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Petroleiras alertam para riscos de preços abaixo da paridade

Representantes da indústria do petróleo têm reforçado a defesa da prática de preços alinhados ao mercado internacional. O presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo e do Gás (IBP), Eberaldo Almeida Neto, disse a jornalistas na sexta-feira que as cotações do diesel e da gasolina estão defasados em relação ao exterior.

Segundo ele, a Petrobras tem buscado seguir os preços internacionais, mas hoje esses dois combustíveis são vendidos no Brasil com uma diferença em relação ao mercado externo. “Se isso perdurar, pode começar a distorcer o mercado”, disse.

Nos cálculos da Associação Brasileira de importadores de Combustíveis (Abicom), na sexta-feira pela manhã o diesel vendido pela Petrobras às distribuidoras nas refinarias estava 18% abaixo do preço internacional,enquanto a gasolina tinha defasagem de 19%. A Petrobras mantém os preços da gasolina inalterados desde 11 de março e não realiza novos reajustes no diesel desde 10 de maio.

‘Não podemos cair na tentação e ir para preços tabelados como no passado’, afirma diretor da Petrobras.

Almeida Neto afirmou que a prática de preços descolados aos do mercado prejudica a importação, necessária para garantir o suprimento de todo o mercado nacional. Nesse cenário, disse, há risco de problemas no abastecimento, com faltas pontuais de combustíveis, situação que tende a ser mais grave no segundo semestre, quando o consumo de diesel no país cresce. “Não vai acontecer uma falta generalizada, mas pode ocorrer algo pontual”, afirmou.

A Petrobras tem sido alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro pelo aumento dos combustíveis vendidos às distribuidoras nas refinarias, buscando seguir os preços internacionais. Este ano, com a retomada da demanda depois dos momentos mais agudos da pandemia e o conflito na Ucrânia, o barril de petróleo teve forte aumento no mercado externo.

O diretor de relacionamento institucional e sustentabilidade da Petrobras, Rafael Chaves, reforçou que a companhia deve seguir com a prática de preços em linha com o mercado: “Não podemos cair na tentação e ir para preços tabelados. Já aprendemos isso no passado. Se não aprendemos no passado, aprendemos com os vizinhos. O preço dá um sinal, segura a demanda e sinaliza para a oferta. Não podemos perder isso de vista”, disse em evento no Rio.

“Se a gente achar que tem alguém, seja do Legislativo, Executivo ou Judiciário, que é iluminado e usa a caneta para definir preços, estamos errados”, completou

O diretor da Petrobras disse ainda que o respeito a preços de mercado é importante para a atração de investimentos: “Temos que fazer do Brasil um porto seguro de investimento, é isso que vai resolver o problema.”

Chaves também afirmou que, para gerar investimentos, é preciso que as empresas tenham lucro. Nos últimos meses, autoridades também têm criticado a Petrobras por “lucro excessivo”. “O irmão do investimento é o lucro. Temos que ficar felizes quando há lucro, porque há investimento”, disse.

Nesse contexto, o presidente da Shell Brasil, André Araújo, reforçou as falas do diretor da estatal brasileira: “Precisamos ter cuidado para não cair na tentação com decisões de curto prazo. Já vivemos essa expectativa em momentos anteriores e isso é muito ruim. A sociedade pode cair na tentação e achar que o preço mais barato por dois meses é algo bom, mas sabemos as consequências”, afirmou.

O executivo reconheceu que a inflação nos combustíveis impulsionada pela guerra na Ucrânia impacta a população, mas lembrou a situação da Argentina, que enfrenta escassez de combustíveis, como consequência do congelamento de preços. “É só cruzar a fronteira para o Sul e se percebe claramente essas consequências negativas”, disse.

O presidente do IBP disse que o risco de falta de produtos também está relacionado ao mercado internacional, que passa por uma recuperação de demanda depois dos efeitos da pandemia e sente os efeitos de embargos ao petróleo russo. Para ler esta notícia, clique aqui.

Autor/Veículo: Valor Econômico
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