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Mistura de biodiesel ao diesel acima de 10% ameaça motores

Embora a adição de biodiesel ao combustível tenha por objetivo reduzir os níveis de emissões dos veículos movidos a óleo diesel, especialmente os pesados, misturas em percentuais acima dos atuais 10% mostraram ser prejudiciais aos motores de caminhões, ônibus, máquinas agrícolas e geradores, além de travamento de bombas de postos de combustível.

Essa questão tem trazido grande preocupação a várias entidades representantes de milhares de empresas fabricantes, distribuidoras, importadoras, revendedoras, transportadoras e indústrias relacionadas ao consumo de diesel. O situação ficou mais grave, explica o diretor técnico da Anfavea, Henry Joseph Junior, porque recentemente veio outro projeto de lei propondo mais adições de biodiesel ao diesel.

De acordo com ele, esse novo projeto pretende elevar a mistura para até 20%. “Foi aí que todo mundo se assustou, porque os problemas começaram a aumentar muito a partir do momento que houve adição além dos 10% , Nem atingimos os 15% e se chegar aos 20% será uma loucura”, alerta.

Os principais problemas detectados, e causadores de aumento do custo de manutenção dos veículos por ele citados, são entupimento do filtro de combustível, forçando a troca em menos tempo; entupimento do bico injetor, exigindo limpeza, pois o veículo começa a funcionar com deficiência e muitas vezes implica na abertura do motor, além da formação de depósitos e borras dentro do motor e cárter.

“Esses eventos elevam o consumo de combustível e o aumento do custo operacional. Em uma grande frota se torna uma situação dramática e toda a sociedade acaba pagando. Portanto, a evolução do percentual de mistura de biodiesel ao diesel implicará em maiores custos para o transporte rodoviário de cargas e de passageiros e, consequentemente, aumento de preços de produtos para toda a sociedade”, explica.

“Caso ocorram, prossegue Joseph Junior, os aumentos lançarão o País em um cenário de estagnação tecnológica, pois impactará no desenvolvimento da indústria automotiva e de equipamentos e comprometerá a prestação de serviços.

Além do aumento das emissões, a partir do momento que o motor para de funcionar adequadamente ele começa a poluir mais e a criar outros tipos de problemas ambientais. “A gente quer mostrar uma matriz energética limpa só que isso está criando problemas nos veículos”, acrescentou.

Ele afirma que o problema da adição acima de 10% acontece tanto no diesel S-10 quanto no S500, e reconhece a importância da introdução do S 10 no País, porque viabilizou novas tecnologias dos veículos no País e reduziu as emissões.

Porém, quando se trata da adição de biodiesel ao diesel, pela sua observação a situação poderia ser pior ainda, pois de acordo com a lei o acréscimo hoje deveria de 13% ou 15%. “Uma resolução do Conselho Nacional de Política Energética falava em aumentos de percentuais de 10% a partir de 2018, subindo 1% ao ano para completar o percentual previsto. Mas problemas ocorridos em 2020, como a falta de biodiesel e o preço no final do ano estar maior do que o do óleo diesel levaram à suspensão da adição e provocou recuo de os 12% para os 10% atuais na mistura”, explicou.

Em 2016, lembra, a Anfavea já havia manifestado que até 10% era possível, porque já tinha testado o combustível e feito comprovações de que essa mistura poderia ser utilizada. Porém, alertava ter preocupação com adição acima de 10%, porque testes realizados mostravam possibilidade de haver problemas.

“Mas não adiantou, a lei foi mantida e desde então e o teor de biodiesel foi sendo aumentado. Neste meio tempo meio tempo o previsto pela Anfavea, ou seja problemas com a mistura em todos os cantos. A quantidade de casos é maior ainda nas regiões Norte e Nordeste”, disse.

O motivo do biodiesel provocar problemas mais acentuados nas duas regiões citadas, pode ser, segundo Joseph Junior, pela diferença do diesel ou falta de controle da qualidade do combustível, permitindo diferentes misturas, mas ressalta que nada conclusivo. “O fato é que a mistura de biodiesel tem causado problemas em todos os cantos”, afirma.

Os problemas, conforme relata, acontecem em todos os motores, dos Euro 5 aos mais antigos, de caminhões ônibus e picapes etc. “ A visão de mercado das montadoras normalmente está com foco maior nos veículos mais novos, que ainda procuram assistência técnica nas redes de concessionárias, porém ficamos assustados quando frotistas e associações de transportadores começaram a comunicar a quantidade de casos ocorrendo até mesmo com veículos bem mais antigos no mercado”, explicou o porta voz da Anfavea.

Daí surgiu a necessidade de um posicionamento conjunto sobre o teor de biodiesel no óleo diesel comercializado no País. Além da Anfavea, outras entidades subscritas como a CNT (Confederação Nacional do Transporte), Fenabrave (Federação Nacional a Distribuição de Veículos Automotores), IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás) e Sindipeças (Sindicato da Indústria de autopeças), entre várias outras, vieram a público manifestar a preocupação quanto às discussões sobre a evolução do teor de biodiesel ao óleo diesel.

PORQUE ACONTECERAM OS PROBLEMAS NO MOTORES

Segundo Joseph Junior, no início a lei falava de fazer um programa de estudos técnicos para comprovar se era viável a mistura de biodiesel ao diesel. “Anfavea e montadoras etc. participaram da discussão, mas, no seu entender os estudos viraram uma grande mentira.

“Foi dado prazo de um ano para os testes de durabilidade, funcionais etc serem concluídos. Mas são testes demorados, além disso nós esperamos mais de seis meses para os produtores e a Agência Nacional do Petróleo preparar e nos entregar o combustível para iniciarmos os trabalhos”, explicou, lembrando que a espera era necessária porque não era um combustível vendido em posto na época. Ainda de acordo com o diretor técnico da Anfavea, após a espera superior a seis meses pelo combustível havia a expectativa de prorrogação do prazo, mas isso não aconteceu.

“Saímos correndo fazendo testes e no meio do caminho tomamos a decisão de que podia ir em frente. Na época manifestamos a necessidade de continuar os trabalhos, porque os resultados obtidos até então apontavam haver necessidade de olhar a questão com mais atenção, mas infelizmente não foi suficiente e veio a decisão através do Ministério de Minas e Energias levando adiante a questão e considerando ser viável aumentar a mistura”, detalhou.

Joseph Junior reforça que se já existem problemas hoje, será pior ainda para os veículos com motores diesel da próxima na fase do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). O Proconve P8, previsto para entrar em vigor em 2022, é equivalente à norma Euro 6 e estabelece novas reduções de emissões veiculares (oxido de nitrogênio, hidrocarbonetos e monóxido de carbono) produzidos pela queima de óleo diesel.

Este é o ponto que mais preocupa, ressalta o representante da Anfavea, porque alguns testes já realizados com fabricantes de autopeças para serem utilizadas na próxima fase mostraram que os componentes sofrem muito com essa questão do biodiesel. “Tem testes, inclusive com apoio da Petrobras de que essa mistura cria problemas seríssimos no sistema de pós-tratamento que é exatamente o item para os veículos atenderem à próxima fase do Proconve”, finaliza.

Autor/Veículo: Transporte Mundial
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