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Pix se consolida no segundo ano de existência e atinge R$ 1 trilhão de transações mensais

A recorrência de frases como "Aceita Pix?" ou "Manda um Pix" no cotidiano mostra a popularidade da ferramenta entre a população e a consolidação no mercado mesmo num curto prazo. A nova modalidade de transferência de dinheiro completa 2 anos de existência nesta quarta-feira.

Alguns números do Banco Central do Brasil (BC) apontam para a mesma direção. Em setembro, 2 meses antes de completar o segundo ano de existência, o Pix chegou a uma marca histórica: R$ 1 trilhão transacionado em apenas um mês. O número de pessoas cadastradas no Pix chegou a 127,8 milhões em outubro e o de empresas, a 10,5 milhões no mesmo mês.

Edlayne Burr, diretora executiva e líder de Estratégia para Pagamentos da Accenture na América Latina, ressalta que esse segundo ano foi realmente de consolidação e de grande engajamento por parte dos usuários. Ela ressalta ainda que o Brasil é o país com maior número de transações em tempo real.

— Entendemos que o Pix está cumprindo o seu objetivo inicial, ao se estabilizar como um meio de pagamento veloz, disponível, seguro, e de baixo custo. O Brasil se tornou referência em pagamentos instantâneos, obtendo forte adoção entre a população, em comparação com outros países — afirmou.

Pelo lado dos bancos e fintechs que precisaram se adaptar aos pagamentos instantâneos, Marcelo Martins, CEO da fintech Iniciador e diretor executivo da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), pontua que no primeiro ano do Pix, o mercado ainda tinha muitas dúvidas sobre as regras e como precificar o Pix. Já no segundo, os fluxos e funcionalidades ficaram mais claras.

— Outro ponto é que no primeiro ano não era todo mundo que tinha Pix, a consolidação acontece porque hoje em dia quem não tem Pix não está no mercado. Todo mundo oferece Pix de alguma forma — disse.

Novidades do Pix no ano 2
O segundo ano do Pix também ficou marcado pelas novas ramificações da ferramenta. No início de 2022, as primeiras padarias, lojas e farmácias passaram a oferecer o Pix Saque e Pix Troco, modalidade gestada pelo Banco Central (BC) para facilitar o saque de dinheiro em espécie.

O volume de transações ainda é considerado incipiente, mas vem aumentando nos últimos meses. Em outubro deste ano, R$ 53 milhões foram sacados, o dobro dos R$ 26 milhões de maio.

Guilherme Mercês, diretor de economia e inovação da CNC, avalia que o Pix foi um meio de acelerar a bancarização do varejo. Além das grandes redes que vêm apostando na oferta de serviços como cartão de crédito e crediário, os pequenos também vão passar por esse processo nos próximos anos com o Pix Saque e Pix Troco.

— Houve uma primeira fase de bancarização do varejo que veio através das grandes redes varejistas, com cartão de crédito próprio, carnês, cashback de forma geral. Agora tem que ter uma segunda fase, que é a bancarização dos pequenos e médios negócios que estão nas ruas — disse.

Esse ano também marcou o encontro entre o Open Finance e o Pix, dois dos principais projetos de inovação liderados pelo Banco Central. A criação da figura do iniciador de pagamentos visa facilitar o pagamento de produtos, principalmente em lojas virtuais, diminuindo as etapas até a conclusão do processo.

O Mercado Pago é uma das empresas que já oferece o serviço de iniciador de pagamentos. Segundo Felipe Soria, Head de Inovação e Pagamentos, a adoção está avançando aos poucos e tem tudo para melhorar a experiência de compra online pelo Pix, evitando a necessidade de copiar e colar um código ou do QR Code.

— Hoje em vez do banco transferir o dinheiro da sua conta para o Mercado Pago, você faz isso a partir da conta do Mercado Pago: inicia a transação ali, autoriza no outro banco e traz para cá — disse.

Segurança
Logo no início do segundo ano do Pix, o BC estabeleceu mudanças para fortalecer a segurança do sistema em meio a reclamações de golpes e fraudes realizadas pelo Pix.

Entre as novidades, o Mecanismo Especial de Devolução facilita o retorno de valores movimentados em caso de fraude ou falha operacional. Outro ponto foi a permissão para que as instituições financeiras bloqueassem recursos por 72 horas em casos suspeitos.

Leandro Vilain, diretor executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), ressalta que o Pix acabou virando uma marca registrada para transferências entre pessoas e que é seguro.

Na avaliação dele, as medidas do Banco Central foram positivas, mas pontuou que os golpes se baseiam muito em engenharia social e as pessoas precisam ficar atentas também para reforçar a segurança.

— Está no papel do setor criar mecanismos que combatam esse tipo de fraude. É importante lembrar que o Pix é um produto regulado pelo Banco Central e a gente tá em constante contato de uma forma muito colaborativa ao propor medidas adicionais que possam ajudar a reduzir esses golpes e fraudes — apontou.

Aprimoramentos
O entendimento padrão do mercado e do Banco Central é de que o desenvolvimento do Pix ainda está no início e muitas novidades vão aparecer nos próximos anos. Além de aprimoramentos nas funções que já existem, o próprio BC prevê novas funcionalidades, como o Pix Parcelado e o Pix Internacional.

No caso do Pix Parcelado ou Pix Garantido, a ideia é permitir o pagamento pela ferramenta mesmo sem saldo na conta, uma forma de pagar no crédito. Atualmente, alguns bancos já oferecem soluções parecidas, mas utilizando o crédito de empréstimo pessoal, cheque especial ou cartão de crédito.

O Pix Internacional é outra novidade prometida mas complexidade da criação do sistema, que pode depender ainda de acordos de entendimento, colocam a implementação como um objetivo um pouco mais distante no futuro. A ideia é permitir o pagamento instantâneo em viagens para outros países, assim como facilitar pagamentos no comércio internacional.

Bruna Cataldo, head de pesquisa do Instituto Propague, destaca o Pix Internacional como uma solução importante para um problema enfrentado há algum tempo por quem precisa fazer esse tipo de transação

— Considerando que pagamentos internacionais são, hoje, uma grande dor do mercado global por serem difíceis, ineficientes e caros, conseguir expandir o Pix para uma lógica transfronteiriça colocaria o Brasil em uma posição de destaque para além dos benefícios diretos ao consumidor — aponta.

Autor/Veículo: O Globo
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