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Petrobras não adotará paridade de importação nos preços de combustíveis, diz Prates

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou, nesta quinta-feira (2), que a nova política de preços seguirá atrelada às cotações internacionais, mas sem considerar necessariamente os custos para importação dos produtos.

Prates disse que o modelo atual, que prevê o acompanhamento de um preço de paridade de importação, conhecido como PPI, obriga a empresa a fazer o preço de seus concorrentes, estratégia adotada por gestões anteriores, segundo ele, para beneficiar importadores e abrir o mercado.

"Por que eu sou obrigado a praticar o preço do concorrente?", questionou. "O PPI é uma abstração, uma referência. O PPI só serve para deixar o concorrente confortável."

A previsão é que a nova política de preços da companhia comece a ser debatida quando o conselho e a diretoria forem renovados, o que deve ocorrer até maio. Ainda não há uma fórmula definida, mas a paridade de importação não mais será obrigatória.

"Não existe bala de prata, não existe um único preço de referência para o Brasil todo. O PPI virou um dogma. Tudo é PPI. O mercado brasileiro é diferente, é diverso", criticou.

Prates disse que recebeu do governo a orientação de seguir todas as regras de governança da estatal e, por isso, tanto a mudança na política de preços quanto na política de dividendos dependem da renovação da alta administração da companhia.

As duas são alvo de duras críticas do PT. Em 2022, ano em que praticou preços recordes dos combustíveis, a Petrobras teve o maior lucro da história das companhias abertas brasileiras e anunciou a distribuição de até R$ 216 bilhões em dividendos.

"A Petrobras vai praticar preços competitivos do mercado nacional, do mercado dela, conforme ela achar que tem que ser para garantir sua fatia de mercado", disse o executivo, em sua primeira entrevista coletiva como presidente da Petrobras.

Questionado sobre os impactos negativos de controles de preço em gestões petistas, ele disse que não vai "canibalizar, aniquilar" a margem de lucro da empresa. "Mas eu posso disputar o meu mercado com a minha margem. Intervencionista era o governo anterior, que mandava eu praticar o PPI para beneficiar o importador."

A determinação para seguir as regras internas, diz, justificou a aprovação de dividendos de R$ 35,8 bilhões para remunerar o acionista pelo lucro do quarto trimestre de 2022. A nova gestão propôs reter R$ 6,5 bilhões desse total, que excediam o volume estabelecido pela política atual.

A proposta de retenção será apresentada em assembleia de acionistas no fim de abril. A ideia é apresentar ao acionista um plano de investimento com esses recursos. Na prática, porém, o governo tem votos suficientes para aprovar a proposta sem necessidade de convencer o investidor privado.

Prates reforçou que a empresa voltará a investir em energias renováveis, com foco em energia eólica em alto mar, que pode ter sinergia com a atividade de exploração e produção de petróleo.

Ele disse também que a companhia deve seguir diretriz do governo para voltar a encomendar plataformas e navios no país, desde que a indústria naval tenha condições de atender as encomendas sem cobrar preços muito acima das alternativas no exterior.

Esse programa, disse, demandará atuação coordenada com diversos órgãos do governo, com a definição de incentivos para que os estaleiros voltem a operar. Nas primeiras gestões petistas, as encomendas na indústria naval foram alvo da Operação Lava Jato e terminaram com confissões de pagamento de propina e sobrepreços.

"Acho que o país está adquirindo cada vez mais maturidade para tratar desse assunto", comentou. "O medo da corrupção não pode ser desculpa para comprar tudo de fora."

Autor/Veículo: Folha de S.Paulo
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