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Na primeira reunião de 2021, BC mantém juros em 2%, mas abre possibilidade para elevação da taxa

O Banco Central (BC) manteve nesta quarta-feira a taxa básica de juros, a Selic, em 2%. Esta é a quarta reunião seguida em que o Comitê de Política Monetária (Copom) decide manter a Selic no menor patamar da série histórica iniciada em 1996.

A manutenção dos juros na primeira reunião de 2021 acontece em um cenário em que as expectativas de inflação para o ano e para 2022 estão próximas das metas estabelecidas para a ação do BC, de 3,75% e 3,5%, respectivamente.

De acordo com o último boletim Focus, que reúne as projeções de mercado, a inflação deve fechar o ano em 3,43% e 2022 em 3,5%, expectativas parecidas com as do do próprio BC, de 3,6% para 2021 e 3,4% para 2022.

Justamente pela proximidade entre as projeções de inflação e as metas, o Copom retirou do comunicado o compromisso de não elevar os juros, o chamado forward guidance.

O instrumento foi utilizado pelo BC nas últimas reuniões para sinalizar que os juros continuariam baixos no médio prazo.

No entanto, esse compromisso estava ligado a um cenário em que a inflação de 2021 e 2022 estivesse longe da meta, o que não é mais o caso. Com essa mudança, a autoridade monetária abre a porta para um possível aumento de juros, como esperam os agentes do mercado financeiro.

"O Comitê reitera que o fim do forward guidance não implica mecanicamente numa elevação da taxa de juros pois a conjuntura econômica continua a prescrever, neste momento, estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade".

Inflação segue em alta, diz Copom
No comunicado, o Copom aponta que a inflação deve continuar subindo nos próximos meses, assim como aconteceu no fim de 2020, mas mantém a avaliação de que o choque é temporário.

"A recente elevação no preço de commodities internacionais e seus reflexos sobre os preços de alimentos e combustíveis implicam elevação das projeções de inflação para os próximos meses.

Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, ainda que tenham se revelado mais persistentes do que o esperado".

Volta do 'balanço de riscos'
A projeção do último boletim Focus é que a Selic termine 2021 em 3,25% e 2022 em 4,75%.

A economista-chefe da BNP Paribas Asset Management, Tatiana Pinheiro, não viu a decisão de retirar esse compromisso como uma surpresa. Ela espera uma alta na Selic apenas no terceiro trimestre e não na próxima reunião, em março:

— O Banco Central preparou o retorno para retirada do forward guidance e para a volta a análise do balanço de riscos que é o que ele sempre usou.

O balanço de riscos envolve uma avaliação mais geral do cenário econômico, incluindo o preço das commodities, o dólar e a situação fiscal, que é alvo de preocupação constante do Banco Central.

Thais Marzola Zara, economista-chefe da LCA Consultores, concorda que o Copom não deve elevar os juros logo em março:

— A gente não sabe exatamente como vai evoluir esse ano. Há o aumento dos casos de Covid, alguns estados têm colocado restrições mais fortes para circulação e isso pode afetar a atividade.

Para o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, uma possível alta nos juros não afetaria a atividade econômica porque o patamar atual é muito baixo. O economista acredita que o processo de aumento da Selic pode começar no segundo trimestre:

— Tem muito espaço para subir a taxa de juros sem implicar em uma piora nas condições financeiras. Você não está promovendo um aperto monetário, mas uma realinhamento da taxa de juros. Mesmo que o processo comece no segundo trimestre e seja lento, dificilmente isso vai afetar as condições de crescimento.

Copom aponta riscos da Covid à economia global
Em 2%, a Selic também continua em um patamar considerado estimulativo, ou seja, que ajuda a induzir a atividade econômica. Com os juros básicos baixos, os financiamentos tendem a ficar mais baratos, estimulando a tomada de crédito para consumo e investimentos.

O Copom avaliou que os índices de atividade econômica no fim de 2020 foram melhores do que o esperado, mas ressaltou que o recente aumento no número de casos de coronavírus ainda não entrou nesse cálculo.

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"Prospectivamente, a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o primeiro trimestre deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais".

No cenário internacional, o Copom destacou o aparecimento de novas cepas dos vírus, o que tem causados novas medidas de distacionamento social com efeito na atividade econômica no curto prazo.

Por outro lado, ressalta pacotes fiscais em diversos países e programas de imunização em andamento, que devem contribuir para uma recuperação "sólida" no médio prazo.

"A presença de ociosidade, assim como a comunicação dos principais bancos centrais, sugere que os estímulos monetários terão longa duração, permitindo um ambiente favorável para economias emergentes".

Autor/Veículo: O Globo
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