando de comprar carne bovina, que está mais cara, e optando pelas aves.

Em setembro, o IPCA havia registrado alta de 1,16%, a maior variação para o mês desde 1994. Na época, os preços ainda refletiam o final do período de hiperinflação, uma vez que o Plano Real havia entrado em vigor apenas dois meses antes, em julho.

Autor/Veículo: O Globo
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