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Inflação acelera em dezembro e fecha o ano em 4,52%, maior alta desde 2016

A inflação acelerou em dezembro e fechou o ano em 4,52%, segundo dados divulgados nesta terça-feira pelo IBGE. É a maior desde 2016. No último mês de 2020, a alta na conta de luz, com a bandeira vermelha, somou-se à pressão dos preços dos alimentos, que puxaram o IPCA ao longo de todo o ano.

O IPCA mede a inflação oficial do país. O índice terminou 2020 acima do centro da meta, de 4%, mas dentro da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

A expectiva dos especialistas ouvidos pela Reuters era que a inflação encerrasse o ano em 4,2%. Já o último Boletim Focus, divulgado na segunda-feira pelo Banco Central e que reúne expectativas de analistas de mercado, apontava para alta de 4,37%.

Com o IPCA avançando, aumenta a pressão sobre o Banco Central para retomar a alta da Selic, a taxa básica de juros, que está na mínima histórica de 2% há meses. Para 2021, a projeção do Focus é que a inflação encerre o ano em 3,34%. Em 2019, a taxa foi de 4,31%.

A inflação no ano da pandemia foi marcada principalmente pelos preços elevados nos alimentos, influenciados pela alta do dólar, pelos maiores preços das commodities e pelo aumento da demanda interna, que ganhou força com o maior consumo domiciliar e com a injeção do auxílio emergencial na economia.

Alimentos têm maior alta desde 2002
O grupo alimentos e bebidas teve alta de 14,09% em 2020. Foi o maior aumento desde 2002 (19,47%). Entre as maiores altas destacam-se o óleo de soja (103,79%) e o arroz (76,01%). Leite longa vida (26,93%) e carnes (17,97%) também tiveram altas expressivas.

A expectativa é que a alimentação ainda exerça pressão relevante no índice no primeiro trimestre. Mas esta pressão pode desacelerar ao longo deste ano, com o fim do auxílio, a previsão de boas safras e o freio do dólar.

O IPCA de 2020 também foi puxado pelo grupo habitação (5,25%), cuja alta foi influenciada pelo aumento da energia elétrica (9,14%). Boa parte dessa pressão ocorreu no último mês do ano, quando foi introduzida a bandeira vemelha.

— Foram 10 meses na bandeira verde, sem acréscimo na conta. Em dezembro, passou a vigorar no país a bandeira tarifária vermelha patamar 2, com acréscimo de R$ 6,243 a cada 100 quilowatts-hora consumidos. Além disso, houve reajustes tarifários em Rio Branco e Porto Alegre — explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.

O IPCA ficou em 1,35% em dezembro, na comparação com novembro, a variação mais intensa desde fevereiro de 2003 e a maior para um mês de dezembro desde 2002.

Segundo Kislanov, além da pressão da tarifa de energia, outros dois grupos contribuíram para a forte alta do IPCA em dezembro: o de alimentação e bebidas, embora este já apresente desaceleração em relação a novembro, e o de transportes, puxado pela gasolina e pelas passagens aéreas.

O resultado de dezembro surpreendeu o mercado, tanto pelas projeções mensal e anual que eram mais baixas, quanto pela difusão dos itens que pesaram. Para Lisandra Barbero, economista da XP Investimentos, a surpresa foi o aumento do consumo de bens industriais, como eletrodomésticos e eletrônicos para casa.

— Acredito que um conjunto de incentivos contribuíram para este resultado. Para além do auxílio emergencial, os juros em 2020 foram mantidos no mesmo patamar e o estímulo a crédito para empresas e famílias também facilitou este consumo.

O economista da Novus Capital, Daniel Silva, acrescenta que a demanda reprimida ao longo do ano também levaram a alta de consumo de itens para casa em dezembro: — Em 2020, houve uma demanda expressiva desses itens. Por outro lado, a indústria não conseguiu atender totalmente porque parou em abril e maio e ficou com estoque baixo, além de sofrer com a falta de insumos e com a alta do dólar.

Inflação em 2021
Além da alimentação que deve todos dizem que vai desacelerar, analistas avaliam que no início de 2021 itens como planos de saúde, gasolina e transporte público devem pressionar a inflação.

Para Lisandra, o consumo de bens industriais deve se manter por algum tempo, em razão do descompasso entre a oferta e a demanda aquecida e a desvalorização do dólar.

Já Silva acredita que, com a alta do desemprego e o fim do auxílio, mesmo que este consumo se mantenha aquecido, tende a desacelerar.

— O que pressionou em 2020 vai aliviar e o que ficou aliviado em 2021 vai pressionar — resume Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. Ele completa: — Sem poder sair de casa, as pessoas compraram mais itens para casa. Neste ano, com a volta do consumo de serviços, isso deve reduzir.

Aumento gradual da taxa de juros
A projeção do Banco Central é que a taxa de juros seja de 3,25% neste ano. Para os economistas, o aumento dos atuais 2% deve ser gradual e positivo para a recuperação da economia.

— Com a expectativa de desaceleração da inflação, acreditamos que há espaço para manter a Selic em 2% até agosto. Nosso entendimento é que, a partir de agosto, deve acontecer um aumento de 0,25% por mês — diz Lisandra, da XP Investimentos.

Silva, que corrobora Lisandra, complementa: — O consumidor pode ter a impressão que a alta da taxa de juros é ruim, porque vai pagar mais nas parcelas, mas isso será bom para a recuperação da economia como um todo, pois vai regularizar os preços. Com a taxa de juros maior, o consumo diminui e, com menos procura que oferta, os preços baixam.
Inflação dos mais pobres supera IPCA
O IBGE também divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação entre as famílias com menor rendimento. Ele fechou 2020 com alta de 5,45%, acima dos 4,48% de 2019.

Em dezembro, acelerou para 1,46%, frente a alta de 0,95% registrada em novembro. Foi o maior resultado para o mês de dezembro desde 2002.

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Pedro Kislanov observa que INPC ficou acima do IPCA, tanto no acumulado do ano quanto na comparação mensal.

“Isso é explicado, em grande medida, pelo peso de alimentação e bebidas na cesta de produtos e serviços das famílias, que é maior no INPC do que no IPCA. Habitação também tem peso maior, especialmente por causa da energia elétrica”.

O INPC é calculado com base em famílias com rendimento de um a cinco salários mínimos.

Autor/Veículo: O Globo
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