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?Revolução bancária? deve acirrar disputa entre bancos e fintechs

Previstos para novembro, o PIX e o open banking devem mudar a forma de relacionamento das instituições com correntistas e já mexem com o mercado. Novo modelo de pagamentos instantâneos, o PIX eliminará o uso de cartão. O open banking é um sistema de compartilhamento de dados, informações e serviços financeiros em plataformas de tecnologia que permitirá aos clientes de bancos ter acesso a melhores taxas, prazos e serviços. Com esse novo cenário, as fintechs estão ampliando aquisições de startups de tecnologia, corretoras e gestoras de investimentos, em movimento para enfrentar a concorrência. A Febraban diz que os bancos investem R$ 24,6 bilhões ao ano em tecnologia para se manter competitivos. Diretor executivo da Dinamo Networks, empresa da área de segurança digital, Marco Zanini afirma que “sairemos de 30 ou 40 instituições competindo para mais de 900”. Um dos primeiros setores a sofrer impacto deve ser o de cartões de débito e crédito.

Duas novas ferramentas – o PIX e o open banking – prometem representar uma revolução no sistema bancário brasileiro e, por tabela, esquentar a concorrência no mercado. Para se preparar para essa nova fase, enquanto os bancos estão investindo pesado em tecnologia (ler mais abaixo), as chamadas fintechs decidiram ir às compras. As startups especializadas no setor financeiro ampliaram nos últimos meses as aquisições de pequenas empresas de tecnologia, corretoras e gestoras de investimentos.

Marcado para entrar em funcionamento em 16 de novembro, o PIX, novo sistema brasileiro de pagamentos instantâneos, vai alterar a forma como as pessoas pagam contas e fazem compras, ao eliminar a necessidade de dinheiro ou cartão. Entre as vantagens, está a possibilidade de se usar apenas o número de um celular, por exemplo, para fazer uma transferência sem precisar recorrer a conta, agência, CPF, nome completo e todos os outros dados exigidos hoje. Ou, apenas com o CPF, sacar dinheiro em uma loja sem a necessidade de caixa eletrônico, cartão ou senha.

Já o open banking – sistema de compartilhamento de dados, informações e serviços financeiros pelos próprios clientes bancários em plataformas de tecnologia – está previsto para o fim de novembro e deve dar mais autonomia ao usuário. Um cliente bom pagador, com conta em um determinado banco e quase entrando no cheque especial, poderá receber oferta de um crédito mais barato de outro banco, mesmo sem ser correntista desta instituição.

De olho nessa transformação, as fintechs buscam aumentar seu campo de atuação. Especialista em regulação e organização do mercado financeiro e de capitais, o advogado José Luiz Rodrigues destaca a alta procura das fintechs por consultorias para a formatação de processos de aquisição. Só na última semana, o escritório atendeu quatro empreendedores da área.

“Nos últimos cinco anos, as fintechs vieram se estruturando, mas ainda focadas em serviços específicos para se colocarem no mercado. Agora, com o open banking, muitas delas encontraram a oportunidade para tornar suas operações mais abrangentes”, diz ele. “As fintechs estão se juntando para serem mais fortes.”

A aquisição, no mês passado, da Magliano Invest, a mais antiga corretora do País, com 90 anos de atuação, pela Neon Pagamentos, fundada há apenas

quatro anos, é apenas um exemplo. A lista é grande, a despeito da crise deflagrada pela pandemia. Em junho, a XP anunciou a compra de participações majoritárias em duas fintechs: a Fliper, de consolidação de investimentos, e a Antecipa, plataforma digital de antecipação de recebíveis (como valores a serem recebidos por lojistas por compras no cartão de crédito).

Neste mês, o mercado assistiu à disputa entre a Stone Pagamentos e a Totvs pela aquisição da Linx, desenvolvedora de softwares para varejo e comércio eletrônico. Os valores envolvidos chegam a R$ 6 bilhões.

No caso do Nubank, as aquisições ultrapassaram fronteiras. A empresa comprou duas companhias de desenvolvimento de sistemas neste ano – a Plataformatec, em janeiro, e a norteamericana Cognitect, em julho. “Temos crescido a um ritmo muito acelerado, de 40 mil clientes por dia”, diz a cofundadora do Nubank, Cristina Junqueira. “E isso, sem dúvida, inclui o desenvolvimento de produtos e

serviços que vamos oferecer no contexto de open banking e pagamento instantâneo.”

Segundo a executiva, os sistemas vão aumentar drasticamente a competição. “O mercado vai passar por um período de consolidação e estamos sempre atentos. Caso haja alguma empresa que tenha produtos consistentes com a nossa visão, podemos nos interessar.”

O professor de Finanças Ricardo Rocha, do Insper, reforça essa avaliação. “Haverá a definição sobre quais fintechs vão virar grandes empresas e quais vão ficar no meio do caminho.” Segundo ele, a tendência é que o custo financeiro aos clientes diminua. “É a continuação da revolução digital. A inovação vai promover mudanças importantes.”

Embora acredite que o PIX virá para incluir milhões de pessoas no sistema financeiro, o Itaú diz que a novidade vai trazer desafios de segurança e gestão de conflitos. “Nossos investimentos têm foco em oferecer a melhor experiência a nossos clientes, com simplicidade e, principalmente, segurança”, diz o diretor de estratégia de PMEs e open banking do Itaú Unibanco, Carlos Eduardo Peyser.

Novos negócios. Diretor executivo da Dinamo Networks, que atua em segurança de identidade digital e criptografia, Marco Zanini afirma que empresas financeiras e não financeiras perceberam que o PIX abrirá oportunidades. Em muitos casos, para participar do sistema, a opção está sendo a aquisição de carteiras digitais que já estão no mercado, possuem tecnologia e base de clientes. “Com o PIX, sairemos de 30 ou 40 instituições competindo no varejo para mais de 900. É claro que a guerra de tarifas vai crescer.”

Em junho, o Facebook anunciou o WhatsApp Pay, aproveitando arranjo de pagamentos já existente com alguns parceiros locais, e chamou ainda mais atenção para este mercado. A iniciativa, porém, foi suspensa pelo Banco Central, que autorizou testes, mas não deu a palavra final sobre o serviço.

O BC vem ampliando iniciativas para incentivar a competição no sistema bancário. “Normalmente, órgãos reguladores criam regras de um mercado já existente. Esse é um dos poucos casos em que a autoridade reguladora se antecipou ao mercado, criando o arcabouço regulatório para o PIX”, afirma Carlos Daltozo, chefe de renda variável da Eleven.

Para Daltozo, as transformações serão gradativas. “Novos entrantes precisam se adequar a pré-requisitos como segurança, regulamentação e capital mínimo. Os bancos deverão inicialmente sentir um impacto nas tarifas de TED e DOC, além das transações de débito. Por outro lado, deverão manter o atendimento às empresas, pois detém mecanismos de prevenção a fraudes mais robustos.”

Autor/Veículo: O Estado de S.Paulo
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