O perigo das generalizações

O perigo das generalizações

O setor de revenda de combustíveis iniciou o ano sob o fogo cerrado da indignação de consumidores e imprensa, após o Fantástico ter veiculado matéria expondo uma complexa rede de manipulação de bombas de combustíveis, que contava com a conivência de uma empresa credenciada pelo Ipem e, ao que parece, de pessoas ligadas a fiscais (ou que, pelo menos, tinham acesso às informações de fiscalizações). Nos dias seguintes, o que vimos nos postos de todo o Brasil foi a acirrada desconfiança do consumidor, exigindo que o combustível fosse colocado em galões trazidos por eles e até mesmo casos de agressão contra frentistas, que acionaram os controles do sistema CTF ou, inadvertidamente, levaram a mão ao bolso. Não tenho qualquer receio em afirmar que nós, revendedores honestos, somos até mais prejudicados por esse tipo de fraude do que qualquer consumidor. Afinal, um motorista que pagou por mais litros do que recebeu tem um prejuízo financeiro imediato, mas não necessariamente contínuo, pois talvez abasteça apenas esporadicamente naquele posto. Nós, sentimos o peso da concorrência desleal todos os dias, somos atingidos diretamente na fonte de sustento de nossas famílias. Cada venda que perdemos para um posto que frauda ou sonega significa redução no faturamento, obrigando-nos a espremer as já apertadas margens de comercialização, a deixar de fazer uma modernização necessária no posto ou a demitir algum funcionário. Muitos bons empresários, sem ter como competir com essas verdadeiras máfias, fecharam suas portas. E o que mais nos indigna nem é saber que tais mecanismos existem, pois estes e outros são constantemente denunciados às autoridades por esta Federação ou seus Sindicatos Filiados. O próprio Inmetro reconheceu que conhecia a fraude desde 2010. Bandidos (ou, se quisermos usar um eufemismo, pessoas buscando driblar a legislação?) sempre existirão no nosso e em qualquer mercado. O sucesso de suas investidas, no entanto, dependerá da sensação de impunidade observada no setor. Não é possível, por exemplo, que os postos flagrados na reportagem tenham sido fechados pela ANP e reabertos dias depois, por decisão judicial. Não é possível que as pessoas envolvidas no golpe fiquem impunes, ou sejam liberadas após alguns dia. O Fantástico mostrou também a venda de combustível sem nota, mas o que foi feito sobre isso? A distribuidora foi identificada? Houve investigação para saber quem são os contatos do empresário que fraudava as bombas e dizia ter como avisar quando iria passar a fiscalização? Seria aquela empresa do Paraná a única autorizada pelo Ipem que praticava esse tipo de crime? O endurecimento na fiscalização nas semanas seguintes à matéria servirá apenas para dar uma satisfação à imprensa, sem realizar uma investigação minuciosa? Nunca é demais lembrar que essas verdadeiras quadrilhas, especializadas em burlar a legislação, não raras vezes conseguem oferecer, nas bombas, combustível muito abaixo do preço de custo, exatamente em função das fraudes qualitativas, quantitativas ou fiscais, inclusive angariando injusta simpatia da sociedade e da própria imprensa, como se gananciosos fossem os empresários que trabalham dentro da lei. Denúncias como estas do Fantástico são fundamentais. Mas é imprescindível evitar generalizações. Existem mais de 38 mil postos em todo o Brasil, sendo a esmagadora maioria de revendedores honestos, com negócios familiares e que matam um leão por dia para cumprir todas as regras e se manter competitivo no mercado. Maus empresários existem em todos os ramos, não são exclusivos do setor de combustíveis, nem de uma determinada companhia, nem se restringem aos bandeira branca, como bem mostrou a reportagem. Mas o remédio contra todos é um só: fiscalização inteligente, constante e eficaz.

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