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Vendas do varejo sobem 0,8% em março, melhor resultado para o mês desde 2018

A exemplo da indústria e dos serviços, o comércio varejista encerrou o mês de março com expansão. O volume vendido cresceu 0,8% em relação a fevereiro, melhor desempenho para o mês desde 2018, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Comércio, divulgados nesta quarta-feira, 17, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado superou as estimativas mais otimistas de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Estadão/Broadcast, que esperavam desde uma queda de 1,0% a alta de 0,5%, com mediana negativa de 0,2%.

No comércio varejista ampliado — que agora inclui as atividades de veículos, material de construção e atacado alimentício — houve elevação de 3,6% nas vendas em março ante fevereiro. As projeções se estendiam de uma queda de 1,9% a um avanço de 1,0%, com mediana negativa de 0,5%.

“No geral, foi um desempenho positivo para o varejo. O índice ampliado teve outro forte aumento e foi uma surpresa positiva, na esteira de uma forte performance das vendas de veículos. À frente, esperamos que a atividade do varejo volte a uma tendência de performances mornas”, avaliou o economista Gabriel Couto, do banco Santander Brasil, em relatório.

O Santander informou que seu modelo de cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro passou de uma alta de 1,0% para 1,1% no primeiro trimestre deste ano, após a surpresa com as vendas do varejo de março. Apesar da melhora no curto prazo, o economista Gabriel Couto reitera a projeção de crescimento de 1,0% para o PIB de 2023, devido à previsão de desaceleração da demanda e dos setores cíclicos de atividade econômica, com a esperada recessão global e a política monetária contracionista no País.

“Mas esperamos forte crescimento da produção agrícola não-cíclica, refletindo uma previsão de alta histórica para a safra de grãos”, escreveu Couto.

A perspectiva permanece sendo de desaceleração do comércio varejista na totalidade, principalmente pelas condições de crédito mais apertadas, apontou a economista Isabela Tavares, da Tendências Consultoria.

“O cenário se mantém negativo para o consumo, com desaceleração nas concessões de crédito e inadimplência alta, com pressões em modalidades emergenciais como o cartão de crédito, o que acaba pressionando o orçamento das famílias pelos juros muito altos, atrapalhando principalmente a venda de bens duráveis”, disse Tavares.

A Tendências manteve sua projeção para o resultado do PIB de 2023 em um crescimento de 1,0%.

“Medidas que ajudam a reduzir a inadimplência são positivas, mas depende muito de como vão vir e em que época do ano, se o efeito não vai ficar mais para 2024 porque tem uma certa defasagem”, completou Tavares.

O volume vendido pelo comércio varejista no País cresceu 2,0% no primeiro trimestre de 2023 ante o quarto trimestre de 2022, o melhor resultado desde o segundo trimestre de 2021. No comércio varejista ampliado, houve elevação de 3,7% no primeiro trimestre de 2023 ante o quarto trimestre de 2022.

Segundo Cristiano Santos, gerente da Pesquisa Mensal de Comércio no IBGE, o resultado positivo está muito focado em algumas atividades, como equipamentos de informática e artigos farmacêuticos.

“A base de comparação também está mais baixa. Houve quedas em novembro e dezembro de 2022. Natal foi ruim, Black Friday ruim, teve promoções em janeiro”, completou Santos.
Avanço concentrado

Na média global, o varejo restrito completou três meses sem recuos, na comparação com o mês imediatamente anterior: janeiro (3,9%), fevereiro (0,0%) e março (0,8%). Embora o crédito para pessoa física e a massa de renda do trabalho tenham recuado, a inflação deu uma trégua, e a desvalorização do dólar ante o real ajudou algumas atividades varejistas, como a de equipamentos de informática, afirmou Santos.

No mês de março, a alta no varejo em relação a fevereiro foi resultado de avanços em apenas três das oito atividades investigadas: equipamentos para escritório, informática e comunicação (7,7%), artigos farmacêuticos e de perfumaria (0,7%) e móveis e eletrodomésticos (0,3%). Os supermercados, que respondem por mais de metade das vendas do comércio varejista, registraram estabilidade (0,0%).

As duas principais quedas foram registradas pelos segmentos de vestuário (-4,5%) e de outros artigos de uso pessoal e doméstico, que inclui as lojas de departamento (-2,2%). As perdas foram influenciadas pelo fechamento de lojas de grandes redes varejistas, justificou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE.

“Em vestuário e lojas de departamento têm havido redução de atividades de grandes marcas. Grandes empresas têm fechado unidades locais físicas”, lembrou Santos. “Tem uma redução no número de lojas dessas grandes cadeias. E essa redução no número de lojas certamente afeta receita e também afeta o número de vendas”, acrescentou.

O volume de vendas do varejo chegou a março em patamar 4,3% acima do nível de fevereiro de 2020, no pré-pandemia. No varejo ampliado, as vendas operam 5,3% acima do pré-covid.

Apenas quatro segmentos estão operando acima do patamar pré-crise sanitária: artigos farmacêuticos, 22,6% acima; combustíveis e lubrificantes, 10,9% acima; material de construção, 4,1% acima; e supermercados, 3,6% acima.

Os veículos estão 1,1% aquém do nível de fevereiro de 2020; móveis e eletrodomésticos, 13,0% abaixo; vestuário, 19,3% abaixo; equipamentos de informática e comunicação, 10,6% abaixo; outros artigos de uso pessoal e domésticos, 10,3% abaixo; e livros e papelaria, 40,9% abaixo.

Autor/Veículo: O Estado de São Paulo
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