Notícias

O que explica o prejuízo da Petrobras e o que esperar do futuro

O primeiro prejuízo da Petrobras desde o terceiro trimestre de 2020, quando o país estava no auge da pandemia, tem algumas explicações técnicas e um efeito político corrosivo. Afinal, a gestão petista levou a estatal ao prejuízo no passado e a leitura mais frequente será que os mesmos erros estão sendo cometidos. E o que é pior, esse é o primeiro resultado da nova presidente Magda Chambriard. O prejuízo foi de R$ 2,6 bilhões. No primeiro trimestre, a Petrobras registrou lucro de R$ 23,7 bilhões.

O que explica o resultado é, segundo a empresa, a alta do dólar que ficou particularmente volátil nesse período, e o acordo tributário feito de uma grande disputa de impostos que a empresa tinha com a Receita Federal, o acordo do Carf. Ele tem um resultado no caixa menor do que o resultado contábil. A disputa tributária era de R$ 45 bilhões, mas o valor de tesouraria foi bem menor. O valor da transação tributária tem impacto de US$ 2,1 bilhões no lucro líquido e o impacto em caixa foi de US$ 700 milhões de dólares.

"No segundo trimestre de 2024, o resultado financeiro associado a itens não recorrentes, principalmente os efeitos da adesão à transação tributária e do acordo de trabalho de 2023, resultaram em um prejuízo de R$ 2,6 bilhões. Excluindo os itens mencionados e a desvalorização do real em relação ao dólar, o lucro líquido teria alcançado R$ 28 bilhões, enquanto o EBITDA ajustado seria de R$ 62,3 bilhões", diz o texto.

Os pontos positivos que a empresa tenta mostrar no balanço negativo é que a Ebitda continua em linha com o resultado do primeiro trimestre e a fluxo de caixa operacional recorrente permaneceu no mesmo nível. A dívida também ficou abaixo de US$ 65 bilhões de dólares. Além disso os efeitos desses problemas não vão afetar na mesma magnitude os resultados dos últimos dois trimestres do ano, na visão dos analistas da Petrobras. Por isso eles esperam lucro ao final do ano.

Mesmo com resultado negativo no trimestre, haverá distribuição de dividendos ordinários no valor de R$ 13,57 bilhões, equivalentes a R$ 1,05, que serão pagos em novembro e dezembro deste ano. A explicação para distribuir dividendos de um resultado negativo é porque na Petrobras o dividendo é calculado pelo fluxo operacional menos os investimentos realizados no período. Além disso, a empresa tem um resultado acumulado positivo, e tem reserva de remuneração de capital.

Visão do mercado
Nos últimos dias, o mercado não projetava um prejuízo, mas sim um lucro menor ante o mesmo período do ano passado, entre R$ 11 bilhões e R$ 14 bilhões. Na conta, estava exatamente o acordo bilionário da estatal feito com o governo para encerrar litígios de tributação envolvendo o pagamento do afretamento de embarcações. Apontavam ainda, a questão do dólar, queda da produção de petróleo e a defasagem do preço dos combustíveis.

Lembrando que, no primeiro trimestre, a Petrobras registrou lucro de R$ 23,7 bilhões, queda de 38% em relação ao mesmo período do ano anterior. À época, a Petrobras afirmou que o desempenho no trimestre foi resultado de queda nas vendas e pelos preços dos combustíveis.

Anderson Santos, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital, explica que a alta do dólar tem impacto significativo nas operações da Petrobras. Isto porque os custos dos insumos e equipamentos importados aumentam, pressionando os custos operacionais. Além disso, a empresa possui uma parcela considerável de sua dívida em dólares, o que aumenta o valor da dívida em reais quando o dólar se valoriza, impactando negativamente os resultados financeiros.

Já Ilan Arbetman, analista de Equity Research da Ativa, explica que para efeito de balanço, o preço do barril Brent e o dólar são dois pontos que pesam mais. A moeda norte-americana teve valorização de 16% este ano e a curva de preços do petróleo Brent manteve-se em alta (entre US$ 90 e US$ 85 por barril no trimestre)

Em conversa antes do resultado, Arbetman afirmava que, em sua opinião, o primeiro resultado da Magda ainda teria muito da gestão de Jean Paul Prates, ex-presidente que foi demitido da companhia em maio.

-É muito pouco tempo para que você personifique uma gestão. Não dá tempo. A Petrobras é muito grande. É um transatlântico. Por mais que tivéssemos, sim, mudanças muito grandes, tanto no CEO como no CFO, alguns diretores, mas, possivelmente, nesse resultado ainda teremos bastante coisa na gestão passada.

Autor/Veículo: O Globo
Compartilhe: