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IPCA de abril não muda quadro e queda de juros requer redução de incertezas; leia análise

Os números do IPCA de abril não alteraram substancialmente a visão sobre o quadro inflacionário e as perspectivas para a política monetária, ainda que a variação de 0,61% tenha superado as expectativas. Para os próximos meses, a dinâmica inflacionária envolve incertezas de ambos os lados. A continuidade da correção dos choques globais de oferta, os temores com a piora da economia mundial (que já tem afetado preços de importantes commodities, como o petróleo), os impactos ainda vigentes do aperto monetário interno e os efeitos da forte safra agrícola local devem contribuir com a ocorrência de variações mensais mais comedidas.

Por outro lado, há sinais de resiliência da atividade econômica, em um ano marcado por forte expansionismo fiscal. Os ganhos reais de renda, ainda que importantes, têm fornecido sustentação ao consumo das famílias, sendo um fator capaz de limitar os efeitos da política monetária mais apertada. Adicionalmente, as expectativas de inflação acima das metas nos próximos anos, em meio a preocupações com os rumos da política econômica, tendem a elevar a inércia inflacionária, ao estimularem um maior repasse da inflação passada para preços e salários.

Sobre a política monetária, é fato que a Selic atual de 13,75% representa uma taxa real de juros muito contracionista, superior a 8%, o que sugere que há espaço para redução em breve. No entanto, há ainda muitos ruídos envolvendo o cenário inflacionário, que justificam o conservadorismo do Banco Central. Em especial, a necessidade de aprovação do novo arcabouço fiscal, cuja versão final permitirá estimativas mais seguras para a dinâmica do gasto e da dívida. Adicionalmente, há a possibilidade de alteração nas metas de inflação, o que certamente tem contribuído na desancoragem das expectativas longas. Por fim, é preciso observar a evolução de curto prazo da atividade e da inflação, a fim de avaliar se as variáveis estão caminhando na direção necessária para a flexibilização monetária.

Dito isso, avaliamos que tais temas estarão mais bem delineados no início do segundo semestre, o que abrirá caminho para um início gradual de redução da Selic em agosto, com projeção de final de ano em 12,5%. Lembrando sempre que reduções voluntaristas na taxa Selic, ou seja, não acompanhadas pela melhora de fundamentos, não trazem o efeito positivo desejado, pois resultarão na piora das expectativas inflacionárias e consequente aumento das taxas de juros futuras, com reflexos negativos sobre a atividade econômica e o endividamento.

Autor/Veículo: O Estado de São Paulo
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