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Nova onda de covid na Europa derruba Bolsas; dólar dispara

O aumento dos casos de covid-19 na Europa e nos EUA acentuou a desconfiança em torno da recuperação da economia mundial e fez as Bolsas de Valores europeias e americanas fecharem o dia de ontem em baixa. A cotação do petróleo também recuou e até o ouro, considerado um porto seguro para os investidores, teve queda. No Brasil, o Ibovespa fechou o dia com baixa de 4,25%, a maior em seis meses. O dólar terminou cotado a R$ 5,76, alta de 1,39%, apesar de o Banco Central ter vendido, somente ontem, US$ 1,042 bilhão das reservas do País para tentar conter a disparada. Desde março, o BC gastou US$ 23,451 bilhões. Alemanha e França anunciaram medidas radicais de restrição de circulação para tentar baixar a média de 220 mil contaminações diárias registrada nos últimos sete

dias no continente, um recorde. Somente na França, entre 40 mil e 50 mil novas infecções pelo novo coronavírus têm sido registradas todos os dias. “Estamos imersos na aceleração da pandemia”, declarou o presidente Emmanuel Macron.

Uma nova onda de avanço da covid na Europa e nos Estados Unidos provocou um forte estrago ontem nos mercados globais. As Bolsas de Valores americanas e europeias fecharam em quedas que passaram de 4%, a cotação do petróleo também recuou 5% e até o ouro teve queda de 1,65%.

O Brasil não escapou à onda mundial de pessimismo. O índice Ibovespa, da B3, fechou o dia com queda de 4,25%, aos 95.368 pontos, a maior baixa porcentual desde 24 de abril (-5,45%). O dólar chegou a ser cotado a R$ 5,79, recuou após uma intervenção do Banco Central (ler mais na pág. B3), mas acabou voltando a subir e fechou em R$ 5,76 com alta de 1,39%. É o maior nível desde 15 de maio. O CDS brasileiro (credit default swap) de 5 anos do Brasil, um termômetro do risco país, subiu de 212 para 223 pontos.

Os mercados já vinham mostrando uma certa desconfiança com o ritmo de recuperação da atividade econômica global, por conta de uma segunda onda da covid na Europa. Isso ontem ficou mais claro com anúncios de novos bloqueios na Alemanha e na França e cresceu o temor de que a atividade econômica fique enfraquecida por mais tempo. “Estamos imersos na aceleração da pandemia”, declarou o presidente da França, Emmanuel Macron.

O chefe de gestão e especialista em câmbio e moedas da Galapagos Capital, Sérgio Zanini, avalia que, com a proximidade da eleição presidencial nos Estados Unidos, na próxima terçafeira, a expectativa já era de que esta semana houvesse uma redução da exposição a ativos de risco no mercado internacional. Mas a aceleração de casos de covid na Europa acabou antecipando esse movimento, provocando as fortes quedas em meio ao aumento do temor de piora da atividade global.

“A expectativa é de que a volatilidade continue e, caso a pior combinação se concretize, o Ibovespa pode tomar o caminho dos 80 mil pontos”, diz Renato Chain, economista da Parallaxis Economia. “Além da segunda onda na Europa, a pandemia segue em curso nos EUA, com piora no centro-sul do País”, acrescenta.

Na B3, nenhuma ação do Ibovespa fechou o dia em alta. Petrobrás caiu 6% e os bancos também tiveram quedas expressivas. A CVC caiu 9,88% e a empresa área Azul perdeu 9,58%.

Câmbio. No mercado de câmbio, além do cenário externo, a pressão para desvalorização do real vai permanecer nos próximos meses, em meio ao aumento do risco fiscal do Brasil, a falta de reformas estruturais e o juro real negativo, avalia o banco Société Générale. A previsão é de que o dólar deve fechar 2020 em R$ 5,80 e vá para mais perto de R$ 6,00 em 2021.

Nesse ambiente, o real corre o risco de repetir em 2021 o fraco desempenho deste ano, sendo novamente a moeda de país emergentes com pior desempenho ante o dólar. O estrategista do Société para países emergentes, Dav Ashish, prevê que, nesse ambiente de falta de reformas e desempenho fraco do PIB, a expectativa é de fluxos de capital externo “tímidos” para o Brasil em 2021, ajudando a manter o dólar alto.

A forte pressão de alta do dólar em relação ao real na manhã de ontem fez o Banco Central entrar no mercado para segurar a moeda americana. O BC convocou leilão de venda de dólares das reservas internacionais e negociou com o mercado financeiro um total de US$ 1,042 bilhão. Com a operação, a moeda americana, que se aproximou dos R$ 5,80 antes das 10 horas, acabou recuando para a faixa dos R$ 5,73, e fechou o dia a R$ 5,7619.

Desde que a pandemia se intensificou, entre o fim de fevereiro e o início de março, o BC vem promovendo operações de venda de dólares no mercado financeiro para conter o avanço da moeda americana. A intenção não é necessariamente fazer a cotação cair, mas sim evitar que ela dispare rapidamente, o que poderia desestruturar os negócios. O efeito é paliativo.

De março até agora a instituição já vendeu um total de US$ 23,451 bilhões das reservas internacionais. Apenas em março – no auge das preocupações com a pandemia –, a instituição negociou com o mercado US$ 10,674 bilhões. Apesar do número alto, especialistas não consideram isso preocupante, já que o nível das reservas está em US$ 356,6 bilhões.

Mas a venda de dólar à vista não é a única ferramenta do BC para segurar o câmbio (ler mais no quadro abaixo). Nos últimos meses, a autarquia também promoveu operações de linha – venda de dólares com compromisso de recompra no futuro – e leilões de swap.

O swap é um tipo de contrato cambial que, ao ser negociado no mercado, tem um efeito equivalente à venda de dólares no mercado futuro da moeda americana. Na prática, é uma forma de o BC vender dólares, mas sem ter de mexer nas reservas internacionais – o seguro do País contra crises.

Na manhã de ontem, o BC negociou US$ 600 milhões por meio de swaps cambiais, mas a operação não chegou a ser uma novidade. Previsto desde terçafeira, o leilão de swaps serviu para o BC renovar contratos, de posse do mercado financeiro, que estão para vencer no início de dezembro. Com isso, a autarquia evita uma pressão adicional de alta do dólar ante o real.

Resposta. A atuação do BC ontem foi uma resposta à alta firme do dólar ante o real, mas também em relação a outras divisas de países emergentes ou exportadores de commodities (produtos básicos). Desde cedo, os mercados globais mostravam pessimismo em relação ao enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. A segunda onda da covid-19 na Europa, que atinge países como a França, e os dados de contaminação nos EUA são fatores que ameaçam a retomada econômica global.

No Brasil, a maior dúvida ainda é se o governo de Jair Bolsonaro conseguirá controlar o rombo fiscal. O receio é de que, no limite, o País não consiga equilibrar suas contas e se torne insolvente nos próximos anos. Essa preocupação acabou por fazer o dólar subir mais ante o real, na comparação com o visto em relação a outras moedas.

Autor/Veículo: O Estado de S.Paulo
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