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Preço dos combustíveis deve continuar pressionado em 2022

O preço do barril do petróleo deve se manter em patamares elevados em 2022, entre US$ 70 e US$ 80, segundo estimativas da consultoria IHS Markit. A expectativa é que a cotação da commodity, nesse nível, mantenha os preços dos combustíveis pressionados no Brasil, num ano marcado por eleições presidenciais, e que a Petrobras continue nos holofotes da pauta política. Por outro lado, o petróleo caro deve contribuir para que a estatal se consolide como uma boa pagadora de dividendos, contribuindo para a arrecadação da União.

O analista sênior de óleo e gás do UBS BB, Luiz Carvalho, prevê que a petroleira vai pagar cerca de US$ 18 bilhões em dividendos, relativos aos resultados de 2021, e entre US$ 20 bilhões e US$ 24 bilhões relativos ao exercício de 2022, caso o preço do barril de petróleo se mantenha em patamares próximos a US$ 80. Um terço do que a Petrobras distribuir aos acionistas vai para a União, controladora da companhia.

Carvalho defende que a Petrobras não é responsável por fazer políticas públicas e que manter a companhia saudável, financeiramente, é a melhor forma que a empresa tem para dar retorno à sociedade. O dinheiro recebido pela União em dividendos, segundo o analista, poderia ser destinado a políticas públicas - incluindo, eventualmente, programas para subsidiar os combustíveis.

Para ele, intervenções na política de preços da Petrobras não são mais factíveis, devido ao arcabouço de governança da companhia criado no pós-Lava-Jato e à Lei das Estatais. A legislação prevê que qualquer obrigação e responsabilidade que uma empresa de economia mista assuma “em condições distintas às de qualquer outra empresa do setor privado em que atua” deve ser objeto de acordo prévio e estar claramente definidas em lei ou regulamento. Além disso, deve haver transparência sobre os custos com as obrigações. Já o estatuto da empresa passou a incorporar um mecanismo de proteção que permite que a companhia pratique subsídios, desde que ressarcida pelo Tesouro. Na terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro disse que busca rever a política de preços da Petrobras, atrelada ao mercado internacional.

“Não depende, hoje, da vontade de um governante A ou B simplesmente mudar o preço temporariamente [da Petrobras]... Com a proximidade das eleições percebemos um movimento da classe política para arrumar uma solução quase que mágica para resolver o problema dos preços mais altos. Essa solução não existe, se eventualmente houver subsídios, o dinheiro vai ter que sair de outra conta”, comentou Carvalho.

Ele vê com ceticismo a proposta de criação de um fundo de estabilização dos preços dos combustíveis, que voltou a circular no meio político para aplacar a inflação do setor em ano eleitoral. "Em nenhum país que a gente conhece, esse fundo funcionou de maneira recorrente. Porque, se os preços se mantêm em alta, causam um buraco no orçamento público", disse.

O diretor e estrategista de downstream [abastecimento] da IHS Markit para a América Latina, Felipe Perez, afirma que o debate sobre os preços dos combustíveis precisa ultrapassar os limites da política energética. Segundo ele, o Brasil precisa resolver problemas mais estruturais. “Tem que pensar não só no preço dos combustíveis, mas em como fazer o Brasil ter uma economia forte, com estabilidade cambial maior e em como elevar as classes sociais, aumentar o poder aquisitivo delas”, disse. Perez e Carvalho participaram ontem da Live do Valor.

Segundo Perez, a inflação dos preços dos combustíveis no Brasil reflete um cenário de alta global. O mercado internacional, diz ele, está num momento de “desconexão entre oferta e demanda”. A previsão da IHS é que o barril permaneça entre US$ 70 e US$ 80 pelo menos até o fim de 2022, podendo se estabilizar entre US$ 60 e US$ 70 posteriormente. Em 2021, a cotação média da commodity está em US$ 70. Para ler esta notícia, clique aqui.

Autor/Veículo: Valor Econômico
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