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'Novo pré-sal' ameaçado: diretor diz que Petrobras está 'otimista' quanto a posicionamento do Ibama

A Petrobras espera que o Ibama se posicione sobre o pedido para iniciar testes preparatórios para a esperada campanha exploratória da Margem Equatorial, que abrange uma área do Amapá até o Rio Grande do Norte, nas próximas semanas. A demora por um desfecho tem gerado críticas de diferentes lados da indústria e que apontam para uma decisão política e também determinante para o futuro do setor de óleo e gás no Brasil em meio à expectativa de desaceleração da produção do pré-sal até 2030.

Chamada nos bastidores de “novo pré-sal”, a área desperta grande expectativa em toda a cadeia e esteve no centro dos debates da Offshore Technology Conference (OTC), maior evento da indústria de exploração de petróleo e gás no mar, que acontece em Houston (EUA), nesta semana, devido ao sucesso visto nos países vizinhos. Na Guiana, mais de 10 bilhões de barris de petróleo já foram descobertos. Do lado brasileiro, a chamada Margem Equatorial é formada por cinco bacias: Foz do Amazonas, Potiguar, Pará-Maranhão, Barreirinhas e Ceará.

“Como a gente está em um momento de se obter ou não o direito de fazer um teste, o que é necessário antes da licença, então, a temperatura acaba ficando um pouco alta naturalmente porque está na hora de uma decisão”, diz o diretor de exploração e produção da Petrobras, Joelson Mendes, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

De acordo com ele, não há um prazo definido para o Ibama se posicionar. “A gente tem expectativas de que essa resposta seja nas próximas semanas”, afirma o diretor da Petrobras, que se diz “otimista” em relação ao tema.

Mendes acrescenta que a companhia está disponível para responder aos questionamentos do Ibama, como tem feito recentemente, e fazer tudo o que é necessário para obter o aval ambiental para explorar a Margem Equatorial. Dentre as principais dúvidas do órgão, estão questionamentos técnicos e, principalmente, como a produção na área poderia afetar a comunidade local. Mendes afirma, porém, que isso ainda não está em debate no momento.

“Quando a gente faz uma descoberta, se a gente for muito rápido vai levar seis, oito anos para desenvolver. O processo de desenvolvimento da produção na indústria do petróleo é lento. Hoje, o que a Petrobras está querendo saber é se tem petróleo ali ou não”, explica o diretor da Petrobras. “Como desenvolveríamos na hipótese de haver é uma outra questão, um outro processo de licenciamento.”

Em parecer obtido pelo Estadão/Broadcast, dez analistas do Ibama defendem rejeitar o pedido da Petrobras para realizar testes na Margem Equatorial, sob a justificativa de forte impacto na região. O pedido de licenciamento ambiental foi iniciado pela britânica BP no passado e foi continuado pela estatal brasileira.

Mendes diz que a Petrobras já perfurou mais de mil poços em águas profundas ou ultraprofundas, sem causar nenhum problema ambiental, nem pequeno, muito menos, de grande porte. Além disso, afirma que desde o acidente da BP, nos Estados Unidos, em 2010, um dos piores desastres ambientais, o setor de óleo e gás evoluiu muito no que chama de “capacidade de resposta” e que a Petrobras está alinhada às maiores empresas do mundo.

“A Petrobras opera há mais de 30 anos em terra (onshore) no Amazonas e também entendemos que podemos fazer isso no mar. Nós já perfuramos mais de mil poços no Brasil em lâminas de águas profundas ou ultraprofundas, sem nenhum problema, nada, zero”, afirma. “Estamos cada vez mais preparados para não deixar acontecer.”

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Para o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Rodolfo Henrique de Saboia, a decisão de explorar ou não a Margem Equatorial é uma “questão estratégica” para o País e não uma “mera decisão técnica”.

Além do potencial da região, que é “enorme”, o Brasil precisa encontrar novas fronteiras energéticas considerando que o pré-sal vai engrenar em uma trajetória de desaceleração até 2030, alerta. Como no setor de óleo e gás, os projetos são de longo prazo, a decisão, de explorar ou não o potencial da Margem Equatorial, tem de ser tomada agora.

“É um potencial enorme (na Margem Equatorial) e que a gente simplesmente pode estar deixando de transformar em riqueza para uma região tão carente de investimento e que vai se beneficiar dela”, diz Saboia. “O que eu acho é que a gente tem que enfrentar a decisão. Decidir, olhar, ouvir todos os atores envolvidos e uma decisão política a ser tomada a respeito.”

O presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Roberto Ardenghy, afirma que está otimista em relação ao futuro posicionamento do Ibama sobre a Margem Equatorial, evidenciando que se trata apenas de um “poço exploratório” para saber se há realmente petróleo, como no lado da Guiana, em um cenário de declínio das reservas de petróleo no Brasil. “Todos os dias, à meia-noite, o Brasil produz 3,5 milhões de barris de petróleo, com eficiência, cuidado operacional e muita responsabilidade ambiental”, diz.

O diretor-presidente da Enauta, Décio Oddone, reforçou o coro de críticas à pressão ambiental em torno da Margem Equatorial, durante a OTC. “É uma decisão política no nível mais alto”, afirmou, a uma plateia de investidores estrangeiros e atores do setor, também chamando atenção para a necessidade de se explorar novas fronteiras na indústria visto que a produção do pré-sal, tido como muitos ainda como um ‘bilhete premiado’, está em vias de desacelerar à frente.

Segundo Mendes, da Petrobras, caso o Ibama rejeite o pedido da Petrobras para iniciar um teste na Margem Equatorial, a companhia seguirá com o seu planejamento de exploração, mas em um local diferente. O “plano B” prevê a migração dos trabalhos para outro ponto da região, mais precisamente na Bacia Potiguar, no Rio Grande do Norte, onde a estatal brasileira prevê dois poços. São eles Pitu Oeste e Anhanga. “O nosso planejamento é fazer um investimento de US$ 2,9 bilhões na Margem Equatorial nos próximos cinco anos. Estamos falando de uma região inteira”, conclui.

Autor/Veículo: O Estado de S.Paulo
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