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Investidores duvidam da Petrobras e ação se descola do petróleo

Marcos de Vasconcellos - Quem tem ações da Petrobras sentiu no bolso o impacto dos últimos dias. Seus preços despencaram. E o que tem chamado a atenção dos investidores é o fato de a queda se dar justamente quando o preço do petróleo está subindo.

Tradicionalmente, quem tem ações como PETR3 e PETR4 logo olha o preço do barril de brent quando vê uma oscilação atípica em seu rendimento. E a explicação costuma estar bem ali.

Como a base da empresa é o petróleo, nada mais justo que os papéis oscilem de acordo com o preço da commodity.

Dessa vez, no entanto, checar os preços do brent só serve para gerar mais confusão. Enquanto as ações PETR3 amargaram uma queda de quase 8%, o preço do petróleo subiu mais de 2,5% entre sexta passada e esta quinta-feira (11).

O descolamento entre o preço dos papéis e da commodity se deu justamente porque investidores estão enxergando com maus olhos o distanciamento entre o preço dos combustíveis vendidos pela empresa e o do barril de petróleo.

O ruído começou ali no dia 5, quando notícias falaram sobre uma mudança na política de definição de preços de combustível, em meio a, veja só, uma ameaça de greve de caminhoneiros.

A Petrobras foi a público explicar que não houve mudança na política comercial. O que aconteceu foi que em junho de 2020, a companhia alterou de trimestral para anual “o período de aferição da aderência entre o preço realizado e o preço internacional”. Ou seja: só se vai avaliar se realmente estão cobrando os valores certos a cada 12 meses.

Mas isso, afirma a nota divulgada pela empresa, “não se constitui em rompimento com nosso inarredável compromisso com o alinhamento de nossos preços no Brasil aos preços internacionais”.

O presidente Jair Bolsonaro também fez questão de afirmar e reafirmar a independência da Petrobras para definir os preços.

Tanta negação (a Petrobras dizendo que não mudou nada e o presidente dizendo que não tem influência na estatal) soou como um Canto de Ossanha, aquele segundo o qual o homem que diz “dou” não dá e o homem que diz “sou” não é.

Analistas da XP e do Bradesco reduziram a recomendação para as ações da Petrobras de “compra” para “neutro”. Segundo relatório da XP, existem riscos "cada vez mais elevados de que a política de preços de combustíveis da Petrobras não obedeça a referências internacionais”.

De acordo com a análise do Bradesco, "embora a Petrobras controle o 'timing' de seus ajustes de preço do diesel, a situação com os motoristas de caminhão nos faz acreditar que esse 'timing' poderia não estar de acordo com as expectativas dos acionistas".

Não se trata de algo generalizado do setor de petróleo e gás. A queda da Petrobras a partir do dia 8 foi muito mais acentuada, e a recuperação mais lenta, do que todas as ações de empresas de petróleo e gás negociadas na Bolsa, excluindo a estatal.

É no mínimo curioso que essa desconfiança do mercado em relação à Petrobras tome curso justamente na semana em que foi noticiado que a estatal, pela primeira vez na história, vai terceirizar a produção em suas próprias plataformas.

Ainda nesta semana, a empresa anunciou ter concluído as negociações para vender sua refinaria baiana Landulpho Alves e finalizado a venda das suas ações na BSBios, dona de usinas de biodiesel no Rio Grande do Sul e no Paraná. O valor da transação foi de R$ 322 milhões.

São movimentos de enxugamento que fizeram com que o Sindicato dos Petroleiros acusasse a direção da companhia de tomar atitudes visando somente os lucros, ignorando o bem estar de seus funcionários.

Ao mesmo tempo, a polêmica dos combustíveis fez com que o mercado, por sua vez, acusasse a Petrobras de estar mais ligada a interesses políticos do que à eficiência exigida por seus acionistas.

Entre ruídos e acusações, a certeza que fica é o desconforto do investidor ao ver a maior petroleira do país se desvalorizar na alta do petróleo.

Autor/Veículo: Folha de S.Paulo
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