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Poupança forçada dos mais ricos na pandemia deve compensar fim do auxílio emergencial

Após o tombo de 12,5% entre abril e junho, o consumo das famílias deve mostrar reação no terceiro trimestre deste ano. Para 2021, a retomada gradual do mercado de trabalho e a poupança que as famílias de maior renda formaram por não poderem gastar na quarentena devem compensar o fim do auxílio emergencial, estimam analistas da XP Investimentos.

Em estudo adiantado com exclusividade para O GLOBO, a XP estima que essa poupança tenha atingido R$ 54,3 bilhões até setembro, superando o valor do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) liberado neste ano (R$ 37,8 bilhões).

A XP estima que o consumo das famílias (que representa cerca de 65% do PIB pela ótica da demanda) deve registrar alta de 10,2% de julho a setembro, contribuindo para um salto de 8,4% no PIB do período, de acordo com o estudo. Os números oficiais serão divulgados na quinta-feira pelo IBGE.

— No terceiro trimestre, o auxílio emergencial compensou grande parte da perda de renda dos brasileiros, alguns setores não essenciais da economia começaram a reabrir com mais força, e os juros continuaram baixos. A combinação destes três fatores corrobora para a leitura de um consumo das famílias neste nível no terceiro trimestre — diz Caio Megale, economista-chefe da XP.

Efeito do mercado de trabalho
Entretanto, com o fim dos programas do governo federal para combater os efeitos econômicos da Covid-19, a projeção é que a recuperação perca velocidade, mas com os indicadores permanecendo em terreno positivo.

— Além de uma retomada do mercado de trabalho, famílias de classes média e alta reduziram consumo porque muitos serviços estavam fechados, então, gerou-se a poupança circunstancial. Em termos macroeconômicos, estes dois vetores tendem a compensar o fim do auxílio. Embora, na parte microeconômica, deve-se lembrar que pessoas não conseguirão emprego e ficarão sem renda — acrescenta Megale.

Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), acredita que o mercado de trabalho vai compensar o fim do auxílio, se não vier uma segunda onda de Covid-19:

— Numa segunda onda, o auxílio precisa ser mantido.

O economista da XP Vitor Vidal afirma que o fim do pagamento do auxílio emergencial não tende a impactar de forma acentuada o consumo das famílias:

— Não podemos excluir que existe o risco de demissões com o fim do auxílio, mas é um risco não muito relevante. Pegando o Caged, nos últimos dois meses, o saldo de contratações está subindo, por exemplo.

Desemprego de 16% em 2021
O estudo da XP, no entanto, projeta que a taxa de desemprego pode chegar a 16,1% no primeiro trimestre de 2021.

Este percentual se deve tanto ao fim dos acordos para suspensão de contratos e redução de jornada, adotados durante a pandemia, quanto ao aumento do número de pessoas à procura de emprego, que deve atingir o pico, pelas projeções, entre março e abril do ano que vem.

Para chegar a esta leitura, a equipe da XP traçou quadros estatísticos sobre retomada dos empregos e sobre a poupança circunstancial (economia forçada durante a pandemia). Foi elaborado um indicador chamado Massa Ampliada de Renda, com dados da Pnad Contínua e repasses extraordinários do governo (auxílio emergencial, FGTS, PIS/Pasep etc.).

A Massa Ampliada de Renda atingiu R$ 282,5 bilhões em setembro, 1,1% abaixo do patamar de fevereiro, antes que a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretasse a pandemia, em meados de março.

— Em setembro, houve a redução de 50% no valor do auxílio emergencial. Mesmo com esta perda, o indicador de massa de renda mostra uma perda macroeconômica pequena frente a fevereiro. Diante desta leitura, somada à poupança circunstancial no período, traçamos um cenário de que estes dois fatores tendem a suavizar o impacto do fim da transferência de renda — diz Vidal.

Agenda de reformas
A equipe da corretora também traçou um indicador para mensurar o tamanho da poupança forçada durante a crise. Até setembro, eram R$ 54,3 bilhões. Segundo Megale e Vidal, essa poupança deverá se manter em terreno positivo até o final do primeiro trimestre.

Em sua conclusão, o estudo aponta a necessidade de dar prosseguimento à agenda de reformas, para que o país recupere a confiança dos investidores estrangeiros, voltando a atrair mais recursos para o Brasil.

— A recuperação sustentada se dá por meio da confiança, mas este sentimento não ocorre por um passe de mágica. No Brasil, é preciso reestruturar as fundações, como a parte tributária e administrativa. Mas também é preciso apresentar um plano para conter o endividamento. Reformas como a dos tributos demandam muito debate, dificultando uma aprovação neste ano. Já a aprovação PEC Emergencial, como o nome sugere, é fundamental — completa Megale.

Autor/Veículo: O Globo
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