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Risco político e preço do petróleo: o que deve afetar os dividendos da Petrobras

Caso a Petrobras mantenha a mesma política de distribuição de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) do ano passado, a estatal deve ocupar a posição de maior pagadora de proventos da Bolsa em 2023. A petroleira lidera a lista de 22 ações que devem pagar os maiores dividendos deste ano, segundo levantamento realizado por Einar Rivero, head comercial do Trademap.

As ações preferenciais (PETR4) e ordinárias (PETR3) podem acumular um dividend yield (DY, indicador que determina quanto uma ação paga de dividendos, comparando o preço pago ao acionista em relação à cotação do ativo financeiro) de 68,3% e 59,7%, respectivamente. O porcentual é acima do registrado em 2022, de 58,6%, e bem mais elevado do que a média dos últimos cinco anos, de 5,5%.

No caso da estatal, somente em dividendos o investidor poderá ter um retorno quase quatro vezes maior que a taxa básica de juros da economia, atualmente em 13,75% ao ano.

Contudo, mesmo diante dos possíveis super dividendos, as ações da Petrobras dividem o mercado. Sinalizações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a estatal desagradam os investidores, que enxergam risco de ingerência política na companhia.

O temor é em relação a uma eventual mudança na política de preços da petroleira para controlar artificialmente os preços dos combustíveis. Medida que o novo governo já se mostrou favorável e remete, entre os investidores, a práticas econômicas malsucedidas do governo Dilma Rousseff.

Ricardo França, analista da Ágora Investimentos, descarta a recomendação de investimento nos papéis da gigante do petróleo quando o assunto é dividendos. “Não é uma boa indicação enquanto não soubermos quais serão as diretrizes sobre a política de distribuição dos dividendos”, afirma.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, concorda com essa visão. Para o especialista, a economia deve desacelerar e a taxa de juros alta deve afetar o resultado das companhias, o que deve comprometer ou diminuir a tendência de dividendos ao longo do ano.

INCERTEZAS. A conjuntura macroeconômica seria um adicional negativo ao risco político, tanto no caso da Petrobras quanto no caso do Banco do Brasil, tornando a recomendação para essas ações inviável. Pelo menos se o objetivo é receber dividendos.

“No caso de Petrobras e Banco do Brasil, claramente existe um desejo do governo eleito de diminuir a quantidade de dividendos e aumentar os investimentos. Essas empresas foram interessantes nos últimos anos, mas não colocaria como uma recomendação”, diz Cruz.

Por outro lado, há quem analise que o eventual retorno robusto em dividendos compensa o risco político. É o caso de Leonardo Piovesan, analista da casa de análise Quantzed.

“Mesmo que o nível de pagamento de dividendos da Petrobras seja reduzido pelo novo governo e diretoria da empresa, ainda assim o DY dela continuaria atrativo em função de o petróleo estar em um patamar alto e pela queda recente dos papéis”, diz Piovesan.

Mesmo com a eventual ingerência, Piovesan explica que o efeito negativo não seria consolidado no próximo ano. “Não seria nenhum absurdo esperar um dividend yield de 20% neste ano para Petrobras, o que já a colocaria como o maior DY da Bolsa”, diz.

SELEÇÃO. O Trademap selecionou as 22 possíveis maiores pagadoras de dividendos neste ano. O cálculo do dividend yield projetado para o final de 2023 considerou o preço da ação no último dia de 2022 e o valor de dividendos e JCP distribuídos no ano passado. Também assumiu a premissa de que a política de dividendos e JCPS não seria alterada, continuando equivalente ou superior à realizada em 2022. “Antes de efetuar qualquer investimento recomendamos análise mais detalhada das empresas”, diz Rivero, em relatório.

Além da Petrobras, com projeção de rendimento de dividendos em 68,3%, nenhuma outra apresentou dividendo projetado superior a Selic atual. Sendo assim, logo atrás da estatal aparece a Mahle Metal Leve, com um DY de 13,6%. A fabricante de autopeças teve um rendimento de dividendos de 13,4% em 2022 e historicamente possui um DY mediano de 7,52%.

Em terceiro lugar está o Banco do Brasil, com um rendimento de dividendos projetado de 11,9%. Apesar do risco político, que também ronda a instituição com a troca de governo, a ação está entre as indicadas por Carvalho, da CM Capital, e Piovesan, da Quantzed. “Banco do Brasil, Bradesco e Santander sempre pagam bons dividendos. O setor de bancos é perene”, diz Carvalho.

“Existe o risco de que os resultados do banco, que estavam atrativos, comecem a deteriorar com a chegada do novo governo. Mas isso pode ser que demore a acontecer”, afirma Piovesan. •

Autor/Veículo: O Estado de S.Paulo
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