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O carro elétrico e o impacto no Brasil

O que até agora se limitava a ser decisão de apenas alguns países passou a ser de toda a União Europeia: a partir de 2035 não se venderão mais veículos novos leves movidos a energia fóssil dentro do bloco. É decisão que terá impacto sobre a economia do Brasil, cujo governo vem ignorando consequências desse tipo.

Na China, 27% das vendas de veículos já são de elétricos, na Noruega, 79%; na União Europeia, a média é 21%. O mundo caminha inexoravelmente para o carro elétrico, em direção às emissões zero de carbono até 2050. O mercado de carros elétricos poderá chegar a 45% das vendas totais de veículos já em 2030, segundo previsões do Citibank.

Esse movimento não se limita ao estancamento do consumo de combustíveis fósseis. Atinge também a produção de energia elétrica, para a qual se destinam hoje no mundo também derivados de petróleo. De nada adiantaria evitar emissões de carbono pelos escapamentos dos veículos se continuassem a se espalhar no ar pelas chaminés das usinas termoelétricas.

O primeiro impacto é o do apressamento do fim da era do petróleo. O recado para o Brasil e para a Petrobras é claro: está cada vez mais próximo o dia em que a demanda global de petróleo, hoje em torno de 100 milhões de barris diários, começará a baixar. O prazo de validade se situa no início dos anos 2040, mas poderá ser antecipado. Isso significa que o petróleo que até o fim do ciclo não tiver sido produzido está condenado a permanecer indefinidamente nas profundezas, como acontece hoje com as ainda abundantes jazidas de carvão mineral.

O tempo que permeia a descoberta de um campo de petróleo e o início de sua produção gira em torno dos sete anos, porque antes é preciso prover o desenvolvimento de poços e dispendiosa infraestrutura. No entanto, as autoridades brasileiras se comportam como se não houvesse esse amanhã, de modo a aproveitar o petróleo do subsolo antes que o interesse por ele desapareça. Acham que a Petrobras deva seguir investindo pesado em atividades secundárias.

Outra urgência está na política industrial. Se o carro elétrico é inexorável, não adianta insistir em veículos movidos a combustíveis fósseis no Brasil, que não terão mercado externo, nem mesmo em países do Mercosul, que também terão de se enquadrar.

Os usineiros de etanol se aferram ao argumento de que carro a álcool é carro limpo e que deve ser preservado. Mas, outra vez, não dá para contar com sua exportação, porque clientes em potencial não produzem etanol e não será o Brasil que se encarregará de fornecer refil para motores a álcool.

São consequências que o governo brasileiro não pode continuar ignorando.

Autor/Veículo: O Estado de São Paulo
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