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Reajustes ao longo do ano devem anular o efeito do corte de ICMS

O reajuste de ontem dos combustíveis não anula o efeito da redução de ICMS pretendido pelo governo. Mas, como são esperadas novas altas, o impacto do corte tributário pode ser eliminado, avalia Juliana Damasceno, economista da Tendências Consultoria e pesquisadora associada do IBRE-FGV.

A alta para a gasolina será de R$ 0,15 por litro, enquanto a desoneração esperada pelo governo pode significar redução de R$ 1,65 no litro da gasolina. No caso diesel, o reajuste vai encarecer o litro em R$ 0,63, ante um corte de R$ 0,76 previsto com a redução do ICMS.

“Novos reajustes são previstos para este ano, seja por conta da pressão cambial ou do preço internacional dos combustíveis”, diz Juliana. Ela ressalta que a política de desonerações evita, de certa forma, uma inflação hoje, mas que pode ser devolvida no ano que vem.

O economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale, diz que o reajuste era esperado em razão da crise do petróleo por causa do câmbio, situação aprofundada com a guerra na Ucrânia. O que reverbera mais, em sua opinião, é a ingerência que o governo quer fazer na Petrobras e na sistemática de preços dos combustíveis.

“Cada vez que o governo tenta interferir na política de preços como tem feito, a expectativa de inflação se mantém ou até aumenta”, diz Vale. A MB segue com previsão de 8,7% de inflação neste ano, mas a tendência é de ficar acima disso. “Tudo o que o governo tem feito na boa intenção de ajudar tem tido efeito contrário.”

Sobre o corte do ICMS, Juliana vê a medida como não eficaz, por ser uma desoneração generalizada. “A pessoa que tem um Mercedes tem o mesmo incentivo que aquela que abastece um carro popular, e isso não faz muito sentido.”

Em sua opinião, o que faria mais sentido é o benefício focalizado, similar ao que tem sido feito em países da Europa. Teria maior retorno e custaria menos porque seria temporário. Para Vale, outra opção seria um “pool de recursos” entre governo, via dividendos da Petrobras, e arrecadação dos Estados, que aumentou em 2021 por conta do combustível. Os recursos iriam para a população de baixa renda. •

Autor/Veículo: O Estado de S.Paulo
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