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Privatização não garante preços baixos na Petrobras

A proposta de privatização da Petrobras, anunciada pelo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, não garantiria preços mais baixos de combustíveis no Brasil, segundo o sócio da Leggio Consultoria, Marcus D’Elia, e o conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e ex-presidente da Eletrobras e da Light José Luiz Alquéres. Os executivos participaram da “Live do Valor ” realizada ontem.
Os especialistas apontaram que o preço dos combustíveis é uma cotação que depende do balanço entre oferta e demanda no mercado internacional. Por isso, para eles, a venda da petroleira não teria interferência nos custos finais aos consumidores e as declarações do ministro de Minas e Energia sobre a privatização causam ruídos no mercado.
Segundo os entrevistados, o preço do petróleo é definido pelo mercado e a evolução dos preços da commodity é uma tendência desde 2020, que se acelerou com a guerra na Ucrânia. “A percepção do preço caro do diesel e da gasolina vem da relação com o câmbio que está muito desvalorizado”, acrescentou D’Elia.
O sócio da Leggio lembrou que há um programa de desinvestimentos da Petrobras em que diversos ativos estão sendo vendidos, incluindo refinarias, e esse ruído não ajuda.
Na visão dele, a entrada no Brasil de novos refinadores privados e maiores investimentos em infraestrutura portuária ajudariam na competição nesse mercado e poderiam levar a uma possível estabilização nos preços de combustíveis.
Diante da atual conjuntura, os executivos avaliam também que o Brasil precisa de uma política energética alinhada com a política econômica.
Alquéres afirmou que discutir a privatização da Petrobras a poucos meses das eleições presidenciais, marcadas para outubro, é “uma tremenda bobagem”. O executivo lembrou do processo de privatização da Eletrobras, em que foram inseridos diversos “jabutis” - jargão usado para propostas onerosas ao setor incluídas nos projetos de lei - e que deve provocar mais custos para a sociedade. “Se a lei da privatização da Eletrobras já recebeu os jabutis do centrão, imagine uma lei de privatização da Petrobras batendo na mão do senhor Arthur Lira, o [Carlos] Suarez botando emendas. Isto é uma piada de mau-gosto, é um abuso do bom senso e uma agressão ao povo brasileiro”, disse.
Para Alquéres, os países que optam por uma economia de mercado precisam se preparar para ter preços estabelecidos conforme a oferta e a demanda. “Quando começam a fazer política em cima de preço spot [cotação utilizada no mercado de curto prazo] dá besteira, que é o que o Brasil está fazendo”, afirmou.
Com a escalada de preços dos combustíveis, tem sido cogitada a proposta de um fundo estabilizador com os dividendos da Petrobras pagos ao governo. Entretanto, na avaliação de D’Elia, o efeito na redução dos preços seria mínimo para o consumidor. O executivo acredita que um fundo estabilizador seria ideal para pequenas flutuações de preço, mas ressalta que esse tipo de proposta “não deveria ocorrer através da Petrobras, deve ser feito diretamente do governo para o consumidor”.
Os executivos concordaram com a ideia de que a intervenção no mercado, com a criação de preços artificiais, pode causar desabastecimento e desestimular agentes privados a atuar na importação de combustíveis.
D’Elia lembrou que atualmente o Brasil importa cerca de 25% do diesel que consome. “Se, por intervenção do governo, o diesel é trazido para o Brasil a um patamar muito baixo, isso impede a entrada do produto no país. Diminui o interesse das empresas privadas de importarem produto”, apontou. Para ler esta notícia, clique aqui.

Autor/Veículo: Valor Econômico
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