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Mercado não vê chance de privatização da Petrobras neste mandato

Apesar de promessa do novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, de agilidade nos estudos de privatização da Petrobras, o mercado financeiro não vê chances de aprovação do processo ainda neste mandato.

A avaliação é que a conclusão de eventual venda da estatal depende de uma série de etapas e enfrentará grande resistência no Congresso. No setor de combustíveis, o anúncio foi visto como mais uma cortina de fumaça do governo.

O pedido de estudos para a privatização foi entregue por Sachsida ao Ministério da Economia nesta quinta-feira (12), um dia após a posse do novo ministro de Minas e Energia, que substitui o almirante Bento Albuquerque no comando da área energética do governo.

Sachsida e Guedes defendem também a privatização da PPSA (Pré-Sal Petróleo SA), responsável por gerir a fatia do governo na produção de petróleo em campos do pré-sal.

O analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman lembra que a privatização da Eletrobras começou a ser discutida ainda no governo José Sarney e hoje, mesmo após aprovação de lei no Congresso, enfrenta questionamentos no TCU (Tribunal de Contas da União).

"No caso da Petrobras, o que seria feito é a encomenda de um estudo sobre viabilidade, impactos financeiros... Então, estamos em um processo muito incipiente", diz ele, acrescentando que ainda é cedo para avaliar os impactos sobre a empresa.

"A companhia é muito grande, envolve vários stakeholders [públicos de interesse] e a gente pode pensar num grau de complexidade maior do que estamos vendo na Eletrobras."

O banco UBS BB vê menos obstáculos do que na Eletrobras, que opera em setores mais regulados, mas ainda assim avalia que a privatização da maior estatal brasileira depende da reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).

"[A privatização da Petrobras] pode requerer mudanças na Lei do Petróleo brasileira, o que deve enfrentar resistência significativa no Congresso, mas isso pode avançar, como aconteceu no caso da privatização da Eletrobras", escreveram em relatório os analistas Luiz Carvalho, Matheus Enfeldt e Tasso Vasconcellos.

Diante das incertezas sobre o andamento da proposta, os analistas evitam projeções sobre o impacto de uma eventual privatização sobre as ações da empresa. Da mesma forma, a avaliação é que ainda não é possível mensurar o impacto da troca no MME (Ministério de Minas e Energia) sobre o setor.

"Neste momento, não há clareza sobre quaisquer potenciais mudanças sob a nova gestão do ministério", resumem os analistas do Goldman Sachs Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins.

Albuquerque foi exonerado por Bolsonaro pouco mais de dois dias após reajuste de 8,87% no preço do diesel nas refinarias da Petrobras. Na semana anterior, o presidente da República havia reclamado dos altos lucros da estatal e apelado para que não houvesse novos aumentos.

Dentro da Petrobras e no setor de petróleo, a decisão de trocar o comando do ministério a quem a empresa está ligada foi vista como mais uma medida para tentar agradar apoiadores insatisfeitos, principalmente os caminhoneiros.

É a terceira troca no governo após reajustes de preços dos combustíveis, sem que houvesse mudança significativa na política de preços da empresa. Os dois primeiros demitidos eram presidentes da Petrobras: Roberto Castello Branco e o general Joaquim Silva e Luna.

Indicado por Albuquerque, o presidente atual, José Mauro Coelho, defendeu a política de preços antes e depois de tomar posse, alegando que a prática de preços artificiais causa riscos ao abastecimento de combustíveis no país.

A avaliação do mercado é que, além de prejudicar o abastecimento, uma ordem pelo represamento de preços pode ser questionada por minoritários e virar foco de investigações na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), já que fere o estatuto da companhia.

"Essa ‘dança das cadeiras’ que o presidente vem fazendo é para se eximir da responsabilidade que tem pela alta do preço dos combustíveis", criticou o coordenador-geral da FUP (Federação Única dos Petroleiros), Deyvid Bacelar.

A federação sindical é crítica da política de preços atual e promete "a maior greve da história da categoria petroleira" caso a proposta de privatização da Petrobras avance.

Coelho ainda não se manifestou sobre a proposta de privatização e ainda não há notícias também sobre sua permanência no cargo. Ele se reuniria com o novo ministro de Minas e Energia no início da noite desta quinta.

Autor/Veículo: Folha de S.Paulo
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