O S50 chegou aos postos. E o caminhão?

O S50 chegou aos postos. E o caminhão?

Por Morgana Campos e Natália Fernandes
Cinco meses já se passaram desde que o S50 começou a ser vendido em postos de todo país. Ou melhor, ofertado, pois a comercialização em si do produto ficou muito aquém do esperado, refletindo a ausência dos veículos Euro 5 nas estradas e o elevado preço do novo diesel, o que tem afastado os proprietários de caminhões antigos. Para discutir esse cenário, a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) realizou, no dia 29 de maio, no Rio de Janeiro, o painel Os desafios trazidos pelo diesel de baixo teor de enxofre?.
Paulo Miranda Soares, presidente da Fecombustíveis, cobrou do governo a adoção de algum mecanismo tributário que compense os maiores custos do S50: quase R$ 0,12 superior ao do diesel comum. A promessa era de que o preço não seria tão diferente (do diesel tradicional), mas não foi o que aconteceu. Com doze centavos de diferença, o caminhoneiro, que abastece de 400 a 500 litros de uma vez, paga sua diária: toma café, almoça, janta e dorme?, reclamou. Nós nos preparamos para receber o S50. Há 3 mil postos adequados, esperando aparecer algum veículo Euro 5 para abastecer. Estamos baixando o preço para desovar o produto e renovar os estoques em 30 dias, porque ele é mais sensível e pode se deteriorar no tanque?, completou.
Allan Kardec Duailibe Barros Filho, diretor da ANP, destacou que a chegada do S50 é um marco, mudando o perfil do diesel no Brasil. Já sabíamos que iria haver uma antecipação da compra de caminhões, pois todos os mercados enfrentaram isso. Mas estamos atentos ao que está acontecendo com a revenda?, afirmou. Segundo ele, as informações passadas até o momento pela Anfavea indicam que praticamente não há mais estoque de veículos com motor Euro 3.
Ricardo Hashimoto, diretor de Postos de Rodovia da Fecombustíveis, destacou que o combustível está disponível em todo o país e, graças ao seu desempenho superior, atraiu os proprietários de SUVs, que já costumavam abastecer com diesel aditivado. Em janeiro tivemos um efeito interessante, foi um período de degustação. O usuário comprovou que se trata de um produto muito melhor, gostou, mas não quer pagar R$ 0,15 a mais por litro, então vai esperar o preço melhorar?, disse.
De fato, os números mostram que a demanda por S50 pouco mudou em relação ao final do ano passado, quando o combustível era consumido obrigatoriamente nas regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza e Recife, e nas frotas urbanas de ônibus de algumas cidades brasileiras. De acordo com dados do Sindicom, as vendas de S50 por: BR Distribuidora, Ipiranga, Raízen e ALE totalizaram 254 mil metros cúbicos em dezembro de 2011, caíram para 240 mil metros cúbicos em janeiro, 237 mil em fevereiro, chegaram a 279 mil em março e fecharam abril em 274 mil metros cúbicos.
Onde está o caminhão?
Para o representante da Volvo para Assuntos Governamentais, Alexandre Parker, a falta de demanda pelos veículos novos não está relacionada apenas ao receio com a nova tecnologia de motores ou oferta do novo combustível, mas se deve especialmente ao desaquecimento da economia, mais forte do que o previsto. A Volvo produziu muito Euro 3, porque a demanda estava muito alta, mas viramos o ano com 200 caminhões em estoque, que foram vendidos em janeiro. Hoje, nosso estoque de Euro 5 na fábrica e na concessionária está alto. A discussão agora é onde colocar o caminhão, porque não tem mais espaço para estocar?, explicou. É claro que houve também pré-compra, porque o mercado foi informado das mudanças que seriam implementadas. Esta é a primeira vez que o Brasil sentiu isso de forma contundente. Estados Unidos e Europa sempre sentiram essa pré-compra nas mudanças de fase de emissões?, ressaltou. Parker acredita que as recentes medidas anunciadas pelo governo para impulsionar o setor automobilístico vão trazer novo fôlego para as vendas. 2012 será até 10% menos que 2011. Isso faz com que tenhamos um mercado igual ao de 2010, que foi excelente?, destacou.
Alísio Vaz, presidente-executivo do Sindicom, contestou as informações divulgadas na imprensa de que a baixa demanda pelos veículos Euro 5 estaria relacionada à ausência do produto nos postos. Só nas associadas ao Sindicom existem 2.526 postos vendendo S50. Roraima é o estado com menos postos ofertando o produto, apenas cinco, mas São Paulo tem mais de 300 postos e vários estados, como Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná têm mais de 200 postos. Essa informação de que não existe combustível no país é balela: existe sim e está bem distribuído no Brasil?, enfatizou.
O presidente da BR Distribuidora, José Lima Neto, reconheceu que, nas condições atuais, ainda não há racionalidade econômica? para que mais postos comercializem o produto. No dia em que houver vários caminhões e ônibus com motor Euro 5 circulando, eu tenho certeza que as distribuidoras serão chamadas a instalar novos tanques e fornecer mais combustíveis. Só que precisamos construir uma ponte até que o mercado aconteça?, afirmou.
Segundo ele, na BR, são realizadas, há quase um ano, reuniões periódicas sobre o novo diesel: quantos postos estão comercializando, quantas bases estão adaptadas etc. Se por um lado, o tempo vai ajudar a resolver (o descasamento entre oferta e demanda), por outro, ainda vai trazer alguns problemas. Por exemplo, quando os caminhões começarem a circular e aparecer no Jornal Nacional um veículo num lugar mais remoto do país, dizendo que não consegue abastecer. Não vai haver S50 em todos os postos; se tiver, o consumidor vai pagar mais caro, porque todo esse custo do produto estocado, da possibilidade de perder qualidade, vai ser repassado na ponta?, afirmou.
A incógnita do S10
Enquanto ainda se ajusta à chegada do S50, o mercado já se preocupa com a introdução do S10, que irá substituir o S50 a partir de janeiro de 2013. Com baixíssimo teor de enxofre, o S10 é ainda mais suscetível à contaminação e demanda tanques, dutos e caminhões segregados. O desafio para 2013 é como tratar o aumento natural de enxofre no diesel. S10 é um teor muito baixo. Para um país com dimensões continentais como o Brasil, 10 ppm é uma ousadia. Os Estados Unidos, por exemplo, utilizam S15, ou seja, deram uma tolerância de 50%. Muita gente séria acha que é impossível receber S10 e ter S10 no posto. Não tem jeito, ele vai ser contaminado e quem vai pagar o pato é o dono do posto?, advertiu o presidente-executivo do Sindicom, Alísio Vaz.
Frederico Kremer, gerente de Soluções Comerciais da Petrobras, endossou as preocupações em relação ao S10. Ele assegurou que a estatal irá entregar o combustível com 10 partes por milhão de enxofre, mas advertiu para a necessidade de se diferenciar uma adulteração de eventuais contaminações ocorridas ao longo do transporte. Esse é o dever de casa que temos na continuidade do trabalho de implementação do diesel de baixo teor de enxofre: esse é um ponto que precisa de análise porque o problema vai recair na revenda?, afirmou.
O desafio do Arla-32
Além do S50, um novo produto chegou aos postos em janeiro: o Arla-32. Trata-se de uma espécie de fluido, abastecido em tanque próprio e que é indispensável para a redução de emissão dos poluentes. Mas uma coisa ele tem em comum com o novo diesel: está encalhado nos postos.
Várias concessionárias estão distribuindo galões de Arla-32, até como forma de incentivar a compra de novos veículos. O grande problema para o posto é que o produto tem data de validade?, explicou o diretor de Postos de Rodovia da Fecombustíveis, Ricardo Hashimoto. Ele chamou atenção ainda para o elevado preço do produto, em torno de R$ 3 a R$ 5, por litro.
Segundo Lima Neto, presidente da BR Distribuidora, o que tem onerado o custo do Arla-32 é basicamente a embalagem e a logística, algo que deve se resolver à medida que o mercado ganhar escala e permitir, por exemplo, a venda a granel. Na Europa, o preço começou acima do diesel e convergiu com o tempo?, esclareceu.

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