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Reajuste do preço do diesel é iminente

O reajuste no preço do diesel pela Petrobras nas refinarias é iminente, apurou o Valor. O produto tinha, na sexta-feira, defasagem de cerca de 20% em relação às cotações no mercado global. Uma recomposição parcial, em relação à paridade internacional, é importante, neste momento, não só para a Petrobras mas também para outros agentes do mercado, caso de refinarias privadas e importadores. A medida, se confirmada, pode facilitar a compra do produto no exterior por empresas de menor porte, reduzindo o risco de desabastecimento, hipótese que tem sido negada pela companhia e pelo governo.

A situação é complexa, o que vem exigindo discussões na alta administração da Petrobras. Na sexta-feira no fim do dia, o conselho de administração da petroleira se reuniu para analisar um possível posicionamento do colegiado frente aos ataques continuados do presidente Jair Bolsonaro à companhia, como antecipou, na própria sexta, no Valor PRO, a colunista Maria Cristina Fernandes, do Valor.

Uma resposta seria necessária diante da virulência de Bolsonaro, que, na quinta, instantes antes da divulgação dos resultados da Petrobras relativos ao 1º trimestre, comparou o lucro da companhia a um “estupro”. A Petrobras lucrou R$ 44,56 bilhões de janeiro a março. No sábado, em Santa Rosa (RS), Bolsonaro voltou a criticar a Petrobras ao dizer que “ninguém aguenta mais” reajustes dos combustíveis. Informado de tudo que acontece na companhia, o presidente fala para seus apoiadores, como que alertando-os para o que está por vir, mesmo sabendo das limitações para intervir na estatal.

O Valor apurou que na reunião de sexta não houve consenso no conselho da Petrobras para produzir uma declaração. A resposta deve vir, portanto, na forma de reajuste do diesel pela companhia em percentual que cobriria boa parte da defasagem atual. O último reajuste de preços de combustíveis pela Petrobras ocorreu em 11 de março, há quase 60 dias. Questionada ontem sobre o reajuste, a Petrobras não respondeu.

O cenário de mercado do diesel é preocupante. No front externo, o preço continua em alta como resultado da retomada pós-pandemia e dos cortes de oferta em função da guerra na Ucrânia. A Rússia responde por cerca de 25% das exportações globais de diesel. As últimas semanas foram de recordes de aumento no preço do diesel nos EUA. As margens de refino no diesel são hoje o dobro do que na gasolina. O aumento de preço do produto no Hemisfério Norte tem efeitos para a importação no Brasil. O diesel que vai chegar ao país em julho está sendo comprado agora. Mas à medida em que a Petrobras segura os reajustes inibe a importação uma vez que o preço do importado chega ao Brasil mais caro do que o vendido nas refinarias da estatal.

No mercado doméstico, a demanda por diesel segue em alta e há preocupações de que o crescimento do consumo, puxado pelo agronegócio, leve ao desabastecimento no segundo semestre em algumas regiões. O governo e a Petrobras têm negado que haja risco de falta do produto, que move a agropecuária e é essencial no transporte de cargas.

Em entrevista ao Valor, o ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) Décio Oddone também disse não acreditar em desabastecimento desde que o país acompanhe as “flutuações” externas de preços (ver entrevista em ‘A política de preços da Petrobras não está baseada na vontade de uma pessoa’). Na sexta, ao comentar os resultados da companhia no primeiro trimestre, o diretor-executivo de comercialização e logística da Petrobras, Cláudio Mastella, descartou o risco de desabastecimento no país. Disse que o mercado está suprido pelo parque nacional de refino e pelas importações. A Petrobras monitora os mercados internacionais e avalia diaria

A avaliação de fontes próximas da Petrobras é que a situação no diesel é mais delicada do que o governo e a empresa pintam. Há também o reconhecimento de que a companhia tem visão técnica do assunto e sensibilidade social. “O problema no diesel é grave”, disse um interlocutor.

Na sexta, o presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, disse que a estatal é uma das empresas que mais recolhem tributos e participações governamentais para as diferentes esferas de governo, com mais de R$ 70 bilhões arrecadados entre janeiro e março. Na quinta, a empresa havia anunciado a distribuição de R$ 48,5 bilhões em dividendos. Para ler esta notícia, clique aqui.

Autor/Veículo: Valor Econômico
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