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Petrobrás lidera a lista dos maiores prejuízos no 1º semestre

Entre 582 empresas de capital aberto da América Latina que divulgaram seus balanços até o dia 21, a Petrobrás foi a que teve o maior prejuízo no primeiro semestre, com uma perda de US$ 9,4 bilhões (R$ 51,5 bilhões), segundo um levantamento realizado pela Economatica, uma empresa de dados financeiros e tecnologia.

De acordo com a diretora financeira e de relacionamento com investidores da empresa, Andrea Marques de Almeida, o prejuízo foi provocado pela redução do consumo de combustíveis no mercado interno, em função das medidas de isolamento social e da diminuição da atividade econômica, e pelas provisões realizadas para cobrir o plano de demissão voluntária proposto aos funcionários.

Também teve forte impacto no resultado do período a reavaliação geral realizada nos ativos da companhia, como os campos de petróleo, para adequá-los às novas expectativas para os preços internacionais do produto no longo prazo, inferiores aos previstos antes da pandemia. Ainda que a perda tenha sido compensada em parte com o impacto da alta do dólar nas exportações, mesmo com a queda no volume exportado, o prejuízo acumulado pela Petrobrás no fechamento do semestre foi colossal.

Dívida dolarizada

Além da Petrobrás, das companhias aéreas, que tiveram perda quase total de receita na pandemia, e da Oi, que já vem cambaleando há anos, a Suzano aparece num surpreendente terceiro lugar na lista, recheada com 11 empresas brasileiras, com um prejuízo de US$ 2,3 bilhões (R$ 12,6 bilhões) no semestre.

A Suzano, como o setor de papel e celulose de forma geral, até faturou mais na pandemia, com alta de 20% nas receitas e de 35% no volume de celulose vendido aos clientes, segundo o principal executivo da área financeira da empresa, Marcelo Bacci. Isso se deu, em boa medida, de acordo com ele, por causa do aumento da demanda por papéis sanitários – uma área que representa cerca de 60% das vendas de celulose da companhia.

Como 80% da receita da Suzano vêm de exportações, a empresa também se beneficiou com a alta da moeda americana, que mais do que compensou a queda nos preços da celulose no mercado internacional desde antes da pandemia. Bacci afirma que o fato de o setor ter sido considerado como atividade essencial em muitos países, inclusive no Brasil, permitiu que a Suzano continuasse a operar durante a crise, sem precisar fechar fábricas e parar a produção.

Mas, apesar de o resultado operacional ter sido positivo, ele não foi suficiente para neutralizar as perdas financeiras registradas no período. Por ter uma dívida em dólar de US$ 12,4 bilhões, a empresa é obrigada pela legislação a reconhecer o impacto da desvalorização cambial de uma só vez, apesar de seus compromissos terem um prazo de vencimento médio de sete anos. A legislação brasileira também impõe a conversão da dívida em reais com base na taxa de câmbio em vigor na data de fechamento do balanço.

Com isso, embora a dívida tenha ficado praticamente estável em dólar, ela deu um salto em reais, passando de cerca de R$ 50 bilhões no fim de 2019 para R$ 66 bilhões em 30 de junho, anulando o resultado operacional positivo e tingindo os números do balanço de vermelho. “Eu tenho de contabilizar uma dívida que não vence hoje, mas não posso fazer isso com a receita futura. Isso cria uma distorção contábil que levou a esse prejuízo”, diz Bacci. “O paradoxo é que a gente teve uma geração de caixa muito forte, mas um resultado líquido que foi um enorme prejuízo por causa dessa regra contábil.” Talvez isso ajude a explicar por que as ações da Suzano subiram cerca de 10% desde a divulgação do balanço há 15 dias.

Autor/Veículo: O Estado de São Paulo
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