Legado e consciência
Legado e consciência
Desde quando o País começou a se preparar para a realização da Copa do Mundo de futebol, a maioria da população brasileira, mídia a todo o instante, passou a se utilizar de uma expressão dominante nos noticiários e nas conversas de botequim.
Hoje, passados os testes quanto à capacidade de o Brasil sediar tão importante evento mundial, muitos se perguntam se efetivamente tivemos as tão propaladas recompensas mencionadas pelos governos, federal e estadual.
Rigorosamente sabemos que tudo correu bem organizado, naquilo que soubemos ou que nos foi permitido saber, com segurança aos turistas e aos torcedores, acesso aos estádios, respeito às diferenças culturais e ideológicas, com a demonstração de civilidade de nosso povo, sempre alegre e hospitaleiro e, quem diria voos sem atrasos, exceto no campo de futebol, cuja nossa seleção nos deixou extremamente frustrados.
Havia um temor latente por parte, principalmente das autoridades do governo atual, de que algumas manifestações na mesma dimensão das ocorridas em junho de 2013, pudessem prejudicar, ou mesmo empanar, a realização de tão espetacular evento, transmitido para milhões de pessoas pelo mundo afora.
Acredito, embora não seja um profissional para analisar comportamentos de massa, que fizemos sem combinar com ninguém ? a maioria avassaladora dos brasileiros, independentemente de níveis sociais e situações particulares, um pacto social de não agressão, em que pese a vaia mal-educada, de deixar para lavar a roupa suja? após a Copa, longe dos holofotes internacionais da mídia mundial aqui instalada, para cobertura dos eventos futebolísticos.
Obviamente, aconteceram alguns arremedos de manifestações que, graças à organização dos governos, principalmente dos seus organismos de segurança, foram prontamente dominados, além da própria população que resolveu, conforme dito, curtir a grande oportunidade, histórica, de vivenciar uma Copa do Mundo de Futebol em seu país, sem conflitos de ruas, protelando, enfim, a oportunidade de se manifestar em outubro, com a realização de outro fundamental evento cívico, que serão as eleições.
Mas e o propalado legado? Será que a população julga mesmo que as arenas construídas com tão alto custo, em locais onde se pode questionar a oportunidade de vultosos gastos, agregados à suspeita de superfaturamentos, além de não terem sido concluídos os projetos de infraestrutura, de mobilidade urbana de maneira geral, se constituem em herança positiva?
Tenho para mim que não, pois não se duvida da necessidade de que o país deveria se preparar, se adequar, para sediar uma Copa do Mundo no padrão FIFA - aliás, que nos despertou de um sono longo, de uma letargia histórica -, mas daí concordar com tantos desmandos e falta de planejamento, ao mesmo tempo em que nos preocupa a conclusão das demais obras, vai uma distância razoável.
Na verdade, por esta o governo não esperava, o verdadeiro legado foi um despertar uníssono da população brasileira quanto àquilo que somos capazes de fazer e não fazemos; daquilo que é prioritário e se protela em detrimento da satisfação, segurança e saúde do povo; dos padrões de organização e de respeito dos direitos individuais em contrapartida aos dos eternos espertos de plantão; do atendimento às demandas mais prioritárias da população em contraposição à enganação histórica de promessas não cumpridas, enfim, um legado de consciência, da conscientização da massa sobre aquilo que ela pode e deve exigir doravante.
E nossa oportunidade está à porta, com a realização das eleições em todos os níveis, exceto para as prefeituras, aliás mais uma excrescência do sistema eleitoral brasileiro, que não corrige a anomalia de gastos gigantescos com eleições de dois em dois anos, para que se elejam todos a cada quatro anos.
Esta consciência da qual me refiro e, no fundo imagino ser o grande legado para o povo brasileiro com a realização da Copa do Mundo, tem que ser exercitada de forma bem refletida, ordeira e civilizada, tentando eleger quem de fato tem capacidade de realização e compromissos de mudar a maneira de gerenciar os recursos do Estado, que são nossos, do povo brasileiro, oriundos de uma carga tributária aviltada e sem controles, sem gerência e sem mecanismos mais ágeis de apuração dos desvios, permanecendo a impunidade de que tanto abominamos e que agora estamos mais atentos e querendo soluções dentro dos ditames das leis, que não são poucas.
Enfim, este é o legado que nos propiciaram. Consciência! Conscientização!
Jose Carlos Ulhoa Fonseca - Vice-Presidente da Fecombustíveis