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Petrobras foi a petroleira que mais reduziu investimento este ano

O recente anúncio do corte de investimentos da Petrobras na área de exploração e produção (E&P) para os próximos cinco anos revela que a estatal resolveu dar uma freada bem maior do que a registrada por outras grandes petroleiras.

Levantamento inédito feita pela consultoria internacional IHS Markit, a pedido do GLOBO, revela que a redução de investimentos totais da Petrobras, neste ano, já chega a 65%, passando de US$ 27,4 bilhões, feitos em 2019, para US$ 8,6 bilhões.

A PetroChina vai investir até dezembro US$ 28,3 bilhões, um recuo de 33% frente aos aportes do ano passado. A gigante Exxon vai gastar US$ 23 bilhões (-26%) e a Shell investirá US$ 20 bilhões (-31%).

Para os próximos cinco anos, a estatal brasileira fará outro corte: os recursos para exploração e produção vão passar de US$ 64 bilhões, na previsão anterior, para uma faixa entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões.

A freada na área de exploração e produção deve significar também um crescimento menor em royalties nos próximos anos.

Efeito pandemia

Para especialistas, todas as petroleiras tiveram que reduzir seus investimentos por conta da pandemia do novo coronavírus, que derrubou os preços do petróleo e o consumo de combustíveis em todo o mundo. A expectativa do mercado é que a demanda mundial de petróleo ainda levará tempo para retomar os níveis anteriores à pandemia.

Além desse problema, a Petrobras tem de lidar com seu elevado endividamento. A estatal vai conjugar a redução de investimentos com a aceleração na venda de ativos.

Segundo fontes, a intenção da estatal é aumentar em pelo menos US$ 3 bilhões, em relação aos quase US$ 27 bilhões já anunciados até 2024. Essa mesma fonte destacou que a companhia deve buscar a venda, total ou parcial, de vários campos no pós-sal, entre outros ativos que deixaram de ser econômicos diante dos preços baixos do petróleo.

A estatal está retirando de sua carteira de projetos aqueles que não são economicamente viáveis com o preço do barril em, no mínimo, US$ 35. Por isso, a companhia está fazendo uma avaliação do que pode ser postergado e o que deve ser cancelado. Os detalhes estarão no plano de negócios 2021/25, que deve ser anunciado em novembro.

O mercado vem reagindo de forma positiva à estratégia da estatal. Para Luis Sales, analista da Guide Investimentos, o corte de investimentos se enquadra no novo cenário mundial de muitas incertezas, com os preços do petróleo se recuperando apenas parcialmente. Atualmente, o barril estacionou na faixa dos US$ 40.

— O cenário para o setor de petróleo continua muito delicado, então faz mais sentido reinvestir em projetos em que a companhia tenha um retorno mais satisfatório. Ela deve vender mais ativos não tão atrativos e investir no que realmente compensa, que é o bloco de Búzios — destacou.

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, tem reafirmado que o foco da companhia está na busca incessante da redução de custos em todas as áreas, no investimento na produção de petróleo em águas profundas e ultra profundas, que geram maior retorno, e na redução do endividamento da companhia.

— Neste ambiente desafiador, a estratégia é ampliar produção em águas profundas do pré-sal, que tem custo muito baixo e limitar as demais de custo elevado. O programa de desinvestimento será importante para normalizar sua alavancagem — afirmou Pedro Galdi, da Mirae Asset.

Autor/Veículo: O Globo
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