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O que esperar de Petrobras após definição do novo Conselho

Após semanas de incertezas em torno das interferências do Governo na Petrobras, algumas decisões foram finalmente consolidadas. Em Assembleia Geral Extraordinária (AGE) realizada na segunda-feira (12), o atual CEO da estatal Roberto Castello Branco foi oficialmente destituído da liderança do Conselho de Administração da companhia. O executivo virou alvo do presidente Jair Bolsonaro por conta das altas nos preços dos combustíveis e teve a demissão anunciada em fevereiro.

O general Joaquim Silva e Luna, indicado por Bolsonaro para ocupar o lugar de Castello Branco, foi aprovado para integrar o Conselho. O próximo passo é que ele seja votado para a presidência da estatal. Dos oito membros eleitos na reunião de ontem, sete foram indicados pelo Governo e apenas um pelos acionistas minoritários.

Para Flavio Conde, chefe de análise da Inversa Publicações, a notícia é negativa para a estatal, já que a União conseguiu emplacar a maioria e vencer o ‘mercado’ (representado pelos minoritários).

“Em outros governos também foi assim e eles (FHC, Lula, Dilma e Temer) faziam o que queriam na Petrobras. O que preocupa o mercado agora? Preocupa se a política de preços dos derivados do petróleo vai mudar, deixando de acompanhar os preços do mercado internacional – que são cotados em dólar – mais a variação da cotação do dólar no Brasil”, afirma o especialista

Segundo Conde, a probabilidade de nenhuma alteração ocorrer na política de preços da Petrobras é pequena. Na visão dele, o cenário mais provável é de que os reajustes nos combustíveis, hoje semanais, passem a ser feitos trimestralmente e sem considerar o dólar – o que geraria uma defasagem e prejuízos para a estatal no período.

“O que fazer com as ações da Petrobras? Vender e trocar por umas 3 ou 4 ações como Suzano, Gerdau, Itaú e Eletrobras. Se quiser mais emoção, pode acrescentar Oi”, aconselha o chefe de análises da Inversa.

Caso Silva e Luna determine a extinção de uma política de preços, seja ela qual for, e a redução dos preços do diesel e do gás de cozinha, outros dois resultados seriam esperados: o aumento da popularidade do presidente e uma queda de 15% nas ações da Petrobras.

Na segunda-feira, dia da reunião, as ações da estatal já sentiram o impacto das preocupações dos investidores em relação ao que seria decidido para o comando da Petrobras. Após dispararem 3,10% nas primeiras horas de pregão, os papéis PETR4 declinaram e terminaram a sessão em alta de 1,01%, aos R$ 23,89. Segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, o dia foi dicotômico.

“Tiveram notícias positivas de que a companhia chegou a um acordo com a União para a compensação dos campos de exploração de Atapu e Sépia, e esse foi o ponto principal para que a estatal tivesse ganhos”, afirma o especialista. “Mas os ganhos foram mitigados pelo medo em torno da reunião do Conselho, com a eleição desses oito conselheiros.”

Renúncia do único conselheiro ‘do mercado’?

Fora Luna, outros sete foram eleitos para o órgão administrativo: Eduardo Bacellar Leal Ferreira (presidente do Conselho), Sonia Julia Sulzbeck Villalobos, Cynthia Santana Silveira, Marcio Andrade Weber, Murilo Marroquim de Souza, Ruy Flaks Schneider e Marcelo Gasparino da Silva (único escolhido pelos minoritários)

Entretanto, ainda na segunda-feira (12), Marcelo Gasparino declarou que renunciaria ao cargo logo depois de assumir o Conselho da companhia. A medida seria uma forma de reivindicar eleições mais justas e claras. De acordo com a mensagem divulgada em seu LinkedIn, Gasparino afirma que houve ‘no mínimo, distorções’ no processo de recebimento e apuração dos votos feitos à distância.

“Se eleito pelo processo de votação […], tomarei posse e renunciarei para que uma nova reunião possa ser convocada e que os votos depositados através do Boletim de Voto à Distância cheguem corretamente para a Petrobras”, afirma o executivo, eleito pelos minoritários.

O imbróglio da política de preços

O motivo do desentendimento que levou Bolsonaro cravar a demissão de Castello Branco foi a insatisfação do líder do Executivo com o aumento dos preços dos combustíveis, como diesel e o gás de cozinha. Os reajustes são impopulares e atingem importantes bases eleitorais do líder do Executivo, já de olho no pleito de 2022.

“As gestões anteriores acompanhavam semanalmente os preços do mercado internacional vezes a cotação do dólar e reajustava todos os derivados. Só que o dólar pulou de R$ 5,19 para R$ 5,74, nos primeiros 3 meses de 2021. O petróleo Brent foi de US$ 51/barril para US$ 64, no período”, diz Conde. “Aí a Petrobras reajustou e o resto vocês já sabem.”

A disparada dos preços dos barris de petróleo e disparada do dólar resultaram em um aumento de mais de 35% nos preços de gasolina, diesel, gás de cozinha e outros derivados apenas em 2021. “O que gerou um aumento forte da inflação, reclamações de consumidores e do presidente da República. Em seguida, o presidente demitiu o Castello Branco e indicou o general Silva e Luna.”

Autor/Veículo: O Estado de São Paulo
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