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Petrobras foi a segunda maior pagadora de dividendos do mundo em 2022; veja ranking

A Petrobras foi a segunda maior pagadora de dividendos do mundo em 2022, distribuindo US$ 21,7 bilhões do seu lucro aos acionistas. Os dados são da 37ª edição do Índice Global de Dividendos da gestora Janus Henderson.

  • A estatal brasileira teve o maior crescimento na distribuição de dividendos em 2022, com avanço de US$ 12,6 bilhões em relação a 2021.
  • A Petrobras foi a única representante da América Latina entre as 20 companhias que mais pagaram dividendos no mundo.
  • A campeã de dividendos foi a BHP, mineradora anglo-australiana com sede em Melbourne, que pagou US$ 23,5 bilhões.
  • Segundo o relatório, a Petrobras só não foi a maior pagadora de dividendos do mundo porque a Austrália possui um sistema tributário que taxa os dividendos de forma diferente que o Brasil. Se ambos os países tivessem um sistema de cobrança semelhante, a Petrobras teria liderado o ranking.

O relatório analisa trimestralmente as 1.200 maiores empresas do mundo por valor de mercado, que representam 90% dos dividendos distribuídos globalmente. A Janus tem cerca de US$ 287 bilhões em ativos sob gestão.

O que explica?

A farta distribuição de dividendos por petrolíferas foi impulsionada pela alta do petróleo no mercado internacional, com o barril do Brent atingindo patamares na casa dos US$ 140, após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia. Isso ajudou o caixa da empresa que adotou, nos últimos anos, uma política de paridade de preços com o mercado internacional.

Além disso, no ano passado, o governo federal pediu para que empresas estatais aumentassem a distribuição de dividendos com o intuito de ajudar as melhorar as receitas da União em meio ao ano eleitoral.

Ranking:

  1. BHP
  2. Petrobras
  3. Microsoft
  4. Exxon Mobil
  5. Apple
  6. China Construction
  7. Rio Tinto
  8. China Mobile
  9. J.P.Morgan
  10. Johnsson&Johnsson

Perspectivas para 2023

Para esse ano, no entanto, a perspectiva é oposta. Diversos analistas de mercado esperam um repasse menor por parte da empresa com a mudança de governo e de comando interno. Integrantes do Executivo, incluindo o próprio presidente Lula (PT), já realizaram inúmeras críticas públicas à política de distribuição adotada pela empresa.

Além disso, um preço menor do barril de petróleo, possíveis mudanças na política de paridade de preços, e o maior investimentos em áreas que não são o core business da companhia devem limitar o repasse.

— Ao que tudo indica, deveremos ter uma mudança na política de precificação de combustíveis e também de investimentos. As duas podem afetar bastante a capacidade de distribuição de dividendos. A redução nos preços dos combustíveis, anunciada ontem para compensar o efeito da reoneração, e a taxação sobre exportações afetam, mas são bem menos relevantes para os dividendos do que uma mudança drástica nas políticas de precificação e de investimentos — disse o analista da Empiricus Research, Ruy Hungria.

A perspectiva de uma menor distribuição de proventos, dentre outras mudanças, já vem sendo citada por analistas desde o fim do período eleitoral no ano passado. Com isso, diversas casas já cortaram a recomendação para a empresa.

O diretor de alocação e distribuição da InvestSmart, André Meirelles, afirma que o pessimismo em relação a possíveis interferências por parte do governo já foram incorporadas nas ações das empresas nos últimos meses, mas que há espaço para novas quedas.

— A distribuição de dividendos atraiu investidores que aderem a essa estratégia. Com a mudança na política de distribuição, a tendência é que esses investidores procurem outros papéis. Quando a empresa decide reter o lucro líquido para investir ou adotar qualquer política que possa impactar negativamente em sua receita a tendência é que haja um impacto negativo na distribuição de dividendos, o que não será necessariamente bem visto pelo mercado.

Em relatório, analistas do Itaú BBA afirmaram que a preocupação preexistente com o futuro da política de preços da Petrobras se intensificou.

Entre as justificativas, eles citam as recentes críticas à autonomia da empresa para fixar preços, o fato da política de preços ter se tornado tema frequente em reuniões políticas e pelo anúncio de redução das alíquotas na terça-feira ter coincidido com o dia em que o governo anunciou a volta dos impostos federais.

O operador de renda variável da Legend Investimentos, Bruno Burth, também avalia que há incertezas no mercado sobre o futuro da precificação dos combustíveis.

— O cenário base é o de aumento do capex da empresa, que deve passar a investir mais e pagar menos proventos aos acionistas. Dificilmente a empresa irá repetir 2022 em termos de distribuição de dividendos.

Em 2022, no mundo inteiro, as companhias de petróleo, gás e energia registraram o maior crescimento nominal de dividendos no ano, avançando 56,3%, enquanto o segmento de bens discricionários teve alta de 23,5% e o industrial subiu 19%.

Empresas brasileiras pagam US$ 33,8 bilhões

Os dividendos das companhias nacionais registraram performance anual recorde de US$ 33,8 bilhões em 2022, com um crescimento nominal de 24% ante os US$ 27,3 bilhões pagos em 2021. Os dados foram impulsionados pela Petrobras.

Isso impulsionou, adicionalmente, o resultado dos mercados emergentes, que acumularam US$ 151,4 bilhões no ano passado, 13% a mais do que os US$ 133,9 bilhões pagos em 2021.

Entre as empresas da América Latina, a Vale aparece no segundo posto regional e na 32ª colocação global, após figurar no oitavo lugar de 2021, com distribuição de US$ 6,86 bilhões.

A Ecopetrol, da Colômbia, ocupou a 58ª posição, com proventos de US$ 4,72 bilhões. E a Ambev ficou no 94º posto, com os acionistas embolsando US$ 3,57 bilhões. JBS, WEG e Bradesco também aparecem no ranking.

Volume maior

O levantamento completo, que leva em conta dados de três mil companhias mostra que foi pago um recorde de US$ 1,56 trilhão em 2022, um crescimento nominal de 8,4% em comparação a 2021, quando os proventos alcançaram US$ 1,44 trilhão. Se observado o crescimento subjacente (com ajustes devido ao efeito cambial e aos dividendos não recorrentes), o salto foi de 13,9%.

Os dividendos do relatório são calculados brutos, utilizando a quantidade de ações na data de pagamento e convertidos utilizando a taxa de câmbio vigente. Segundo a gestora, o resultado é uma aproximação, já que as empresas fixam a taxa de câmbio um pouco antes da data de desembolso.

Expectativas mais pessimistas

Apesar da distribuição superior em 2022, as perspectivas para 2023 são mais negativas. Desde o ano passado, bancos centrais de economias desenvolvidas têm aumentando as taxas de juros a fim de combater a inflação, o que deve levar a uma desaceleração econômica no ano e impactar no desempenho das empresas.

“O fluxo de caixa corporativo ficará, portanto, sob pressão tanto dos níveis mais baixos de demanda quanto do custo mais alto do serviço de empréstimos, o que limitará o espaço para o crescimento dos dividendos” destaca a gestora de portfólio da Janus Henderson, Jane Shoemake, no relatório.

Jane pondera que a reabertura da China provavelmente impulsionará o crescimento econômico assim que a atual onda de infecções por Covid-19 no país passar.

“Esperamos que o crescimento dos dividendos desacelere dos níveis excepcionalmente altos desfrutados em 2022, mas acreditamos que os dividendos ainda provavelmente subirá mais em 2023”, ressaltou.

Autor/Veículo: O GLOBO
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