Puxada pela gasolina, prévia da inflação acelera para 0,44% em maio
O IPCA-15, considerado a prévia da inflação oficial, acelerou em maio. O indicador ficou em 0,44%, acima da taxa registrada em abril (0,21%). Apesar do avanço, o resultado veio abaixo do esperado abaixo pelos analistas, que previam alta de 0,47% em maio.
As maiores influências vieram dos grupos Saúde e cuidados pessoais, por conta da alta dos produtos farmacêuticos, e Transportes, em grande parte por causa da alta da gasolina. Os dados foram divulgados nesta terça-feira pelo IBGE.
O que dizem analistas?
Economistas consideram uma boa notícia o resultado do IPCA-15. Isso porque confirmou o cenário de desaceleração dos preços no país, a despeito de altas em alguns alimentos e em preços administrados. Por outro lado, analistas seguem atentos a possível alta em alimentos in natura em função da tragédia no Rio Grande do Sul. Estes impactos não chegaram até o consumidor por ora, mas devem se refletir nas gôndolas e no índice de preços nos meses seguintes, esperam.
Outro ponto no radar dos analistas é o impacto da inflação no controle da taxa básica de juros, a Selic, pelo Banco Central. A maior barreira à continuação da queda dos juros é o movimento de desancoragem das expectativas de inflação para os próximos dois anos - algo já admitido pelo presidente do BC.
Para Victor Beyruti, da Guide Investimentos, as crescentes preocupações com o fiscal e o ruído recente na comunicação do BC têm levado o mercado a elevar as expectativas de inflação para 2025. Esse movimento acaba por levar o Comitê de Política Monetária (Copom) a adotar uma postura mais dura:
— Caso esse movimento de desancoragem se intensifique até a próxima decisão, seja por números piores ou uma avaliação qualitativa pior por parte do mercado, o Copom pode optar por um caminho mais conservador e sinalizar uma pausa no próximo encontro ou até confirmar as expectativas de agentes do mercado de um fim de ciclo antecipado, nos atuais 10,5% ao ano.
Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, alerta que itens como o arroz ainda não refletiram os aumentos observados nos supermercados, o que deverá ocorrer a partir do IPCA de maio. Em termos de política monetária, ele concorda que o problema para a calibragem dos juros por parte do BC não tem sido mais a inflação corrente, mas sim as expectativas de inflação:
— Apesar deste IPCA-15 bom, em nada vai mudar a expectativa de que, se houver corte na próxima reunião do Copom, será a última. O problema não é a inflação corrente e Roberto Campos deixou isso claro ontem — afirma Leal.
Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, a lenta desaceleração da inflação de serviços é um dos motivos que deverá fazer o Copom realizar apenas um corte adicional de 0,25 ponto percentual na Selic, em junho.
— E diante da contínua piora das expectativas de inflação, não descartamos a possibilidade de que a taxa fique estacionada em 10,5%, ou seja, que não ocorra mais nenhum corte na taxa básica de juros da economia neste ano — alerta.
Enchentes no Sul afetam coleta de preços em Porto Alegre
As enchentes no Rio Grande do Sul afetaram parte da coleta de preços do IPCA-15 realizada em Porto Alegre, informou o IBGE. Segundo o órgão, cerca de 30% da pesquisa na região foi realizada de modo remoto, por telefone ou internet, em vez do modo presencial.
O IBGE lançou mão da coleta remota a partir do dia 6 de maio, quando aproximadamente 70% dos preços já tinham sido captados na cidade. Ainda assim, o órgão não conseguiu coletar os preços de algumas hortaliças e verduras por telefone. Por isso, adotou o procedimento de imputação dos preços, que considera a média de preços de produtos similares.
A coleta de preços do IPCA-15 foi realizada entre 16 de abril e 15 de maio. As fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul começaram no dia 27 de abril e se intensificaram no início de maio. O IPCA-15 investiga preços nas regiões metropolitanas de onze cidades brasileiras.
Gasolina e medicamentos mais caros
Dos nove grupos pesquisados, oito registraram alta em maio. O principal destaque foi o grupo Saúde e cuidados pessoais (1,07%), que registrou a maior alta no mês. Um dos motivos foi o reajuste sobre os preços dos medicamentos, a partir de 31 de março, que encareceram os produtos farmacêuticos. O segmento de higiene pessoal também apresentou alta nos preços, puxado principalmente pelo perfume, que ficou em média 2% mais caro.
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Em seguida ficou o grupo Transportes (0,47%), puxada pela gasolina, que teve alta de 1,9%. O combustível é o subitem de maior peso na pesquisa, com 5%, segundo economistas. Portanto, qualquer alteração no preço da gasolina tem impacto no levantamento e no bolso do consumidor.
Também ficaram mais caros o etanol (4,70%) e o óleo diesel (0,37%). Por outro lado, o gás veicular (-0,11%) registrou queda no preço. As passagens aéreas, por sua vez, tiveram alta de 6,04%. Houve ainda alta de 2,53% do metrô, puxado pelo reajuste em meados de abril, no Rio de Janeiro. Já a alta do táxi (0,73%) decorre do reajuste médio em Recife.
Veja a variação dos grupos em maio
- Alimentação e bebidas: 0,26%
- Habitação: 0,25%
- Artigos de residência: -0,44%
- Vestuário: 0,66%
- Transportes: 0,77%
- Saúde e cuidados pessoais: 1,07%
- Despesas pessoais: 0,18%
- Educação: 0,11%
- Comunicação: 0,18%
Alta dos alimentos desacelera, mas preço da cebola sobe 16%
O grupo Alimentação e bebidas registrou alta de 0,26% em maio, uma desaceleração frente ao mês anterior (0,61%). No segmento de alimentação no domicílio, a alta foi de 0,22%. A cebola, por exemplo, ficou em média 16% mais cara.
Já o café moído e o leite longa vida tiveram altas em torno de 2%. No lado das quedas, destacam-se a queda de 5% no preço do feijão carioca, além das quedas entre 0,5% e 1% no preço das frutas, do arroz e das carnes.
A alimentação fora do domicílio, por sua vez, registrou aceleração nos preços - de 0,25% em abril para 0,37% em maio. Houve uma alta mais intensa da refeição (0,07% em abril para 0,34% em maio). O lanche continuou subindo 0,47%, variação igual à registrada no mês anterior.
Também registraram alta os grupos Vestuário (0,66%), Despesas pessoais (0,18%), Comunicação (0,18%) e Educação (0,11%), enquanto Artigos de residência (-0,44%) registrou a única retração no mês.